O próximo capítulo da história europeia joga-se não em França, com a remodelação que Macron irá fazer, não na Itália, com as confusões entre o governo e a Comissão Europeia sobre a política orçamental, nem no Reino Unido, com o Brexit e a independência da Escócia – no congresso do SNP houve quem defendesse a separação para evitar o ataque dos “Neanderthals moving to Scotland across the Border from the south.” Joga-se na Alemanha, onde há eleições na Baviera no domingo e no Hesse dia 28. As primeiras são particularmente importantes, pois está em causa a maioria absoluta da CSU de Söder face à subida da AfD.

Com efeito, desde julho a CSU tem obtido resultados maus nas sondagens, entre 33 e 40%, quando nas últimas eleições estaduais teve 47,7% e há 50 anos que não fica abaixo dos 40%. A AfD tem estado consistentemente acima dos 10%, o que a poderá transformar na terceira força, à frente do SDP, ultrapassado pelos Verdes. Surpreendente, se nos lembrarmos que, três décadas atrás, Franz Josef Strauss, seu líder histórico, dizia que nunca haveria na Baviera um partido democrático à direita da CSU.

Isto, claro, aceitando que a AfD é um partido democrático, depois de Gauland, seu homem forte, ter desvalorizado em junho os crimes do Nazismo ao dizer que, ao lado de mais de mil anos de história gloriosa, essa era da Alemanha foi porcaria de pássaro – Annegret Kramp-Karrenbauer respondeu-lhe que chamar porcaria de pássaro a 50 milhões de mortos era dar uma estalada nas vítimas da guerra.

Esta pressão da AfD, que em cinco anos conseguiu entrar no Parlamento federal e ser a terceira força nacional, à frente da oposição, levou a CSU a criticar a política de emigração de Merkel, com o ministro da Administração Interna Seehofer a encabeçar o movimento. Esta contestação, vinda do interior da coligação CDU/CSU, colocou em causa a sobrevivência do governo alemão e desgastou Merkel, obrigada a fazer cedências a Seehofer. Pelo seu lado, Söder terá dito em junho que o único chanceler que queria ter consigo na campanha era o austríaco. Mas o efeito lateral disto é que uma derrota na Baviera, que seria vista como uma derrota de Merkel e das suas políticas, será agora uma derrota de Söder e Seehofer. Que efeito isto teria em Merkel é uma questão em aberto, mas pode perfeitamente reforçar a sua posição interna, paradoxalmente fazendo-a ganhar com a sua derrota.

Para a Europa, poderia não ser má notícia. Uma vitória de Seehofer-Söder provavelmente reforçaria o sentimento nacionalista na Alemanha, e seria mais uma machadada na coesão da União. Acima de tudo, seria continuar a ter o clima de divisão e conflito que os eleitores (cidadãos) parecem condenar. E, para variar e citar Putin, na resposta a uma menina de 12 anos que lhe perguntou quem salvaria de morrer afogado, Erdogan ou Poroshenko, quando alguém se quer afogar é impossível salvá-lo.