Apesar dos progressos alcançados, subsistem problemas estruturais: sinto o Estado a abrir fendas, a sociedade a deslaçar e a democracia a perder qualidade.
A conclusão impõe-se: a continuidade não é solução.
Portugal não pode resignar-se a ser um país de mínimos — do salário mínimo, do rendimento mínimo, da ambição mínima. É tempo de se afirmar como um país de excelência, de esperança e de futuro.
Precisamos de criar riqueza e ter a visão política e os recursos económicos necessários capazes de lubrificar os elevadores sociais e de cuidar das redes de segurança — como a saúde — que sustentam o nosso contrato social e o nosso desenvolvimento coletivo.
Fizemos muito, é certo. Mas chegou o momento de dar o Salto Qualitativo que falta — aquele que pode marcar o quinto grande marco da República. Um salto que posicione Portugal na linha da frente dos países mais desenvolvidos, capaz de atrair e fixar talento, sobretudo o das gerações mais jovens, criar mais riqueza, gerar desenvolvimento e promover justiça social.
Os diagnósticos estão feitos, os relatórios multiplicam-se, e ideias não faltam. Falta-lhes direção, estratégia e propósito. É tempo de agir com um objetivo comum: construir um país justo que promova a excelência.
Partilho, por isso, cinco linhas de atuação, que considero essenciais:
1. Capacitar o país
2. Olhar o território com outra ambição
3. Rejuvenescer a população portuguesa
4. Reduzir as desigualdades e reforçar o Estado Social
5. Criar uma nova cultura política
1. Capacitar o País
Nas últimas décadas, Portugal investiu de forma notável na formação das novas gerações. Mas falhou na criação de oportunidades para que esses jovens pudessem aplicar as suas competências no país. É urgente capacitar não apenas as pessoas, mas também o país.
O nosso tecido empresarial precisa de um Estado que simplifique, e não que complique; de empresas com escala, porque a economia é global; e de um novo choque tecnológico, centrado na inovação e na competitividade. O investimento público deve ser estratégico e articulado com o investimento privado, potenciando sinergias e resultados duradouros.
São as empresas que criam riqueza e postos de trabalho. Só com a criação de riqueza poderemos ter melhores salários, pensões, rendimentos e melhores oportunidades para captar os nossos talentos. Criar riqueza é prioridade. Saber criá-la sem dependência de fundos comunitários é absolutamente indispensável. Daí que o financiamento ao investimento seja outros dos aspetos prioritários que devamos alterar.
Um verdadeiro choque tecnológico exige visão e coordenação. Propõe-se:
• Criar uma Agência Nacional para a Inteligência Artificial, ao serviço das pessoas;
• Requalificar competências tecnológicas na administração pública;
• Integrar a IA na desburocratização, participação cívica e eficiência coletiva;
• Fomentar parcerias internacionais e o empreendedorismo em áreas que cruzam energia e dados.
A transição energética é igualmente estratégica. É imperativo acelerar a aposta nas renováveis, na mobilidade sustentável e na eficiência energética — ouvindo especialistas e apostando na ciência e na inovação.
2. Olhar o Território com Outra Ambição
Portugal não é pequeno nem periférico. É um país de vasta riqueza humana e natural, com uma dimensão marítima que o torna central nas relações atlânticas e euro-africanas.
A nossa Zona Económica Exclusiva ultrapassa 1,7 milhões de km² — 18 vezes a área terrestre — e poderá atingir 3,8 milhões com a extensão da plataforma continental. Portugal tornar-se-á, assim, um dos dez países com maior área marítima do mundo.
O mar deve ser visto como recurso estratégico nacional e motor de desenvolvimento económico, científico e ambiental. Portugal pode ser uma verdadeira plataforma entre continentes — um país ponte nas rotas do conhecimento, da energia e da tecnologia.
Relativamente ao chamado “interior”, é mais que tempo de o considerarmos apenas uma vez por ano e de dar àquelas populações e territórios as condições para não só subsistirem mas prosperarem. A coesão territorial e a coesão social andam de mãos dadas e fortalecem o país.
3. Rejuvenescer a População Portuguesa
A demografia é talvez o desafio mais silencioso e mais grave que enfrentamos. A nossa população envelhece rapidamente, e o índice de renovação da população ativa é cada vez mais baixo.
Demografia e economia devem conversar entre si. Uma economia de futuro necessita de menos horas de trabalho e de mão de obra mais especializada. Compreender as legítimas ambições das pessoas/trabalhadores e ter a coragem de organizar a economia e a sociedade de firma distinta e inovadora. Sim, é uma sociedade nova que aí vem. Ou decidimos qual queremos ou resignamo-nos a viver no que ela nos trouxer.
4. Reduzir as Desigualdades e Reforçar o Estado Social
O nosso contrato social assenta na redistribuição justa da riqueza e na criação de oportunidades para todos.
Hoje, esse contrato está enfraquecido. O elevador social está emperrado e a rede de segurança tem falhas profundas. Os dados falam por si: défices de literacia e numeracia, dificuldades no acesso à saúde, pensões em risco de desvalorização e uma pobreza persistente que envergonha o país.
A pobreza não é inevitável — é um problema político e moral. Reduzir desigualdades é mais do que justiça social — é também inteligência económica. Menos pobreza significa menos despesa pública e mais receita fiscal. Mas, acima de tudo, significa dignidade e coesão. Um povo é verdadeiramente livre quando cada cidadão tem autonomia para construir o seu projeto de vida.
A igualdade de género é uma dimensão essencial desta luta contra as desigualdades. Garantir que mulheres e homens têm as mesmas oportunidades — no trabalho, na liderança, na remuneração e no acesso a direitos — é uma condição indispensável para uma sociedade mais justa e desenvolvida. A discriminação de género não é apenas uma injustiça individual: é um travão coletivo ao progresso económico, à inovação e à coesão social.
5. Uma Nova Cultura Política
Para dar o salto qualitativo que o país exige, precisamos de uma nova cultura política: mais responsável, mais rigorosa e menos refém da conjuntura.
Em Portugal, abundam planos e programas, mas escasseiam avaliações e resultados. Cada novo plano nasce para anunciar o óbito do anterior. Falta cultura institucional e sobra personalismo político.
Precisamos de governos de projeto, e não de turno; de políticas públicas que sobrevivam aos ciclos eleitorais; de avaliação rigorosa dos resultados; e, sobretudo, de compromisso.
Os partidos devem abandonar a política das trincheiras e adotar a política dos acordos de futuro. Defendo compromissos com soluções concretas e estáveis para os problemas do país e das pessoas.
A estabilidade política não é um fim em si mesma: é o meio para alcançar desenvolvimento sustentável e coesão democrática. Uma democracia sem diálogo é uma democracia moribunda.
Um pais justo e de excelência como desígnio
Um país justo e de excelência exige mobilização coletiva, metas claras, estratégias coerentes e avaliação constante. Algumas mudanças exigirão mais de uma geração. Mas sem compromisso, coragem e liderança, Portugal não avançará.
Vivemos um momento definidor. A guerra na Europa, as tensões globais e a transição tecnológica exigem escolhas claras. É tempo de decidir: um Portugal justo, competitivo, ético e com oportunidades para todos.



