Em mais uma semana de intensa atividade diplomática, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy esteve com o chanceler alemão, Friedrich Merz, com o presidente francês, Emmanuel Macron, e com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer – antes de rumar a Bruxelas, onde se encontrou com Ursula von der Leyen, António Costa e o secretário-geral da NATO, Mark Rutte. Para além das repetidas promessas de eterno apoio ouvidas em todo o lado – que alguns ainda consideram fundamentais – Zelensky ouviu de Friedrich Merz palavras de claro ceticismo em relação ao plano de paz para a Ucrânia patrocinado pelos Estados Unidos. Não sendo propriamente uma novidade – desde a primeira hora que os europeus consideraram o plano demasiado lisonjeiro para as ações da Rússia – Merz afirmou esta segunda-feira estar “cético” em relação a certos aspetos do plano.
O encontro entre Zelensky, Starmer e Macron em Londres ocorreu após a conclusão, no fim-de-semana, da última ronda de negociações entre representantes ucranianos e norte-americanos sobre o plano. E depois de Donald Trump ter dito que Zelensky “não está pronto” para assinar o acordo de paz apoiado pelos Estados Unidos – algo que os europeus considerarão mais ou menos ‘sacrílego’. “Estou cético em relação a alguns detalhes que vemos nos documentos vindos dos Estados Unidos, mas precisamos discutir isso, é por isso que estamos aqui”, disse Merz. Em causa está, logo no topo das queixas europeias, o facto de o plano prever a cedência de territórios ucranianos à Rússia de forma definitiva.
Falando ao lado de Merz, Emmanuel Macron disse que os europeus “têm muitas cartas na manga”, incluindo o financiamento da entrega de equipamentos a Kiev, bem como “o facto de a Ucrânia estar a resistir nesta guerra e o facto de a economia russa estar a começar a sofrer”. Citado pela imprensa europeia, Macron disse ainda que “penso que a questão principal é a convergência entre as nossas posições comuns, europeias, ucranianas e norte-americanas, para finalizar estas negociações de paz e retomar o diálogo com uma nova confiança, nas melhores condições possíveis para a Ucrânia, para os europeus e para a nossa segurança coletiva”.
Já o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, que copreside com Macron à chamada ‘Coligação dos Dispostos’ — um grupo de nações europeias que se mostram prontas para fornecer garantias de segurança à Ucrânia — também prometeu assistência contínua. “Estamos aqui para apoiá-los no conflito e nas negociações, para garantir que se chegue a um acordo justo e duradouro, se possível”.
Zelensky, cujo encontro em Londres foi a primeira paragem de uma intensa semana diplomática para garantir novos pacotes de apoio e defesa aérea, disse que a “unidade” entre a Europa, a Ucrânia e Washington é “muito importante”. Os europeus, que deverão assegurar a maior parte das garantias de segurança caso um cessar-fogo seja firmado entre os dois países em guerra, têm-se mobilizado para garantir que a sua posição seja ouvida desde que um novo rascunho do plano de paz, elaborado por Washington e Moscovo, favorece amplamente a Rússia. As negociações subsequentes em Moscovo entre russos e norte-americanos, e em Miami entre norte-americanos e ucranianos, não fizeram surgir qualquer novidade de alcance em torno do plano inicial.
Entretanto, o presidente ucraniano era esperado em Bruxelas na noite de segunda-feira para conversas com o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, e com os líderes da União, Ursula von der Leyen e António Costa. Esta terça-feira, Zelensky está em Roma para uma reunião com a primeira-ministra Giorgia Meloni.
Fundo ucraniano continua bloqueado
Um dos temas com certeza abordados por todos tem a ver com o chamado ‘empréstimo para reparações’ à Ucrânia – mas é uma matéria em que nenhum dos líderes eurpppeus tem boas notícias para transmitir a Zelensky. Os líderes europeus devem tomar uma decisão final sobre o assunto na cimeira de 18 de dezembro – o que muitos analistas duvidam que aconteça – que tem a ver com a utilização dos ativos russos congelados na União para a criação de um fundo de apoio à Ucrânia. A pressão para os 27 aprovarem o ‘empréstimo para reparações’ entrou na reta final. A Bélgica continua a opor-se à proposta, enquanto a Hungria rejeita o Plano B, a dívida conjunta.
O objetivo de arrecadar pelo menos 90 mil milhões de euros em contribuições, necessárias para a Ucrânia ‘aguentar’ os próximos dois anos – pelo menos se, dizem os cínicos, parte do dinheiro não for desviado pela corrupção que tem grassado com os dinheiros que entram na Ucrânia vindos do estrangeiro.
A Bélgica, principal detentora dos ativos russos, continua a opor-se ao empréstimo, temendo consequências – como a reputação internacional enquanto praça financeira segura e a ‘vingança’ da Rússia. O país não alterou a sua posição inicial, apesar de vários apelos para que as suas preocupações fossem atenuadas. A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, tentou isso mesmo prometendo comprometimento de todos se a Bélgica tiver algum problema, mas não conseguiu convencer os belgas. Se o Plano A falhar, o bloco terá de recorrer à dívida conjunta. Mas isso exigiria aprovação por unanimidade, e a Hungria já indicou que não consentirá. Até porque, recorda o governo liderado por Viktor Orbán, o endividamento comum teria impacto imediato nos orçamentos nacionais, uma perspetiva que a maioria das capitais europeias, temendo a reação dos contribuintes, preferirá evitar.
Do outro lado estão a Estónia, Finlândia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Polónia e Suécia, que têm unido forças para pedir a aprovação rápida do empréstimo de reparação. “Além de ser a solução financeiramente mais viável e politicamente mais realista, a solução aborda o princípio fundamental do direito da Ucrânia à indenização pelos danos causados pela agressão”, diz uma carta conjunta divulgada esta segunda-feira. “O tempo urge. Ao chegarmos a uma decisão sobre o empréstimo no Conselho Europeu em dezembro, teremos a oportunidade de colocar a Ucrânia numa posição mais forte para se defender e numa posição melhor para negociar uma paz justa e duradoura”. Alemanha, França, Países Baixos e Dinamarca também apoiam o empréstimo para reparação.
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