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Imobiliário: 2017 foi um ano onde se bateram vários recordes

Um ano marcado por grandes transações, pela entrada em força de investimento estrangeiro, pelo crescimento da atividade na reabilitação urbana e do renascer de novos projetos de construção nova.
8 Janeiro 2018, 07h05

2017 foi um ano em que se espera que se batam vários recordes no imobiliário. Os especialistas confirmam que foi um ano de verdadeira revolução no mercado e de uma dinâmica, há muito perdida.

Para Manuel Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e Imobiliário (CPCI), 2017 foi um ano de afirmação do setor imobiliário em Portugal. “Depois de, nos últimos anos a política de habitação ter sido praticamente inexistente, em que se dizia que havia casas a mais e que problemas como acesso à habitação, a inexistência de um verdeiro mercado do arrendamento ou a persistência de fenómenos complexos como a falta de habitação social, a sobrelotação e a degradação não eram relevantes, assistimos, ao longo de 2017, a uma profunda alteração na forma como o país olha para esta realidade”, refere.

O responsável adianta mesmo que se está finalmente a discutir a necessidade de perspetivar o mercado de uma forma global, “abrangente e integrada, tirando partido do dinamismo imprimido pela Reabilitação Urbana e pelo investimento estrangeiro em imobiliário, duas realidades que são evidentes e que resultam, em grande medida, do momento positivo que Portugal atravessa no domínio do turismo e de um contexto de baixas taxas de juro”.

Também Hugo Santos Ferreira, vice-presidente executivo da APPII – Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, admite que 2017 será certamente mais um excelente ano no setor imobiliário, esperando que se venham a bater novos recordes, adivinhando-se a continuação do crescimento verificado desde 2014. No entanto o responsável alerta, “num momento de grande entusiasmo, é importante que haja vozes que tragam também alguma calma e ponderação ao setor e que de certo modo contrabalancem o entusiasmo que se vive hoje dia”.

Cuidado com euforias desmedidas

Para um crescimento sustentável, que se prolongue no tempo e que continue a ser considerado como um dos melhores refúgios para os investidores de todo o mundo, Hugo Santos Ferreira assegura que é necessário que se acabem, de uma vez por todas, com as euforias desmedidas e, a seu ver excessivas, de alguns, o que, como se sabe, acaba por ser sempre contraproducente.

“É muito importante que lutemos todos por um mercado em equilíbrio, que seja atrativo tanto para os estrangeiros mas que seja também acessível aos portugueses e em especial que seja acessível aos jovens, o que não tem de acontecer obrigatoriamente nos centros e nas melhores localizações das nossas cidades, mas que pode e deve, aliás como acontece na maioria da outras capitais europeias, perfeitamente acontecer nas proximidades ou nos arredores desses centros urbanos”, garante.

Subida dos preços das casas

Francisco Bacelar, presidente da ASMIP – Associação dos Mediadores do Imobiliário de Portugal, realça em 2017 a subida de preços que veio afetar todo o mercado imobiliário, tanto na venda como no arrendamento. Hoje, quem quiser comprar uma habitação ou tem dinheiro próprio, ou tem ajuda de alguém ou, tem já um imóvel que ao vender valorizado pode acompanhar os novos preços”, assegura.

O responsável salienta, que por outro lado, o aumento do turismo, levou a um boom na reconstrução e reabilitação das cidades, especialmente dos centros históricos, tendo contribuído para a fixação de estrangeiros no nosso país com a implementação dos programas de Vistos Gold e o Regime Fiscal para Residentes não Habituais. “Estes investimentos desenvolveram ainda um novo nicho de mercado, o Alojamento Local. Este, apesar do seu lado positivo, veio reduzir e encarecer o acesso à habitação de arrendamento para a maioria das famílias, que, por via disso, precisam, mais do que nunca, de condições legislativas e fiscais que reponham condições para o acesso a habitação condigna”, esclarece.

Já Frederico Borges de Castro, diretor do Departamento de Avaliações da CBRE Portugal, revela que em termos de imobiliário comercial, regista-se em 2017, o maior volume de sempre de investimento imobiliário e a tendência de compressão de yields para níveis recorde, “em conjunto com a fortíssima presença de investidores internacionais, mostrou a solidez do setor e a afirmação de Portugal como destino para investimento imobiliário de grande volume, demonstrando a confiança dos investidores estrangeiros no país”.

Medidas que influenciaram o mercado

Entras as várias medidas tomadas em 2017 que influenciaram o setor, Reis Campos destaca o lançamento da discussão da Nova Geração de Políticas da Habitação. “Em termos práticos, destaco, ao nível dos instrumentos financeiros de apoio ao financiamento da Reabilitação urbana, o arranque do IFRRU que já está no terreno e que deve agora ser complementado com outras medidas como o Programa Casa Eficiente, cujo arranque efetivo está previsto para o início do próximo ano”, refere.

Francisco Bacelar destaca que uma das medidas significativas do ano transato, foi a criação da nova secretaria de Estado da Habitação, e as vantagens que a mesma poderá trazer para resolver os vários problemas do setor.

O que faltou fazer

Quanto ao que ficou por fazer, Reis Campos destaca a Tributação do Imobiliário que assume, na realidade atual. “De facto, ao contrário do que sucedia no passado, o imobiliário é, hoje, um elemento profundamente exposto à concorrência internacional e decisivo para a competitividade dos países e Portugal não escapa a esta regra”.

O responsável salienta ainda um outro aspeto, referindo-se à clandestinidade no setor da construção. “Está em causa a proliferação de situações de concorrência desleal, por parte de quem atua à margem do mercado, não cumprindo as regras mais básicas, como é o caso do alvará de construção, das obrigações de âmbito laboral e de segurança e saúde, fiscal, ambiental e de gestão de resíduos. Esta é uma situação que se tem vindo a agravar, sendo, em grande parte potenciada pelo desajustamento da Lei dos Alvarás”.

Também Francisco Bacelar revela que apesar do número crescente das empresas de mediação imobiliária, com um número recorde de 1400 licenças concedidas em 2017, “infelizmente, continua a haver mediadores ilegais, hoje em dia autoapelidados de freelancers, que nada favorecem a imagem da mediação. É fundamental reforçar a fiscalização desta atividade paralela que prejudica os clientes, mas também as empresas e profissionais que atuam dentro da legalidade, pela concorrência desleal que promovem”.

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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