They don’t have a clue!”. O objeto de mais um tweet furioso de Donald Trump poderia ter sido qualquer um dos seus alvos preferidos – os media, os democratas, a China, o México, os ambientalistas. Neste caso, foi outra ‘‘vitima’ favorita do presidente norte-americano – a Reserva Federal (Fed).

O tweet, publicado na passada segunda-feira, é mais uma prova que o presidente está decidido a vencer mais uma frente de batalha – a de forçar o banco central a cortar as taxas de juro.

Após ter nomeado Jerome Powell para substituir Janet Yellen na liderança da Fed, em novembro de 2017, Trump permitiu ao banqueiro central um período de graça, no qual a Fed até conseguiu aumentar as taxas três vezes.

Powell, sabendo ao que vinha, já na cerimónia de nomeação murmurou umas palavras sobre a necessidade de independência do banco central. Mas, tal como na história do sapo e do escorpião que o pica após ter prometido que não o faria, a beligerância de Trump é uma inevitabilidade, uma mera questão de tempo.

Em julho de 2018, iniciou uma série de ataques, questionando as decisões da Fed de aumentar as taxas em vez de as baixar. Até ao final do ano passado, Trump fez 14 críticas públicas à Fed, em entrevistas ou em tweets. Em dezembro, apesar da pressão crescente do presidente (incluindo a admissão de dúvidas sobre a escolha de Powell), a Fed aumentou as taxas de juro. Perante o conflito, as bolsas reagiram em queda abrupta. A Bloomberg noticiou que Trump considerou despedir Powell, mas cedo percebeu que não o pode fazer.

Frustrado, o presidente escreveu que a Fed é o grande problema da economia e que os decisores do banco central não percebem o mercado, as guerras comerciais, o dólar forte ou os shutdowns governamentais. “São como um golfista potente mas que não tem toque suave para o putt”.

No meio disto tudo, Powell vai tentando manter a independência “para fazer a coisa certa” (como disse em dezembro), mas não está a conseguir. Além da pressão verbal, Trump está a pressionar a Fed através dos actos.

A guerra comercial com a China está a causar um abrandamento da economia global, algo que já levara a Fed a afirmar que irá ser paciente nas subidas das taxas. A mais recente escalada no conflito abalou as bolsas mundiais e levou Powell a dizer que a Fed vai agir de forma apropriada, algo que foi interpretado como sinal de que um corte nas taxas estará iminente.

É impossível perceber se Trump lançou a guerra comercial com vista a pressionar a Fed, ou se essa pressão faz só parte da estratégia no conflito. Em qualquer caso, o presidente americano parece estar a conseguir aquilo que os chineses dizem muitas vezes: “win-win”. Nessa dupla vitória, há um perdedor claro – a independência da Fed. Deste lado do Atlântico, Mario Draghi tem dito que a credibilidade do BCE assenta na sua independência.

Há uma década essa era a visão consensual, que os bancos centrais não deviam ser subordinados aos políticos. A necessidade de reagir à crise acabou por dar poder adicional aos bancos centrais, como o ‘Quantitative Easing’ e taxas de juro negativas. Esses poderes reabriram o debate sobre o papel dos bancos centrais, sobre as consequências dessas políticas monetárias na divisão da riqueza e na proteção contra crises futuras.

Tudo isso pode, e deve, ser discutido de forma saudável. O problema é que as tiradas de Trump contra a Fed não demonstram esse pensamento desenvolvido, mostram apenas o habtual populismo, autocracia e auto-interesse.