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Turquia e França em confronto por causa do Mediterrâneo oriental

Não é uma novidade, nem é inesperado: a aproximação de Paris ao Médio Oriente, consubstanciada na visita de Macron a Beirute, e a questão de Chipre fez soar as campainhas em Ancara.
  • Recep Tayyip Erdogan
14 Agosto 2020, 18h00

Dois aviões de guerra e dois navios da marinha francesa reforçaram a presença de Paris nas águas do Mediterrâneo oriental nos últimos dias e a Turquia respondeu de imediato, chamando a atenção para que as movimentações patrocinadas pelo presidente Emmanuel Macron estão a fazer subir a tensão na região.

Em causa estão várias questões, entre elas as jazidas de gás que se sabe existirem na região e sobre as quais tanto a Grécia como a Turquia consideram ter interesses internacionalmente previstos pela lei. Paralelamente, a viagem de Macron a Beirute na sequência das expulsões de semana passada também deram nota de que a França está interessada em aumentar o seu potencial na região – uma área que foi de expansão para as tentações colonialistas francesas ao longo dos séculos XIX e XX.

“A França em particular deve parar de tomar medidas que aumentem as tensões. Não conseguirão nada se se comportarem como donos” da região, disse o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlut Cavusoglu, citado por vários jornais.

As declarações têm como cenário a crescente tensão entre Ancara e Paris, capitais que se chocam no leste do Mediterrâneo, na Líbia e na Síria. Nesta quinta-feira, Paris anunciou o envio de dois aviões Rafale e dois navios de guerra para o Mediterrâneo oriental como um sinal de apoio à Grécia, que acusa a Turquia de realizar pesquisas ilegais de gás nas suas águas territoriais.

Cavusoglu afirmou que a Turquia “não quer uma escalada” e que o seu governo está “a agir com todo o bom senso”. Mas as relações entre a Turquia e a Grécia – que são historicamente más ou muito más – deterioraram-se depois de Ancara ter enviado, na passada segunda-feira, um navio de pesquisa sísmica escoltado por navios de guerra para as águas em causa. A marinha grega enviou de imediato os seus próprios navios de guerra para “monitorizar” as atividades turcas, disse Atenas.

E os desacatos não se fizeram esperar. O governo turco acusou as forças gregas de tentarem “assediar” a embarcação sísmica, alertando que qualquer agressão seria alvo de retaliação: “Não podemos deixar nenhum ataque sem resposta. Ontem [quinta-feira], aconteceu um incidente desses. Se eles continuarem, nós responderemos”, disse o presidente turco Recep Tayyip Erdogan esta sexta-feira.

Entretanto, os jornais alemãos referem de que o governo alemão disse ter “tomado nota” das manobras francesas na Grécia e pediu a Paris, Atenas e Ancara que evitem a “escalada” do conflito no Mediterrâneo oriental em torno da exploração de hidrocarbonetos. Na passada quinta-feira, a chanceler Angela Merkel falou com o primeiro-ministro grego, Kyriákos Mitsotákis, e o presidente turco, numa tentativa de acalmar ambas as partes.

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