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Tensões geopolíticas, ameaças cibernéticas e degradação ambiental: estes são os riscos mais temidos para 2019

A capacidade em promover ações conjuntas face às grandes crises urgentes atingiu níveis críticos, com o agravamento das relações internacionais que impedem uma ação face aos graves e crescentes desafios. Estas são as conclusões do Global Risks Report 2019 publicado hoje pelo Fórum Económico Global.
  • mundo
16 Janeiro 2019, 09h01

O Global Risks Report, que reúne os resultados anuais do estudo global de perceção de risco de aproximadamente mil especialistas e decisores, aponta para uma deterioração das condições económicas e geopolíticas. As disputas comerciais pioraram rapidamente em 2018 e o relatório alerta que o crescimento em 2019 será contido devido às continuadas tensões geoeconómicas, com 88% dos inquiridos a preverem o deteriorar das regras e acordos comerciais multilaterais.

Se os ventos económicos adversos representarem uma ameaça à cooperação internacional, os esforços serão ainda mais prejudicados em 2019 pelo aumento das tensões geopolíticas entre as grandes potências, de acordo com o relatório. Cerca de 85% dos inquiridos deste ano esperam que o ano de 2019 envolva o aumento dos riscos de “confrontos políticos entre grandes potências”. O relatório analisa os riscos associados descritos como uma ordem mundial “multiconcetual” – em que as instabilidades geopolíticas refletem não apenas mudanças nos equilíbrios de poder, mas também as crescentes diferenças em relação aos valores fundamentais.

“Com o comércio global e o crescimento económico em risco em 2019, a necessidade em renovar a arquitetura da cooperação internacional é hoje mais urgente do que nunca. Simplesmente, estamos sem força motriz para contrariar o tipo de desaceleração à qual a atual dinâmica nos poderá conduzir. O que precisamos agora é de uma ação coordenada e concertada para sustentar o crescimento e combater as graves ameaças que o nosso mundo enfrenta hoje”, refere Børge Brende, Presidente do Fórum Económico Mundial.

Na perspetiva a 10 anos apresentada pelo survey, os riscos cibernéticos consolidaram o salto e o destaque já registados em 2018, mas os riscos ambientais continuam a dominar as preocupações dos respondentes, a curto, médio e longo prazo. Todos os cinco riscos ambientais que o Relatório identifica estão novamente na categoria de alto impacto e de alta probabilidade: perda de biodiversidade; eventos climáticos extremos; fracasso na mitigação e na adaptação às alterações climáticas; desastres ambientais provocados pelo homem e catástrofes naturais.

Alison Martin, Group Chief Risk Officer do Grupo Zurich Insurance, afirma: “2018 foi, infelizmente, um ano de incêndios de dimensões históricas, constantes grandes inundações e aumento das emissões de gases de efeito estufa. Não surpreende que, em 2019, os riscos ambientais dominem mais uma vez a lista das principais preocupações. O mesmo acontece com a probabilidade crescente de falhas na política ambiental ou a falta de uma oportuna implementação dessa política. Para responder eficazmente às alterações climáticas, é necessário um aumento significativo da infraestrutura para se adaptar a esta nova situação e transitar para uma economia de baixo carbono. Até 2040, o gap de investimento numa infraestrutura global deverá atingir os 18 triliões de dólares contra uma necessidade estimada de 97 triliões de dólares. Face a este cenário, recomendamos fortemente que as empresas desenvolvam uma estratégia de adaptação à resiliência climática e atuem sobre ela de imediato”.

Os riscos ambientais também apresentam problemas para as infraestruturas urbanas e o seu desenvolvimento. Com o aumento dos níveis do mar, muitas cidades enfrentam soluções extremamente caras para problemas que vão desde a extração de água limpa subterrânea até as barreiras contra super tempestades. A escassez de investimento em infraestruturas críticas, como o transporte, pode levar a avarias em todo o sistema, bem como a exacerbar os riscos sociais, ambientais e de saúde que lhe estão associados.

John Drzik, Presidente de Global Risk and Digital, da Marsh, afirma: “O persistente subfinanciamento de infraestruturas críticas em todo o mundo está a dificultar o progresso económico, deixando as empresas e as comunidades mais vulneráveis tanto a ataques cibernéticos como a catástrofes naturais, não aproveitando o que a inovação tecnológica tem para oferecer. A alocação de recursos no investimento de infraestruturas, em parte através de novos incentivos para parcerias público-privadas, é vital para a construção e fortalecimento de alicerces físicos e redes digitais que permitam que as sociedades cresçam e prosperem.”

A nível individual, o declínio do bem-estar psicológico e emocional é tanto uma causa como uma consequência dentro do panorama global de riscos, impactando, por exemplo, a coesão social e a cooperação política. O Global Risks Report 2019 foca-se explicitamente no lado humano dos riscos globais, olhando particularmente para o papel desempenhado pelas complexas transformações globais que estão em curso: sociais, tecnológicas e laborais. O stress psicológico é um dos temas comuns retratados, estando relacionado com o sentimento de perda de controlo face à incerteza.

O relatório deste ano regressa ao conjunto de “Choques Futuros”, que reconhece que a crescente complexidade e a interligação dos sistemas globais pode levar a respostas contínuas, efeito de limiar e disrupção em escalada. Os cenários “e se” são fonte para reflexão, ao mesmo tempo que os líderes mundiais avaliam potenciais ‘choques’ que poderão rápida e radicalmente prejudicar o mundo. As falhas repentinas e dramáticas deste ano incluem indicações sobre o uso da manipulação do clima para alimentar tensões geopolíticas, computação quântica e afetiva e lixo espacial.

O Global Risks Report 2019 foi desenvolvido, ao longo do último ano, com o apoio do World Economic Forum’s Global Risks Advisory Board. Beneficia também de uma colaboração contínua com os seus parceiros estratégicos Marsh & McLennan Companies e Zurich Insurance Group, e dos consultores académicos da Oxford Martin School (Universidade de Oxford), da Universidade Nacional de Singapura e do Wharton Risk Management and Decision Processes Center (Universidade da Pensilvânia).

Top 5 Riscos por Probabilidade
1. Eventos Climáticos Extremos (por exemplo, inundações, tempestades, etc.)
2. Fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas
3. Grandes Catástrofes Naturais (por exemplo, terramotos, tsunamis, erupções vulcânicas, tempestades geomagnéticas)
4. Incidentes massivos de fraude/roubo de dados
5. Ataques cibernéticos em grande escala

Top 5 Riscos por Impacto
1. Armas de destruição em massa
2. Fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas
3. Eventos Climáticos Extremos (por exemplo, inundações, tempestades, etc.)
4. Crises de água
5. Grandes Catástrofes Naturais (por exemplo, terramotos, tsunamis, erupções vulcânicas, tempestades geomagnéticas)

Top 5 de Interconexões de Riscos
1. Eventos Climáticos Extremos + Fracasso na mitigação e adaptação às alterações climáticas
2. Ataques cibernéticos em grande escala + colapso de infraestruturas cruciais de informação e de redes
3. Nível elevado de desemprego estrutural ou subemprego + consequências adversas dos avanços tecnológicos
4. Nível elevado de desemprego estrutural ou subemprego + instabilidade social profunda
5. Incidentes massivos de fraude/roubo de dados + ataques cibernéticos em grande escala
6. Fracasso na governança regional ou global +conflitos interestatais com consequências regionais

Top 5 Tendências
1. Alterações climáticas
2. Crescente dependência cibernética
3. Aumento da polarização das sociedades
4. Crescente disparidade de rendimentos e na distribuição da riqueza
5. Ascensão do nacionalismo

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