O IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública realiza esta quarta-feira um leilão duplo de Obrigações do Tesouro a cinco e 10 anos, para angariar até mil milhões de euros. O objetivo é de repetir o sucesso do último leilão, realizado a 9 de maio, quando a agência colocou dívida das mesmas duas linhas – 724 milhões de euros com maturidade em outubro de 2023 e 483 milhões de euros com prazo de outubro de 2028, mas as condições no mercado mudaram nas últimas semana e o Tesouro deverá ser obrigado a pagar taxas mais altas.
“O leilão deverá correr sem problemas, mas Portugal vai ter de pagar mais, porque a situação em Itália acabou por alargar um pouco os spreads e os prémios de risco da periferia da zona euro, quer seja para Portugal, para Espanha ou Grécia. Por isso o que vai acontecer é que vamos pagar taxas ligeiramente superiores às dos leilões recentes,” afirmou Filipe Silva, diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa,
No leilão a 9 de maio, o IGCP pagou uma taxa de colocação de 0,529% na maturidade mais longa e de 1,67% no prazo mais longo. No mercado secundário, a yield da dívida benchmark portuguesa, ou seja, a 10 anos, nessa altura negociava ligeiramente acima dos 1,70%.
Nas últimas semanas essa taxa tem subido, principalmente devido à incerteza política em Itália e à formação de um Governo de coligação entre o movimento anti-sistema 5 Estrelas e o partido de extrema-direita Liga. Esta terça-feira, a yield da dívida portuguesa a 10 anos fechou nos 1,99%, tendo chegado a tocar nos 2,19% a 29 de maio.
Filipe Silva salientou, no entanto, que “versus o que o mercado tem feito (mesmo em termos de alguma dívida de empresas e papel comercial) tem havido muita procura, portanto não antecipo qualquer problema”.
Questionado se poderá haver algum nervosismo por parte dos investidores pelo facto de o leilão ocorrer na véspera de uma reunião do Conselho de Governadores no qual será iniciado o debate sobre o desmantelamento do programa de compra de ativos do Banco Central Europeu, o gestor respondeu que ainda é cedo para esse tipo de reação.
“Se isso fosse acontecer seria só se os estímulos fossem logo acabar e estaríamos a falar de possíveis agressivas subidas de taxas de juro, e aí sim o leilão poderia ter mais algum risco, mas não acredito nisso, e em qualquer caso irá se realizar antes da reunião”, concluiu.
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