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Telefone para tratar do carro? Não, tenho uma ‘app’

O futuro do automóvel de frotas e particulares está no “mobility as a service” em detrimento da propriedade. A opinião é dos vários líderes da indústria automóvel.
16 Fevereiro 2019, 12h00

Frotistas e marcas estão a disponibilizar ferramentas tecnológicas que permitem gerir grandes volumes de carros e respetivos contratos com um clique. E isto num mercado onde a concorrência aumenta com as cativas da marca (gestora detidas pelas marcas automóveis) a apostarem no renting como produto de suporte ao crescimento das vendas. O fenómeno é mais marcante em PME e particulares.

A transição para a mobilidade elétrica é o tema dos próximos anos para as frotas. A transição para os veículos elétricos sente-se mais nas grandes empresas, sendo que é consensual entre os fabricantes que não há suficiente resposta para a procura de ofertas alternativas a nível de elétricos ou híbridos. Um dado relevante para os gestores de frotas é que a transição energética não se faz apenas por questões ambientais, algo que acontecia há um ano, mas porque o TCO, ou Custo Total de Utilização, deste tipo de veículos estão cada vez mais próximos dos veículos tradicionais. E, por enquanto, as vendas dos 100% elétricos em Portugal não vão além dos 2% sobre o total das vendas automóveis em 2018. João Seabra, diretor geral da Kia Portugal, diz que as frotas “procuram eficiência e rentabilidade e como os veículos elétricos e híbridos plug-in têm grandes incentivos, isso ajuda na decisão racional do gestor da frota”.

O paradigma para as frotas está, para além da eletrificação, na alteração do modo de uso e da perspetiva social sobre o veículo elétricos ou plug-in híbrido. Exemplo disso são os negócios que as gestoras de frotas e as marcas têm vindo a criar com base no negócio do carsharing e do ride-hailing. Aliás, é convicção geral e João Seabra salienta esse facto, que irão aparecer novos conceitos de mobilidade ao longo dos próximos meses e anos. Diferente é perceber e provar a rentabilidade desses negócios, afirma o diretor geral da Kia Portugal. Os próximos 20 anos vão permitir passar de um conceito de propriedade para um conceito de ‘mobility as a service’. Ricardo Tomaz, da SIVA, questiona mesmo o conceito de frota que estará subjacente no futuro. Antecipa que o carsharing fará aparecer no mercado novos players e está convencido que se no futuro “não se venderão menos carro, mas que se venderão mais a clientes frotistas e menos a clientes particulares”. André Silveira, do grupo Daimler/Mercedes, está na mesma linha e exemplifica a opção do grupo alemão Daimler que se tornou um dos maiores fornecedores mundiais ao nível dos novos conceitos de mobilidade, “seja através de carsharing, mytaxi, a plataforma Moovel, ou outras”. Diz André Silveira, da direção de comunicação da MB, que o tema será relevante, “mas para já a sua expressão é ainda relativa”. O negócio do sharing significa para as vans da Mercedes “flexibilidade para responder a um aumento repentino de trabalho que implica necessidade de aumentar a frota num período curto”, afirma Mariana Cunha, da MB Vans. Antecipa que os clientes que realizem as entregas do e-commerce “vão solicitar este conceito de mobilidade aos operadores da indústria de viaturas comerciais”.

A alteração do conceito de mobilidade fez com que uma marca esteja a criar um conceito específico. A Jaguar Land Rover Portugal está a trabalhar numa solução, exclusiva para clientes dos elétricos Jaguar I-Pace que vai permitir o aluguer de um veículo a combustão para grandes viagens com tarifas low-cost. Na Volvo, o conceito de sharing já está instalado. Refere Nuno Silva, fleet sales manager, que o novo XC40 vem já de série com a possibilidade de ser partilhado através do telemóvel entre colaboradores. E acrescenta que “caberá à empresa fazer ou não uso desta nova tecnologia”. A Opel, através do diretor de comunicação, Miguel Tomé, sustenta a irreversibilidade dos elétricos e eletrificados, embora as vendas no mercado global ainda não tenham chegado aos 2% do total do ano passado.

Frotas sustentam as marcas

As marcas automóveis em Portugal estão claramente dependente das vendas a frotas de empresas e do rent-a-car, sustenta Ricardo Oliveira, diretor de comunicação da marca líder. Sustenta que os modelos elétricos e eletrificados entram cada vez mais nas opções de aquisição dos clientes. João Seabra, diretor geral da Kia Portugal, diz que existe um “aumento significativo de opção” pelos veículos eletrificados. Ricardo Tomaz, diretor na SIVA, salienta a importância das frotas em marcas como a Audi, onde o peso sobre o total das vendas chega aos 70%. E frisa que “as soluções dos eletrificados ainda não têm suficiente significado junto dos clientes finais. “Existe uma crescente sensibilização para a vantagem destas soluções de mobilidade em termos de ‘Total Cost of Ownership’, mas ainda é necessário resolver problemas, nomeadamente logísticos ligados ao carregamento das frotas, por exemplo”.

Do lado das vans da Mercedes e onde as frotas significam 70% do negócio, o tema da tecnologia é particularmente relevante. Diz Mariana Cunha, da direção de comunicação, que “esse é o ponto que está a ser valorizado pelos clientes”. A MB Vans avançou nesta área com a marca Mercedes PRO. A importância dos eletrificados e híbridos pode aferir-se pelo peso que uma marca premium consegue junto das frotas com este tipo de veículos. A BMW tem 10% das vendas com aquele tipo de viaturas. João Trincheiras, diretor da empresa em Portugal, diz que dentro dos novos conceitos de mobilidade, o corporate carsharing “apresenta um forte crescimento” e antecipa que nos próximos três anos o sharing será uma alternativa à mobilidade das empresas. A Lexus é uma empresa que sempre apostou nos híbridos e por isso está otimista. Nuno Domingues, diretor geral das Lexus Portugal, salienta a evolução dos Valores Residuais da marca em face dos principais concorrentes e em particular em face do diesel. Diz que as empresas verão com bons olhos as soluções flexíveis de mobilidade e destaca a plataforma TVDE. Ainda assim, frisa que “haverá sempre necessidades mais constantes em que a aquisição, via compra direta, leasing, AOV, da viatura será a forma mais racional de as suprir”.

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