A Itália ressuscitou os receios dos investidores quanto à capacidade da zona euro conseguir gerir as diferenças ideológicas orçamentais e os impactos na recuperação económica.

Aristóteles afirmava que para uma boa tragédia é necessária a conjugação de três factores, personagens com altos cargos, linguagem diferenciadora e um final trágico. A zona euro arrisca-se a reunir todas estas condições e a tornar-se num desastre. A Itália, um dos países fundadores da CECA, que deu origem à CEE, tem agora a maior dívida pública em valor nominal e ninguém parece estar interessado em resolver o problema.

O sector financeiro italiano, asfixiado com crédito malparado, nunca procurou soluções que assegurassem a sustentabilidade do pagamento das dívidas, tornando-se agora num obstáculo ao crescimento da economia e financiamento de projectos viáveis.

A zona euro nunca assumiu a luta contra o crédito malparado, preferindo a intervenção directa dos Estados, protegendo o BCE e o próprio orçamento europeu das perdas levadas a cabo pelas intervenções sucessivas, que custaram milhares de milhões de euros aos contribuintes europeus. Por outro lado, uma das explicações possíveis para a iliteracia financeira, especificamente que a população em geral ainda não tenha percebido o perigo do excesso de crédito, é o facto da linguagem utilizada ser de difícil compreensão, ambígua, e de existir um interesse em manter o sistema financeiro a produzir dívida.

Itália deve aproximadamente 2,4 biliões de euros, tornando-se num país sistémico, ou seja, com impacto em todo os países do euro. Os italianos sabem disso e o governo está a jogar com a impossibilidade do BCE deixar Itália falir. O problema reside no facto de a penalização aplicada pelos investidores derivada da incerteza superar o esforço pedido no orçamento.

A título de exemplo, uma subida de 0,5% em toda a curva de juros italianos representa um custo adicional de 0,65% do PIB. Ou seja, existiria um incentivo para cumprir um défice orçamental que mantivesse a confiança, sendo Itália recompensada até com juros mais baixos, como aconteceu com Portugal. Ao mostrar que pretende implementar um orçamento “à la Trump”, expansionista e sem olhar a restrições, o governo italiano esquece-se que perdeu a sua independência monetária há 18 anos.

Portugal optou pelo segundo caminho, ou seja, cumprir e ser beneficiado pelo mercado, num momento em que o BCE retira os estímulos monetários. No entanto, continua a existir um perigo latente, que reside no excesso de endividamento das famílias, nomeadamente crédito à habitação e crédito ao consumo. A maior parte deste crédito é concedido em taxa variável, com as consequências que sabemos quando as taxas de juros iniciarem a sua subida. Este motor que agora alimenta o crescimento do PIB pode ser o primeiro a travar, caso as famílias e as empresas sejam confrontadas com uma diminuição do poder de compra.

Iremos entrar no último acto desta tragédia. Será necessária responsabilidade e pro-actividade para impedir que o nacionalismo impere e deite abaixo um projecto único de paz.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.