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Uber: de uma cervejaria de Dublin a um dos maiores IPO de sempre

A ideia dos fundadores passava por oferecerum serviço de transportede luxo através de um aplicativo para smartphone. Os testes começaram em 2010 e, em menos de uma década, a Uber estreou-se no início de maio a negociar na bolsa de Nova Iorque, numa das maiores OPV de sempre.
25 Maio 2019, 12h00

Quando perguntam ao fundador da Web Summit, Paddy Cosgrave, como é que mantém a energia para continuar a realizar a maior cimeira do mundo tecnológico, o empreendedor refere quase sempre o exemplo da Uber – um negócio que começou por nascer num dos encontros noturnos da Cimeira. Em Dublin, em 2011, o investidor Shervin Pishevar conheceu Travis Kalanick numa cervejaria já de madrugada, e Pishevar assinou um acordo de investimento de 26,5 milhões de dólares na startup de Kalanick, batizada de Uber. O  brinde à concretização do negócio, num dos pubs da capital irlandesa, foi apenas o início de uma história de sucesso.

Avaliada em quase 100 mil milhões de dólares, a empresa estreou-se a negociar em Nova Iorque na sexta-feira dia 10 de maio, com o símbolo “UBER”. Era um dos momentos mais aguardados pelos investidores com o IPO a ser um dos maiores de todos os tempos nos Estados Unidos:  a Uber planeou vender cerca de dez mil milhões de dólares (8,9 mil milhões de euros) em ações da empresa.

De acordo com o prospeto entregue na Securities Exchange Comission, regulador dos mercados de capitais norte-americano, a empresa pretende entrar em vários segmentos de mercado. À cabeça, surge a mobilidade pessoal, que consiste em todos os quilómetros percorridos por veículos, avaliado em 5,7 mil milhões de dólares. Segue-se o Uber Eats, avaliado em 2,8 mil milhões e o transporte de mercadorias que, em 2017, valia 3,8 mil milhões.

O prospeto entregue na Securities and Exchange Commission (SEC) revelou mais informações sobre as operações da Uber, que soma 91 milhões de clientes em todo o mundo (no serviço de transporte e entrega de comida) e que no ano passado gerou receitas de 11,27 mil milhões de dólares, um crescimento de 42% face a 2017.

Fundada em 2009 pelos empreendedores Garret Camp, Oscar Salazar e Travis Kalanick, a Uber é uma aplicação que liga pessoas que querem deslocar-se a operadores de mobilidade disponíveis para as transportar. Através da aplicação, os utilizadores encontravam uma solução simples, segura e conveniente, complementar aos transportes públicos, através do smartphone. A nível global, a empresa opera agora em 660 cidades.

A presença em Portugal

A Uber chegou a Portugal em 2014 tendo sido realizados mais de dois milhões de downloads da aplicação. Atualmente mais de 6.500 motoristas viajam com a aplicação em Portugal. E a empresa disponibiliza no território nacional os serviços Uber (uberX, UberBLACK, uberGREEN, uberXL, uberSTAR), JUMP e Uber Eats.

A companhia tem estado presente nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e em cidades do Algarve, bem como Braga e Guimarães. De acordo com dados oficiais estão presentes em 18 cidades nacionais e já garantiram uma cobertura de mais 55% da população portuguesa.

Atualmente, o Uber Eats está disponível em 18 localidades: Lisboa, Porto, Oeiras, Cascais, Amadora, Loures, Leça da Palmeira, Matosinhos, Almada, Seixal, Sintra, Coimbra, Braga, Setúbal e recentemente Faro, Olhão, Loulé e Quarteira. A capital portuguesa foi a primeira cidade europeia a receber a JUMP, com 750 bicicletas, oferecendo 90% de cobertura do município.

O fim de Kalanick e a entradade Khosrowshahi

A 21 de junho de 2017, numa carta a que o jornal norte-americano “The New York Times” teve acesso, cinco grandes investidores da empresa exigiam a imediata demissão de Kalanick. O diário norte-americano explicava que os investidores queriam mudar o rumo da empresa e a liderança. Travis Kalanick, de 40 anos, saia assim de cena. “Amo a Uber acima de tudo o resto no mundo, e neste momento difícil da minha vida pessoal aceitei o pedido dos investidores para me afastar para que a Uber possa voltar a construir, em vez de se distrair com mais uma luta”, disse o fundador, num comunicado.

O braço de ferro entre o antigo CEO e os investidores tinha-se acentuado meses antes. Depois das queixas internas por discriminação sexual e do roubo de documentos confidenciais uma nova polémica envolveu a empresa. Nessa altura, Kalanick, apareceu num vídeo, divulgado pela agência Bloomberg, a discutir com um motorista da sua empresa, numa forma que o próprio descreveu como “desrespeitosa”. Travis Kalanick veio a público expressar “um profundo pedido de desculpas” e diz que as críticas que recebeu o iriam ajudar a “crescer”.

“Tenho certeza de que vocês viram o vídeo onde eu tratava um motorista Uber desrespeitosamente. Dizer que estou envergonhado é um extremo eufemismo. O meu trabalho enquanto líder é liderar e isso começa com um comportamento que nos deve deixar a todos orgulhosos. Não foi isso o que fiz, e não tem explicação”, escreveu o empreendedor numa nota deixada no site da empresa aos seus trabalhadores.

O vídeo gravado pelo motorista da Uber, Fawzi Kamel, na noite do Super Bowl, a 5 de fevereiro, mostra o líder da empresa na parte de trás de um carro a exaltar-se com o condutor por este contestar a subida de preço das tarifas das viagens nos últimos anos.”Algumas pessoas não gostam de assumir a responsabilidade por si mesmas. Culpam tudo da sua vida nas outras pessoas. Boa sorte!”, pode ouvir-se Travis Kalanick atirar ao condutor antes de abandonar o veículo. A acesa troca de palavras foi mais tarde divulgada pela Bloomberg TV e as críticas ao comportamento do líder da empresa não tardaram a chegar. “É claro que este vídeo é um reflexo de mim – e as críticas que recebemos são um lembrete austero de que devo fundamentalmente mudar enquanto líder e crescer. Esta é a primeira vez que tenho vontade de admitir que preciso de ajuda para liderar e pretendo obtê-la”, escreveu o criador da Uber

Dara Khosrowshahi, um americano de origem indiana, acabaria por ser nomeado como o novo CEO da empresa. E também ele tem razões para brindar: assim como mais quatro executivos de topo, terá direito a ações no valor de 380 milhões de dólares se a IPO for um sucesso.

Artigo publicado na edição nº1988, de 10 de maio do Jornal Económico

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