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Theresa May ganha as eleições e uma enorme dor de cabeça

Primeira-ministra troca uma maioria absoluta por uma maioria relativa. Jeremy Corbyn, líder dos Trabalhistas, agradece. E Jean-Claude Juncker também. No limite, é a sua posição de líder do governo que está agora em jogo.
8 Junho 2017, 22h45

As eleições britânicas – de onde vai resultar um Parlamento maioritariamente Conservador, mas sem maioria absoluta – arriscam entrar nos anais da política europeia como um exemplo do que não fazer: Theresa May trocou uma maioria absoluta por uma maioria relativa, atirando borda fora não apenas uma posição interna invejável, como um situação confortável em termos do debate com os parceiros da União Europeia no que tem a ver com o Brexit.

Os sintomas de que Theresa May pode ter feito, sem que nada a isso a obrigasse, um enorme erro político, avolumaram-se a partir do momento em que o tema do Brexit foi completamente secundarizado pela questão da segurança interna, decorrente dos dois ataques terroristas ocorridos em solo britânico durante a campanha eleitoral.

O líder dos Trabalhistas, Jeremy Corbyn, manobrou os efeitos colaterais dos atentados de forma certeira: impôs a questão da segurança interna como um tema central das eleições e desviou as atenções do Brexit. Foi uma estratégia que não apanhou ninguém de surpresa: antes dos atentados, Corbyn já vinha tentando acrescentar à agenda da campanha outras matérias que não o Brexit, nas quais a primeira-ministra dava mostras de estar bem menos à vontade. Ao contrário, Theresa May quis passar a ideia de que as eleições serviriam apenas para reforçar a maioria absoluta dos Conservadorers, na tentativa de viajar para Bruxelas, no segundo semestre, com a carteira cheia de certezas e da vontade de os britânicos saírem d União Europeia com um acordo que lhes fosse favorável.

Saiu-lhe tudo ao contrário. Com as primeiras projeções a darem os Conservadores 314 lugares em vez de 331 e aos Trabalhistas 266 em vez de 232, a primeira-ministra terá muito provavelmente que regressar ao entendimento com o Partido Liberal Democrata, que inesperadamente passa de oito para 14 lugares. Ou seja, e tal como David Cameron a quando da sua primeira vitória, May regressa à necessidade de uma coligação para conseguir governar. O que é o mesmo que dizer que deixará de contar apenas consigo própria, ou apenas com o seu partido, para gerir o governo britânico.

Com o que Theresa May poderá também contar é com o aprofundamento do radicalismo de Jeremy Corbyn: ao contrário do que afirmaram vários comentadores e muitos dos seus correligionários, os eleitores não penalizaram os Trabalhistas por o partido ter derivado para a esquerda depois da saída de Ed Milibrand. Tudo leva a crer que o reforço do número de deputados Trabalhistas levará Corbyn não só a não abandonar os seus gostos radicais, como a reforçá-los – o que só pode ser mau para a primeira-ministra.

No meio do desastre, a única boa notícia para Theresa May parece ser a enorme perda de deputados do Partido Nacional Escocês, que deverá passar de 56 para 34 lugares, o que poderá indicar que a vontade independentista da Escócia não estará a passar pelo melhor momento – ao contrário do que diziam os analistas.

 

A frente europeia

Quem com certeza não terá deixado de esboçar um enorme sorriso quando às 22 horas locais foram divulgadas estas projeções terá sido Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia. A derrota de Theresa May é também uma derrota na frente das discussões, prestes a começar, para a saída do Reino Unido do agregado da União Europeia. É uma evidência: a Comissão Europeia ter à sua frente – para discutir dossiers necessariamente muito difíceis – alguém que acaba de averbar uma derrota, ainda por cima desnecessária (o que revela uma capacidade de projeção frágil), não é o mesmo que ter alguém que acaba de sair vitorioso.

Parece evidente que as declarações oficiais dos ainda parceiros europeus não irão no sentido de salientar ou enfatizar este facto, mas não é possível imaginar-se que a derrota de Theresa May não esteja no pensamento de todos os que vierem a fazer parte dos grupos de análise do Brexit.

No limite, a derrota averbada pela primeira-ministra também não será boa para a continuação da mudança estratégica que Theresa May vinha ensaiando na frente internacional. Será de recordar que a líder britânica foi a primeira chefe de governo europeia a ser recebida na Casa Branca pelo novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a primeira a visitar o presidente turco, Recip Erdogan, em Ancara depois da tentativa de golpe de Estado de Julho passado. Theresa May e Londres ensaiaram tornar-se uma espécie de via alternativa a Angela Merkel e Berlim – estratégia que agora, necessariamente, vai perder força.

E ainda falta a avaliação de outa questão: terá Theresa May condições políticas para manter-se como primeira-ministra? Lá mais para a frente se verá.

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