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Turquia: líder preso do PKK apela à deposição das armas e dissolução do movimento

O governo turco há muito que queria uma decisão nesse sentido, mas ainda não é certa a forma como vai reagir o movimento. A possibilidade de não atender ao apelo do seu líder está em cima da mesa.
Reuters
27 Fevereiro 2025, 16h47

O líder preso do grupo PKK fez seu apelo histórico para que o grupo deponha as armas, marcando uma viragem em direção à iniciativa ‘Turquia livre de terror’ lançada no ano passado. “Como qualquer comunidade ou partido contemporâneo que não tenha sido dissolvido à força, peço que convoquem um congresso, se integrem no Estado e na sociedade e tomem uma decisão: todos os grupos devem depor as armas, e o PKK deve dissolver-se”, disse Abdullah Öcalan.

A declaração foi lida esta quinta-feira em conferência de imprensa em Istambul por uma delegação do Partido da Igualdade e Democracia dos Povos (DEM), que visitou Öcalan na prisão de uma ilha ao largo de Istambul, onde se encontra detido. A delegação incluía parlamentares do partido, conhecido pelas suas ligações com o grupo.

O líder do PKK disse, citado pela imprensa turca, que a dissolução do grupo é necessária, pois surgiu num período marcado por “violência intensa, duas guerras mundiais, a ascensão e queda do socialismo real, a Guerra Fria e a negação da identidade curda”. E alegou que o grupo foi moldado por restrições às liberdades, particularmente à liberdade de expressão.

“O colapso do socialismo real na década de 1990 devido a razões internas, a erosão da negação de identidade no país e os avanços na liberdade de expressão levaram à perda de significado do PKK. Nesse contexto, afirmou, a sua relevância “chegou ao fim, tornando a sua dissolução necessária”. O líder preso declarou que o segundo século da república turca deve ser construído sobre a democracia, a paz e a unidade, rejeitando quaisquer caminhos alternativos fora do consenso democrático.

Referindo-se ao clima político atual moldado pelos apelos do presidente do Partido do Movimento Nacionalista (MHP), Devlet Bahçeli, à posição do presidente Recep Tayyip Erdoğan e às respostas positivas de outros partidos políticos, Öcalan pediu o desarmamento e assumiu a responsabilidade histórica por esse apelo.

“O apelo feito por Devlet Bahçeli, juntamente com a determinação expressa pelo Presidente e as abordagens positivas de outros partidos políticos em relação ao apelo, criaram o clima para a dissolução. O apelo, considerado histórico na Turquia, é visto como o primeiro passo da iniciativa que ganhou o seu nome. O acordo envolve retirar Öcalan do confinamento solitário na prisão da Ilha Imralı, pelo menos temporariamente.

O apelo de Öcalan foi assistido pelo público em telas gigantes colocadas no sudeste da Turquia, onde o partido DEM tem apoio significativo.

Ainda não está claro qual será a resposta oficial do governo de Erdogan à iniciativa – se é que o foi – do prisioneiro político. De qualquer modo, Efkan Ala, vice-presidente do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, de Erdogan), falando imediatamente após a declaração, disse: “Se a organização terrorista avaliar essa possibilidade, largar as armas e desmantelar-se, ela libertará a Turquia dos seus grilhões”. As ações armadas do PKK foram sempre um obstáculo à criação de laços entre turcos e curdos. Também ainda não é claro se a atual direção do PKK vai ou não ‘subscrever a iniciativa do seu líder histórico. Abdullah Ocalan foi capturado pelos serviços secretos turcos no Quénia em 1999 e começou por ser condenado à morte. Três anos depois veria a sua pena a ser atenuada para prisão perpétua, na sequência da abolição da pena de morte pelo Governo turco.

Vale a pena lembrar que as potências que ganharam a I Guerra chegaram a desenhar no mapa aquilo que viria a ser o Curdistão – mas pressões posteriores da nascente República da Turquia, liderada por Ataturk, acabaram por determinar o seu ‘apagamento’.
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