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Tuítes de Trump e possível reunião da OPEP levam preço do Brent a superar os 34 dólares

Os tuítes de Donald Trump contribuíram para fazer subir as cotações do petróleo. O antigo ministro da Indústria e Energia, Mira Amaral, comentou ao JE que o presidente dos EUA “encara os assuntos internacionais quase numa lógica de gestão empresarial”. No entanto, contactada pela agência Bloomberg, a Casa Branca não comentou os tuítes. Resta saber como será o resultado da próxima reunião da OPEP+, agendada para a próxima segunda-feira, 6 de abril.
3 Abril 2020, 16h38

Bastaram uns tuítes de Donald Trump, na passada quinta-feira, 2 de abril, para que as cotações do petróleo se afastassem bastante dos baixos níveis de 20 a 24 dólares por barril a que tinham chegado os contratos de futuros do Brent e do WTI. Cerca das 13h50 de Lisboa, os futuros de Brent com data de entrega em junho estavam a ser negociados com uma valorização de 15,7% face aos valores do fecho anterior, batendo os 34,63 dólares por barril. No petróleo americano West Texas Intermediate (WTI), à mesma hora, os contratos de futuros semelhantes registavam uma valorização de 10,66%, batendo a cotação de 28,02 dólares por barril.

O Jornal Económico produziu o gráfico aqui apresentado com base em dados recolhidos um pouco antes, o que confirma a progressão em alta que as cotações continuam a registar.

Segundo o antigo ministro da Indústria e Energia, Luís Mira Amaral, esta situação confirma a confiança que os operadores do mercado do petróleo depositam no presidente dos EUA. “É o tal efeito de confiança que os operadores do mercado petrolífero depositam em Donald Trump, no momento em que todo o mundo aguarda que haja desenvolvimentos em resultado de um próximo eventual contacto que será mantido entre o príncipe herdeiro da Arábia Saudita e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ou de uma nova reunião extraordinária da OPEP+”, comenta Mira Amaral.

De acordo com a CNN Business, a próxima reunião da OPEP ocorrerá na próxima segunda-feira, 6 de abril.

“É a vida!”, diz Mira Amaral

Na realidade, a cotação internacional do petróleo “saltou” para níveis que estão praticamente 10 dólares acima dos valores cotados há poucos dias para os contratos de futuros, e isso aconteceu independentemente das decisões que possam ser tomadas pela Arábia Saudita, pela Rússia, pelo núcleo de países da OPEP e pelo grupo alargado da OPEP+. “É o que faz o poder de alguém que esteja na presidência dos EUA, e não há muito mais a dizer”, refere Mira Amaral. “É a vida!”, remata.

“Quem está à frente da política de uma superpotência como os EUA e encara os assuntos internacionais quase numa lógica de gestão empresarial, de certa forma goza de um estatuto de impunidade para fazer este tipo de comentários, sabendo que a sua base de apoio político é praticamente insensível a este género de declarações”, comenta Mira Amaral.

Casa Branca não comenta

Contactada pela agência Bloomberg, a Casa Branca recusou comentar os tuítes de Donald Trump. Mais: o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitry Peskov, explicou que o presidente russo não tinha falado com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita. Mas a ‘cereja em cima do bolo’ foi a própria Arábia Saudita não ter confirmado que tinha concordado com um corte na produção de petróleo, tendo-se limitado a agendar uma reunião de urgência com os países da OPEP e com a os responsáveis da Rússia.

No rescaldo dos tuítes de Trump tem corrido a ideia de que o corte mínimo de produção da Arábia Saudita e da Rússia poderia rondar os 10 milhões de barris por dia, o que repartido entre os dois países daria uma redução de aproximadamente 45% no débito diário de produção de petróleo de cada um. Quem aplaudiu a iniciativa de Trump no sentido da “estabilização de preços do petróleo” foi o presidente da TRC – Texas Railroad Commission, Wayne Christian, o regulador americano do sector petrolífero.

Objetivamente, os valores de negociação dos contratos de futuros do Brent do Mar do Norte e do crude americano WTI são aplicados como referência das transações de petróleo feitas nos maiores mercados mundiais que transacionam este produto.

Produtores de shale oil “já estavam enterrados”

Ou seja, são preços que se tornam referências de negociação do petróleo para uma parte significativa do mundo. Também é certo que com os valores de negociação do WTI a raiarem os 20 dólares por barril, a maioria dos produtores de shale oil dos EUA “já estavam enterrados” – utilizando a expressão de Mira Amaral. Agora, com esta subida das cotações, os mesmos produtores de shale oil não têm os seus problemas resolvidos, mas provavelmente haverá alguns deles que já conseguirão manter atividade de produção.

Para os grandes traders de petróleo, esta “animação” de mercado é fundamental numa altura de marasmo, como a que o mundo vive, parado pela crise da Covid-19. Além das subsidiárias e unidades de trading das “supermajors”, como a ExxonMobil, a Saudi Aramco, a Chevron/Texaco, a BP e a Total, o mercado petrolífero é alimentado pelos grandes traders internacionais, que constituem um grupo de cerca de 30 empresas que diariamente compram e vendem o petróleo disponível no mercado.

O mundo das traders globais

Trata-se de um universo em que se destacam quatro organizações, designadamente: a sueca Gunvor International, registada em Chipre, que é uma parceria entre o trader de petróleo sueco Torbjorn Torknqvist e o empresário russo Gennady Timchenko, e que negoceia mais de um terço do petróleo que a Rússia exporta; a suíça Mercuria Energy Group, de Marco Dunand; o Grupo Vitol, fundado em 1966, com escritórios em Genebra e Amesterdão, que negoceia muitos milhões de barris de petróleo por dia e é gerido por Russel Hardy; e a Trafigura, fundada por Claude Dauphin, Eric de Turkheim e Graham Sharp em 1993, com operações em Singapura e escritórios em Genebra e Amesterdão, gerida por Jeremy Weir.

Russia revê preço do petróleo no orçamento

Seja como for o resultado da próxima reunião da OPEP+, a verdade é que o Governo russo, sob orientação do Presidente Vladimir Putin está a proceder à revisão orçamental tendo como referência um preço do petróleo a 20 dólares por barril ainda para 2020, sabe o Jornal Económico de fontes bem informadas. Face à quebra das receitas petrolíferas, a Rússia terá de aumentar o volume dos empréstimos e dívida a emitir, estimando-se que possam rondar os 13 mil milhões a 19 mil milhões de dólares ainda em 2020.

Ao contrário da comunicação oficial que tem sido coordenada por Vladimir Putin, a Rússia não terá tanta facilidade como tem referido em acomodar uma descida de preços do petróleo da ordem dos 50%, como tem ocorrido em 2020, agravada pela paralisação em que a economia russa entra a partir desta semana. Segundo estimativas do banco de investimento norte-americano Goldman Sachs, a redução do consumo mundial de petróleo é de cerca de 26 milhões de barris de petróleo por dia.

No entanto, de acordo com a revista especializada “Gulf Business”, citando um executivo do maior trader independente de petróleo do mundo, “a queda com consumo atinge 30 milhões de barris por dia em abril”, o que dificilmente poderia ser compensado com a proposta de cortes de produção sugerida pelos tuítes de Trump.

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