Pouco tempo depois, num ato de auto-paródia, May subiu ao palco do congresso dos Conservadores a dançar ao som de um hit dos ABBA… Dancing Queen. Independentemente dos benefícios que possa ter retirado do gesto humorístico, uma faceta da personalidade da líder britânica ficou aparente: não tende a desistir, mesmo contra tudo e contra todos.

A teimosia tem de fazer parte do ADN de qualquer político que queira chegar e permanecer no poder. Num sistema complexo, como o do Reino Unido, é um fator chave, como demonstraram Sir Winston Churchill e a Baronesa Margaret Thatcher.

Infelizmente, foi essa mesma obstinação que levou à queda do poder desses líderes. Após ter ganho a guerra, Churchill foi rejeitado pelos eleitores, enquanto Thatcher sucumbiu a um golpe vindo do seu próprio partido. Mais recentemente, a insistência sobre a guerra do Iraque levou Tony Blair à porta de saída de 10 Downing Street e David Cameron teve de se demitir após ter sobrevalorizado a possibilidade do Remain vencer no referendo ao Brexit.

Theresa May herdou esse pesado fardo, que seria complicado para qualquer líder. Conduzir um processo de rutura com parceiros de décadas iria sempre ser difícil, especialmente no contexto de um país, partido e governo altamente divididos.

A primeira-ministra britânica primeiro anunciou um hard Brexit que parecia reunir consenso no partido. Depois entrou na espiral de teimosia, infelizmente. Convocou eleições antecipadas e inesperadas para aumentar a maioria, mas acabou por ver essa maioria reduzida.

Em julho, May tentou forçar o Governo a aceitar um plano tão ambíguo que acabou por perder aliados como Boris Johnson e David Davis. Agora quer impor um acordo final para apresentar a Bruxelas, mas causou novas desistências da sua equipa, incluindo a de Dominic Raab, que havia substituído Davis à frente das negociações.

Apesar desse êxodo, a primeira-ministra manteve-se firme esta quinta-feira. May utilizou palavras de ameaça, dizendo que se o acordo não for aprovado, o resultado será uma profunda e grave incerteza. Sublinhou ainda que o acordo é o melhor para o país e para toda a população britânica, o que dado o estado fragmentado do país, parece algo exagerado.

Mas o ritmo da crítica interna não pára de acelerar e May poderá ter de enfrentar uma eventual moção de censura, caso 48 deputados do próprio Partido Conservador a pedirem e, em qualquer caso, terá de tentar fazer passar um acordo que nem o negociador principal apoiou.

A líder britânica poderá até acreditar que sabe dançar, mas a grande questão é se tem jogo de cintura suficiente para o que aí vem.