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UGT: “Défice não pode ser elemento sacrossanto” para o país

O líder da UGT recusa que o défice seja “um elemento sacrossanto” e defende que o Governo devia definir uma meta menos ambiciosa para este ano, que permitisse aumentar a função pública e evitar assim “uma guerra com os sindicatos”.
15 Abril 2018, 12h24

Em entrevista à Lusa quando está prestes a comemorar cinco anos à frente da central sindical, o secretário-geral da UGT diz não estar satisfeito com o ritmo de reversão das medidas da ‘troika’ e sublinha que o anúncio do Governo de que não haverá aumentos para a administração pública em 2019 “foi um tiro no pé” do ministro das Finanças, Mário Centeno.

“O défice não deve ser considerado um elemento sacrossanto para continuar a constranger os trabalhadores e trabalhadoras do nosso país”, afirma Carlos Silva, lembrando que os funcionários públicos não são aumentados desde 2009.

Para o líder da UGT, “se o défice ficasse outra vez este ano em 0,9%, o que seria uma grande meta”, o Governo teria uma margem de “400 milhões de euros” para atualizar os salários dos trabalhadores do Estado.

“Eu acho que é por aqui que o Governo tem de fazer contas e tem de perceber se quer ser outra vez o menino bonito da Europa, porque é um cumpridor exímio, ou se quer abrir uma guerra, um conflito com os sindicatos, sobretudo os da administração pública”, frisou Carlos Silva.

O dirigente sindical diz que alinha com o ministro das Finanças na defesa de “um controlo efetivo das contas por uma questão de credibilidade e de reputação do Estado”, mas avisa que numa altura em que se anunciam várias greves e protestos em vários setores do Estado, como na Educação e Saúde, “o Governo tem de dar um sinal aos trabalhadores da administração pública”.

“O ministro Mário Centeno veio afirmar que nem em 2019 – e ainda estamos a meses do final do ano – há aumentos salariais. Então, se não houver aumentos salariais, o que é que há?”, pergunta Carlos Silva.

“Não mexem na progressão das carreiras, não reposicionam os professores de acordo com as reivindicações dos mesmos e, portanto, preparam-se para uma luta na rua e de greves que só tem paralelo nos tempos de quando era José Sócrates o primeiro-ministro”, diz o secretário-geral da UGT.

Para a UGT “é fundamental” que o Governo apresente “soluções” e Carlos Silva diz estar convencido de que o executivo “não tem condições nem quererá fechar todas estas portas”.

“Cabe ao primeiro-ministro decidir até que ponto quer aguentar este conflito ou quer permitir por outro lado que ele venha para a rua e que extravase aquilo que são as margens da paz social que nós gostamos de privilegiar”, diz ainda.

Carlos Silva considera que nos anos da crise “criou-se um anátema em Portugal” sobre os trabalhadores da administração pública, que são vistos como “os culpados” que “nós não temos de andar a sustentar”.

“Se queremos dignificar os trabalhadores da administração pública temos de os valorizar e dar-lhes condições e dizer-lhes que o que aconteceu durante dez anos é irrepetível. Não é dizer-lhes que daqui a um ano não há aumentos salariais. Parece-me que foi um tiro no pé”, diz Carlos Silva.

Recusando avançar com uma proposta de atualização salarial para os funcionários públicos, por considerar que cabe ao Governo “fazer as contas”, o sindicalista considera que “qualquer aumento que viesse era melhor do que dizer que não há aumentos salariais, porque a abertura de um patamar negocial, já por si, é um elemento positivo”.

No Programa de Estabilidade para 2018-2022 apresentado na sexta-feira pelo ministro das Finanças está previsto um défice de 0,7% para 2018 e o documento não estabelece quaisquer amentos para a função pública. Porém, questionado sobre essa possibilidade durante a conferência de imprensa de apresentação do documento, Mário Centeno não respondeu diretamente aos jornalistas, lembrando que o Governo tem valorizado os trabalhadores do Estado nos últimos anos.

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