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Trump criticado por comparar ‘impeachment’ a linchamento

O presidente norte-americano está, novamente, a gerar controvérsia e a ressuscitar as acusações de racismo e ignorância. No Twitter, Donald Trump afirmou ser uma vítima do processo de destituição e comparou-o a um linchamento.
23 Outubro 2019, 13h49

Donald Trump recorreu ao Twitter para criticar os democratas face ao processo de destituição (impeachment) que decorre a contra a sua presidência.

Na rede social, o presidente norte-americano comparou o inquérito de destituição,  um processo parlamentar consagrado na Constituição norte-americana, a um linchamento, uma prática comum racista nos Estados Unidos no século XIX e primeira metade do século XX.

 

“Se algum dia um democrata se tornar presidente e os republicanos ganharem a Câmara dos Representantes, mesmo por uma margem escassa, eles podem destituir o presidente sem o processo devido ou justo ou qualquer disposição legal. Todos os republicanos devem recordar o que estão a testemunhar aqui – um linchamento. Mas nós vamos GANHAR!”, escreveu Trump na rede social Twitter.

Face a esta equiparação, os democratas mostraram indignação e reagiram na mesma rede social. Bobby L. Rush, congressista negro e democrata eleito pelo Ilinóis, pediu a Trump que apagasse a sua mensagem na rede social Twitter. “Sabe quantas pessoas como eu foram linchadas, desde o início deste país, por pessoas que se parecem consigo. Apague este tweet”, começou por afirmar.

O senador democrata Doug Jones, eleito pelo Alabama, reagiu à mensagem de Trump: “Não, senhor! Não @realDonaldTrump: isto [processo de destituição] não é um linchamento e deve ter vergonha de invocar um ato tão horroroso que foi usado como arma para aterrorizar e assassinar afro-americanos”.

O único senador negro republicano, Tim Scott, da Carolina do Sul, concordou com a disposição de Trump, mas não com a sua escolha de palavras.

“Não se discute que o processo de destituição é a coisa mais próxima de um julgamento para corredor da morte, pelo que entendo a sua rejeição absoluta do processo”, afirmou Scott, que acrescentou: “Eu não usaria a palavra linchamento”.

Em defesa de Donald Trump, o senador republicano Lindsey Graham declarou aos jornalistas, esta terça-feira, que o processo de distituição trata-se, de facto de “um linchamento em todos os sentidos”.

“O que significa linchamento? É quando uma multidão agarra em alguém, sem lhes dar uma hipótese de se defender, eles não dizem o que é que aconteceu, apenas destroem a pessoa”, comentou indignada. “É exatamente isso que está a acontecer na Câmara dos Representantes nos EUA, neste momento”.

Mas as coisas não são bem assim.

Os linchamentos, por hábito enforcamentos, foram feitos predominantemente por homens brancos contra homens negros, na sua maioria no sul dos EUA, desde o final do século XIX, por entre crescentes tensões raciais.

Ao comparar a sua eventual destituição a um linchamento, Trump está também a comparar os democratas a uma multidão que procura linchar alguém. Segundo dados históricos, cerca de 4.743 mil pessoas foram vitimas deste crime entre 1882 e 1968; a grande maioria deles – 3.446 – foram linchamentos de americanos negros.

Malinda Edwards, cujo pai foi linchado por membros do Ku Klux Klan (KKK), no Alabama, em 1957, considerou “inacreditável” o ‘tweet’ de Trump.

“Ou ele é muito ignorante ou muito insensível ou muito racista e apenas não quer saber”, disse Edwards, de 66 anos, natural de Dayton, no Ohio. O seu pai, Willie Edwards Jr., foi obrigado a saltar de uma ponte de rio por membros do KKK que ouviram dizer que ele tinha sorrido para uma mulher branca. O nome de Edwards está agora entre os constantes de um memorial em Montgomery que homenageia mais de quatro mil vítimas de linchamento.

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