O Presidente Trump acabou a sua visita à Europa. Participou na cimeira da NATO, visitou o Reino Unido e encontrou Putin em Helsínquia, naquilo que ficará conhecido como a tournée BBC, de Bully-Bully-Cringe. Ou seja, primeiro atacou os seus aliados da NATO, a quem acusa de não gastarem em Defesa 2% do seu orçamento, e portanto quer que gastem 4%, mais do que os EUA; depois disse a Theresa May que o seu soft Brexit, que lhe custou dois ministros, lhe custaria não ter acordos comerciais com os EUA, uma vez que a sua economia ficava permeável aos produtos europeus; finalmente, com Putin não só desvalorizou a interferência russa nas eleições americanas e na política europeia, esqueceu a Ucrânia e a Crimeia, passou uma esponja sobre Skripal, como amochou, só faltando voltar a pugnar pela reconstituição do G8.

Esta tem sido uma constante da linha de conduta de Trump, pôr em causa a rede de alianças, compromissos e instituições criadas no pós-guerra. Adaptando a frase antiga, com ele os EUA não têm princípios, apenas interesses, e só os seus. E é useiro e vezeiro de todo o tipo de argumentos, das meias verdades às completas mentiras – na segunda quinzena de junho (de 18 de junho a 2 de julho) terão atingido as 203, quatro vezes mais que as do período homólogo de 2017.

São cada vez mais notórias as suas posições antieuropeias. Primeiro, antialemãs – conta-se que tem uma fixação contra o número de BMW que circulam nas cidades americanas, e que o sentimento vem, comenta Bruno Le Maire, do avô Frederick, alemão, que Trump detestava. Depois, a guerra comercial com a Europa. Agora, o ataque a May quando ela está ferida, internamente (entre outras pérolas, Trump disse que Boris Johnson daria um excelente primeiro-ministro). Tudo isto só pode ser interpretado como uma tentativa de enfraquecer a União.

A cimeira com Putin foi uma aparente inutilidade, pois ambos sabiam que nada de relevante se iria passar. O relevante foi haver cimeira, poucos dias depois do procurador especial Robert Mueller acusar 12 agentes do GRU russo de interferirem nas eleições de 2016 e de muitos políticos – alguns do seu próprio campo, como McCain – lhe solicitarem que a cancelasse.

A cimeira serviu apenas um fim: quebrar o isolamento da Rússia. Mais, tem o custo real da perda da confiança que a Europa deposita(va) nos americanos, ao mesmo tempo que enfraquece a aliança de defesa criada em 1949. Mas Trump deliberadamente optou por fazê-la, sem que a América perceba porquê, o que abre a porta a todo tipo de explicações, um exemplo particularmente perturbador o dado na New York Magazine. Mas duma coisa Trump não se safa: reza o ditado “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.” Trump anda com Putin e Kim Jong-un.