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Tudo o que precisa de saber para investir em ações

O investimento não é imune ao risco, mas pode-se mitigá-lo. Dos fundos à plataformas online, investir em ações pode ser para todos.
  • An official holds a bag with the euro logo during a eurozone finance ministers meeting in Brussels, Belgium May 22, 2017. REUTERS/Francois Lenoir – RTX371AZ
20 Janeiro 2019, 20h00

“Regra nº1: Nunca perder dinheiro. Regra nº2: Nunca esquecer a regra nº1”. São estas, entre outras, as duas regras de ouro que o investidor mais famoso do mundo, o norte-americano Warren Buffett, seguiu ao longo da carreira. Com uma fortuna superior a 80 mil milhões de dólares, desmistificou a ideia que ‘jogar em bolsa’ equivale a apostar dinheiro na casino. Investir em ações não é um jogo de sorte ou azar.

“Uma ação é um título representativo do capital social de uma empresa que concede aos detentores, chamados acionistas, alguns direitos de propriedade”, explicou o analista e senior manager da corretora online XTB, Pedro Amorim.

Os direitos e deveres dos acionistas estão consagrados na lei e são “ ajustados às circunstâncias e à realidade de cada empresa”, disse a diretora de admissões da Euronext Lisbon, a bolsa de Lisboa, Filipa Franco, podendo consistir em direitos de voto sobre o rumo da empresa em que se investiu. Mas o investimento em ações oferece outras vantagens.

1. Ações vs. Obrigações

“Tratam-se de aplicações bastante distintas e que se destinam a aforradores com perfis e horizontes temporais de investimento diferentes”, frisou Nuno Santos, administrador executivo da Optimize Investment Partners, uma sociedade gestora independente portuguesa.

No caso das obrigações, que uma empresa emite para angariar ‘capital alheio’, como explica Amorim, a “rentabilidade é baseada no cupão, o juro pago pelo empréstimo obrigacionista”, com um risco reduzido.

Já as ações “dão lugar a dividendos”, referiu Nuno Santos. No entanto, “a distribuição de dividendos depende da política da empresa”, frisou Amorim, e que constitui um risco para o acionista. Por isso, “teremos de ter em consideração outra componente: a valorização do preço da ação”, explicou o senior manager da XTB. Por sua vez, a valorização do preço da ação dependerá da projeção do aumento das receitas de uma empresa no futuro ou na diminuição dos custos”. Neste caso, o acionista pode vender as ações, obtendo uma mais-valia (ver página 3).

Comparando com o investimento em obrigações, investir em ações encerra vantagens “evidentes”, sublinha Filipa Franco, porque permitem, desde logo,“a diversificação das aplicações das poupanças e investimentos”.

Do lado das empresas e, por consequência, do desenvolvimento económico, o investimento em ações “é essencial (…) para promover novas formas de financiamento à economia”, salientou Filipa Franco. “Uma comunidade de investidores mais ativa e com maior relevo na nossa economia teria um contributo relevante na própria diversificação das fontes de financiamento da nossa economia, robustecendo dessa forma a capacidade de financiamento e de investimento do tecido empresarial nacional”.

De resto, os três especialistas financeiros sublinham que no contexto atual de taxas de juro reduzidas, o investimento obrigacionista oferece menos rentabilidade que o investimento em ações. Mais:“a história demonstra-nos que a longo prazo as ações são a classe de ativos mais rentável superando também as obrigações”.

De ressalvar que, “numa mesma empresa, investir em ações é mais arriscado do que investir em obrigações”, disse Amorim. “Em caso de falência, o acionista é o último a ter direito a algo”. Também por aí se explica que a rentabilidade das ações deva ser superior à das obrigações, explicou.

O investimento no imobiliário tem crescido em Portugal. Segundo um relatório da agência da JLL, é expectável que investimento neste ativo em 2018 ascenda aos 3.3 mil milhões de euros. Mas “é um investimento sobrevalorizado pela pequena poupança”, frisou Emília Vieira, CEO da Casa de Investimentos. “. É um investimento extremamente ilíquido, carregado de custos de operação e transação “, disse.

