Da quarentena surgiu um novo livro de Isabel Canha, jornalista e co-fundadora e diretora do site Executiva, que escreveu juntamente com a mãe, Carminda Canha, advogada já reformada. O livro já estava pensado quando Isabel Canha estava à frente da direção da revista “Exame”, mas o momento de escrita só se conseguiu propiciar durante a quarentena.
Ao Jornal Económico, a jornalista explica como surgiu a decisão de escrever o livro a quatro mãos, em conjunto com a mãe, a quem se destina o “Storytelling para Líderes” e o que ainda falta aos líderes das empresas portuguesas.
Do que trata o “Storytelling para Líderes”?
“Storytelling para Líderes” é um livro que reúne 18 histórias reais da História, das Artes, do Desporto e da vida empresarial, escolhidas pela sua mensagem poderosa e inspiradora. À história segue-se um comentário – um debriefing em que se contextualiza e se comenta o tema ou a mensagem da história -, e algumas citações ou aforismos que reforçam o conteúdo transmitido. Elas são antecedidas por um capítulo introdutório, que explana a importância do storytelling enquanto ferramenta de comunicação e liderança. Referimos vários casos de empresas que já perceberam que as histórias, os exemplos, uma imagem, são formas mais eficazes de passar a mensagem porque suscitam emoção. Causam mais impacto e são mais facilmente recordadas do que um discurso abstracto e pomposo
Como surgiu a ideia de reunir estas histórias?
A ideia surgiu com um editorial que escrevi para a revista “Exame”, de que fui directora de 2003 a 2012, sobre Florence Chadwick, em que contava como o nevoeiro a levara a desistir de uma prova que poderia ter facilmente concluído. Não via o objectivo, a linha da terra, e por isso desistiu. Esta história demonstra de forma muito eloquente que sem traçar objetivos dificilmente os atingiremos. Seguiu-se mais um ou outro editorial com histórias de reais, não ficcionadas, que me ajudavam a transmitir a mensagem que tinha em mente. Nessa altura, sempre que podia, comecei a escrever outras histórias quando com elas me deparava e percebia que expressavam ideias úteis para todos aqueles que fazem da Gestão a sua profissão.
Sentia que o storytelling é uma poderosa ferramenta para inspirar, provocar emoções e influenciar – tudo aquilo de que um líder necessita. Mas com outros projectos em mãos, entre os quais o lançamento do site Executiva.pt, tinha pouco tempo para me dedicar a estes textos. Acabei por ressuscitar a ideia durante o período de confinamento, provocado pela pandemia da Covid-19. No final desses meses, em que o abrandamento da atividade da minha empresa me deixou algum tempo livre e em que o recolhimento propiciou maior reflexão, o livro estava concluído. Com o patrocínio da Transearch, do Grupo Your e da KPMG, empresas que reconhecem a importância deste tema, a Redcherry publicou o livro.
Porque decidiram escrever o livro a quatro mãos?
Mal foi decretado o estado de emergência, com a imposição de confinamento obrigatório, a 18 de março, para a gestão da crise sanitária provocada pela Covid-19, fiquei muito preocupada com o isolamento da minha mãe (o meu pai faleceu há relativamente pouco tempo) e tentava animá-la, dar-lhe esperança e mantê-la ocupada. Incentiva-a a caminhar na passadeira, a reler os clássicos, a recordar os melhores filmes. Até que percebi que pedindo ajuda à minha mãe para pesquisar e escrever algumas histórias, a manteria ocupada durante os dias a fio em que não podia sair de casa, pois ela adora escrever e essa actividade torna-se para nós muito envolvente, preenchendo os nossos dias e até noites. Eu própria ganharia também incentivo para terminar este livro. Temos de saber tirar o melhor proveito das situações adversas – esta poderia ser a moral de uma das histórias do livro.
Não contando com Eu conto como foi, uma edição particular oferecida exclusivamente a familiares, este livro é a obra de estreia da minha mãe, Carminda Canha, a pessoa que, entre outras inspirações e lições, me ensinou a gostar de ler e de escrever. É dedicado à nossa família e, em especial, ao pai e avô Joaquim Domingos, que nos contava histórias.
A quem se destina a leitura deste livro?
Como o nome indica, “Storytelling para Líderes” destina-se, em primeira linha, a pessoas em funções de liderança, em cargos de chefia, seja na gestão geral, seja nos recursos humanos, no marketing, na comunicação. A qualquer gestor que queira melhorar enquanto pessoa e enquanto profissional. Mas as histórias são do foro da cultura geral e temos verificado que estão a atrair o interesse de muitas outras pessoas que trabalham, por exemplo, na área do coaching ou em associações e também de muitas outras que se sentem inspiradas por estas história para melhorar a nível pessoal
Que lições podemos retirar deste “Storytelling para Líderes”?
Neste livro, as histórias e as citações e aforismos que se seguem a elas permitem-nos tirar lições de vida, como a importância de encontrar um sentido para ela e de ter um propósito no trabalho; lições de eficiência pessoal, como saber gerir o seu tempo; lições de carreira, como adaptar-se a outras geografias e formas de fazer negócios; lições de liderança como ser visionário ou saber comunicar. Mas estas 18 histórias são apenas exemplos de narrativas verdadeiras que podem ser contadas para inspirar, informar, sensibilizar para uma mensagem. A mensagem principal do livro é que contar histórias é uma característica inerente à condição humana que os líderes não podem ignorar, pelo contrário, que devem saber usar.
Porquê apresentar este livro num momento de pandemia?
Este livro maturou durante quase uma década, mas é o produto final do confinamento imposto para a gestão da crise pandémica. Entre as muitas histórias identificadas por nós como potencialmente interessantes, seleccionámos aquelas que têm uma mensagem positiva, de esperança, de melhoria de nós próprios e do mundo em nosso redor. E nesse sentido são também o espírito do tempo da pandemia que vivemos. Esta é uma altura propícia a reflexões e mudanças.
O que ainda falta aos líderes em Portugal?
Embora tenham mudado muito nos últimos anos, a alguns líderes em Portugal ainda falta sentido de humor, alguma descontração e informalidade. A alguns deles falta ética, para exercerem as suas funções com honestidade, responsabilidade e sentido de missão. Felizmente também são uma minoria.
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