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Travagem da inflação nos EUA pode acalmar Wall Street. Mas por quanto tempo?

Em épocas de turbulência nos mercados, há sempre um dado-chave, um indicador, uma decisão para o qual os mercados olham com a esperança que traga motivos para acalmar os nervos. A divulgação dos dados da inflação de janeiro nos Estados Unidos esta quarta-feira é um desses momentos.
  • Reuters
14 Fevereiro 2018, 07h25

Abalados por repentinas quedas nos índices e um surto da volatilidade desde o início do mês, quase todos os analistas e investidores tanto em Wall Street como nos principais mercados globais vão estar de olhos postos nos dados do Indíce de Preços no Consumidor (IPC) a serem publicados pelo Labour Department às 13h30 desta quarta-feira.

A expetativa é de um ligeiro desacelerar da subida dos preços na maior economia do mundo, algo que a confirmar-se poderá trazer alguma calma aos mercados.

O consenso das estimativas dos economistas consultados pela agência Bloomberg aponta para inflação mensal de 0,3% (face a 0,1% em dezembro), mas a inflação subjacente, excluindo bens alimentares e combustíveis, deverá desacelerar para 0,2% de 0,3%.

Em termos da inflação anual, a previsão é de uma desaceleração para 2,1% de 2% na inflação geral e para 1,7% de 1,8% na subjacente.

Inflação na mira de Powell

Nas antevisões de início de ano, a inflação já tinha sido identificada pela maioria dos analistas como o indicador-chave a monitorizar em 2018, mas os eventos das últimas duas semanas vieram exacerbar a importância destes dados.

Após um ano de ganhos fortes e uma entrada fulgurante em 2018, a queda repentina das bolsas norte-americanas no final de janeiro foi provocada por dados fortes do mercado do trabalho, especialmente no que refere à subida dos salários, e por um aumento das yields das obrigações soberanas. Estes dois fatores criaram receios que a Reserva Federal possa acelerar o aumento das taxas de juro, forçando um aumento do custo do financiamento das cotadas e oferecendo maior concorrência das obrigações (mais rentáveis) às ações.

Para a Reserva Federal (Fed), a estabilidade dos preços não é apenas um dos indicadores a ter em consideração, é uma das duas partes do mandato do banco central, a par do pleno emprego, conforme frisou o novo presidente da instituição, Jerome Powell, na cerimónia de tomada de posse, em Washington, esta terça-feira. O objetivo da Fed é levar e manter a inflação nos 2%, e quase toda a política monetária, incluindo o aumento de taxas é focada nessa meta.

“Os preços no consumidor e as vendas a retalho, que também vão ser divulgadas quarta-feira, poderão atenuar os receio sobre o ‘apertar da política monetário nos EUA, pelos menos temporariamente”, referiu Stefan Scheurer, diretor de Global Capital Markets na Allianz Global Investors (GI).

Efeito temporário?

A peça central aqui é se o alívio irá ser temporário, pois deverá haver nuances nas causas do abrandamento da inflação especificamente em janeiro e, especialmente, porque a previsão continua a ser de uma subida gradual nos próximos meses.

“As notícias vindas dos EUA esta semana poderão acabar por apoiar os ativos de risco, com a inflação algo suave enquanto o cenário de crescimento económico permanece muito bom”, explicou James Knightley, economista-chefe internacional da ING.

Frisou no entanto, que a previsão de uma desaceleração na inflação homóloga deve-se apenas ao facto de não se esperar uma repetição do aumento dos preços no transporte aéreo e no lazer que teve lugar em janeiro do ano passado.

“A fraqueza do dólar, que está a impulsionar os preços das importações, e o aumento do poder empresarial na definição dos preços significa que prevemos que a inflação geral volte a ultrapassar os 2% em fevereiro”, concluiu Knightley.

Pressões em debate

O debate sobre a pressão inflacionária está ao rubro nos Estados Unidos. “A narrativa sobre a inflação estar a ficar fora do controlo não tem grande força. Não vejo qualquer sinal de pressões inflacionárias”, vincou David Kelly, estrategista chefe na JP Morgan Asset Management.

Em sentido contrário os economistas da Citi afirmaram, numa nota de research citada pelo Financial Times, que esperam “um ritmo forte [na inflação] com potencial para prolongar a tendência de aumentos nas taxas de juro e de descidas nas cotações das ações”.

A Fed deverá fazer três aumentos nas taxas de juro este ano, segundo o consenso do mercado, mas o ritmo poderá ser afetado pela percepção do banco central sobre a inflação.

“Vemos a inflação mais como uma não-questão do que como uma questão, mas poderá ser um problema se o medo da inflação provocar um erro por parte do banco central”, sublinhou Bob Prince, co-Chief Investment Officer da Bridgewater, ao FT.

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