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Theresa May prepara-se para mais um dia difícil (desta vez no Parlamento)

As contas sobre a votação no Parlamento estão longe de serem claras: entre conservadores que votarão contra a proposta de May e unionistas que farão outro tanto, a maioria da primeira-ministra pode ser demasiado curta. Se perder, o Brexit segue sem acordo. A União Europeia quer uma cimeira a 25 de novembro.
15 Novembro 2018, 09h15

Mais uma prova de fogo – a derradeira e de algum modo a mais importante – espera esta quinta-feira a primeira-ministra britânica Theresa May, quando for a Parlamento apresentar o acordo com a União Europeia para o Brexit e esperar que a votação final lhe seja favorável. Para trás ficaram milhares de horas de negociações entre as duas partes, que culminaram em cinco horas de debate, ontem, na intimidade de uma reunião com os membros do seu governo.

A demora imprevista – que inviabilizou a presença de May no Parlamento e a sua transferência para o dia de hoje – clarifica cabalmente o que já se sabia: o acordo está longe de ser consensual e, a acreditar em relatos da comunicação social, cujas fontes parecem nem sempre ser totalmente credíveis, a primeira-ministra teve que negociar os pontos mais importantes de forma tenaz.

Seja como for, e depois de muitas peripécias – entre as quais a convocação e desmarcação de uma conferência de imprensa que não era do agrado dos deputados – Theresa May passou a primeira parte da prova final. Para hoje, espera-se um debate acalorado mas que, no essencial, pouco trará de novo: os temas e as opiniões sobre eles são sobejamente conhecidos. Resta saber-se qual será o ‘score’ final, sendo certo que, se o Parlamento não aprovar o acordo que está em cima da mesa, o Brexit seguirá pela via da linha dura.

As contas são difíceis de fazer, uma vez que é certo que um número não definitivamente conhecido de elementos do Partido Conservador e possivelmente vários dos unionistas irlandeses (DUP) vão votar contra May, o que poderá baralhar as contas. Mas, desta vez, há pelo menos uma certeza: se o acordo for reprovado, os britânicos já não irão entreter-se com mais notícias sobre as peripécias das negociações: elas ficarão automaticamente fechadas.

Uns quilómetros a sul, em Bruxelas – onde se prepara uma cimeira sobre o Brexit para 25 de novembro, o dia foi de expectativa distante: os embaixadores da União estiveram reunidos e no final Michel Barnier, o chefe da equipa que negociou o acordo por parte do agregado, disse algumas palavras que pareceram mais de circunstância que outra coisa. É que Londres já estava a arder sem que Bruxelas precisasse de atiçar ainda mais o fogo. Mas o FMI não foi tão fleumático: ontem mesmo, esclareceu que um Brexit não negociado acabaria com cerca de 6% do PIB. Ao final do dia, com certeza que todas as dúvidas ficarão esclarecidas.

O que dizem Theresa May e o seu principal opositor, Jacob Rees-Mogg, sobre o acordo?

  • Jacob Rees-Mogg
    Primeiro, o acordo envolve um gasto de 39 mil milhões de libras (45 mil milhões de euros) para receber “pouco ou nada em troca”, disse. Depois, o acordo trataria a Irlanda do Norte de forma diferente do resto do Reino Unido. Em terceiro lugar, o acordo transformaria o Reino Unido numa zona de união aduaneira da EU, sob leis da UE. E finalmente manter o Reino Unido vinculado às regras da união aduaneira contradiz o que estava no manifesto conservador de 2017, o que seria “profundamente antidemocrático”.
  • Theresa May
    Repete que é o melhor acordo possível e que acredita nisso com todo o coração, sendo incerto que os britânicos acreditem piamente na sua primeira-ministra. Além disso, May considera que, depois de conseguir a aprovação no Parlamento, ainda haverá muito trabalho pela frente. E escuda-se em dois pontos do acordo com Bruxelas (que tem mais de 500 páginas) para assegurar que os interesses do Reino Unido estão salvaguardados. São eles os seguintes: “Qualquer litígio sobre o acordo que envolve a interpretação do direito da UE será resolvido pelo Tribunal de Justiça europeu (TJCE), e não pelo painel de arbitragem que está a ser constituído para resolver outros litígios decorrentes do acordo”; e “A União e o Reino Unido esforçar-se-ão em concordar com a interpretação e aplicação do acordo e farão todos os esforços de cooperação e consulta para encontrarem uma plataforma mútua em relação a qualquer assunto comum”. Resta saber se são suficientes.
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