Investir em ações dá outras garantias de liquidez, mas não só. “Nos últimos 120 anos e para todas as geografias mundiais estudadas, as ações foram a melhor classe de ativos, com rendimentos de 5% ou mais acima da inflação”, explicou a CEO. Além disso, “para quem tem um horizonte de investimento de 5 a 10 anos, as ações são a melhor opção de investimento”, porque atualmente “muitas ações de empresas europeias pagam dividendos de 4% ou mais”.

2. Risco,  diversificação e fundos de investimento

Investir em ações acarreta algum risco, que pode ser definido como a probabilidade de perder todo o capital investido. Por isso, “quando analisamos um investimento em ações, [as] rubricas de risco devem estar análise” para não se alocar capital em ações ‘perdedoras’, alerta Amorim.

Embora os “riscos de mercado”, como lhes chama o analista da XTB, que estão associados à conjuntura “macroeconómica do país”, sejam mais difíceis de controlar,  existe uma estratégia para mitigar os “riscos específicos”, isto é, os que estão associados “às políticas internas de uma empresa em questão”: a diversificação, como indicam Pedro Amorim e Filipa Franco, e “deve ser geográfica, por setores de atividade”, revelou Nuno Santos. “Uma boa diversficiação permite minimizar o dano da nossa rentabilidade final no caso de uma empresa passar por um mau momento”, explicou Amorim, que deu o seguinte exemplo: “consideremos o recente desempenho da Apple, que viu as suas ações terem o pior desempenho desde 2013, e da Disney, que se encontra novamento perto dos mácimos históricos. Se um investidor [só tivesse investido na] Apple, teria um resultado inferior do que se tivesse 60% [do investimento] na Apple e 40% na Disney”.

Outro exemplo de diversificação consiste na aplicação de capital num fundo de investimento, salientou Nuno Santos. “Os fundos de investimento investem em [muitos] títulos, conseguindo desta forma reduzir o risco do investimento”, frisou o administrador da Optimize. Além disso, investir em fundos de investimento garante uma gestão “por entidades especializadas” que “dispõem de um poder negocial que lhes permite realizar operações mais favoráveis do que os aforradores individuais conseguem”, frisou. Também a segurança é um elemento a ter em conta quando se decide investir em fundos de investimento, porque “o património dos fundos pertence sempre aos clientes (…) o que anula o risco de falência, quer da sociedade gestora, quer do banco depositário”, garantiu Nuno Santos.

Existem diversas plataformas online que permitem uma “maior persolanização do investimento em relação ao investimento num fundo de investimento”, assegura Pedro Amorim. Enquanto no caso dos investimentos através de fundos os investidores “tão dependentes da gestão da entidade responsável, sem que o [acionista] tenha controlo na gestão”, nas plataformas online, os investidores dispõem de um motor de busca “que permite filtrar os indicares fundamentais de ações”, como rácio PER, que estabelece a relação do preço da ação e os lucros da empresa, permitindo “saber se a empresa se encontra sobre-avaliada ou sub-avaliada em relação ao setor”, explicou o senior manager da XTB. Outros rácios a ter em consideração, segundo este especialista, são a dividend yield, que mede a rentabilidade da ação em dividendos, e a growth rate, que mede a média do crescimento dos rendimentos dos dividendos distribuídos.

3. O mercado bolsista português

“O investimento em ações em Portugal é menos atrativo do que investir noutros países”, frisou Pedro Amorim. “Cada ano que passa, o nosso mercado fica menos atrativo”, frisou.

Para Franco, o ano de 2018, apesar da queda de 3% dos valores negociados no mercado de ações em relação a 2017, “tivemos a admissão de três novas empresas ao mercado de capitais”, com a entrada da Raize, Farminveste e, mais recentemente, da Flexdeal. Para a diretora da Euronext Lisbon, estas operações “revelam um renovado interesse por parte das empresas nacionais pela bolsa, mas também um renovado interesse por parte dos investidores”, realçou. No caso da admissão da Raize, Filipa Franco destacou que a procura de investidores particulares da oferta pública “superou em quase 3 vezes a oferta”, sendo “assinalável a elevada procura registada por uma oferta de uma startup”.

Se não fosse o insucesso da entrada em bolsa da Sonae MC e da Vista Alegre, “o ano de 2018 foi assinalável para o mercado de ações nacional que, não fosse a volatilidade verificada no último trimestre, teria registado um desempenho extraordinário”, disse.

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