Dá-se esta semana um acontecimento da maior importância: a escolha do novo líder da CDU alemã. Isto atendendo a que com a situação política que se vive no Reino Unido, as questões à volta da Itália e seu orçamento, e agora com os problemas que o Presidente Macron enfrenta em França, o referencial de estabilidade da União Europeia é cada vez mais a Alemanha.

Com efeito, a situação política e social em França alterou-se muito com a contestação às recentes medidas preconizadas pelo Presidente, particularmente os aumentos de impostos. Macron é acusado de se alhear das condições de vida dos franceses, ao estar “muito preocupado com o fim do mundo, enquanto as famílias estão preocupadas com o fim do mês”. E parodia-se dizendo que para ele tudo é resolvido “speechfically”.

Estaria porventura à espera do tempo tratar do problema, como aconteceu no caso da SNCF, jogando também nas divisões que surgiram entre os manifestantes – terá até havido ameaças aos que defendiam o diálogo com o Governo, acusados de terem projetos políticos próprios. De qualquer forma, Macron vai ter mais com que se preocupar a curto prazo do que com o futuro da Europa – no caso, com o futuro do La Republique em Marche.

Ora, este sábado decide-se no congresso anual, em Hamburgo, quem substitui Merkel à frente da CDU. Os principais candidatos são Annegret Kramp-Karrenbauer, secretária-geral da CDU e próxima de Merkel, e Friedrich Merz, adversário de Merkel que se afastou do partido com ela na liderança. Dos 269 delegados que deram ao jornal Bild am Sontag o seu sentido de voto, 144 estavam a favor de Merz, 96 de AKK e 29 de Spahn, o atual ministro da Saúde. Mas vão votar 1001, portanto entre os dois primeiros não é certo quem vai vencer.

AKK (conhecida como mini-Merkel) seguirá uma provável linha de pragmatismo e continuidade, no estilo de Merkel, embora se tenha esforçado ultimamente por se distanciar desta dadas as críticas que a Merkel têm sido dirigidas; Merz é próximo de Schauble, e fará o partido infletir para uma linha mais conservadora e virada para a própria Alemanha. O resultado não será, pois, indiferente para a União Europeia, particularmente neste momento de desafios e dificuldades, em que a força centrífuga ganha força.

Mais, Angela Merkel quer continuar chanceler até 2021, o fim do seu mandato. Mas é pouco provável que consiga se Merz ganhar, dadas as diferenças entre ambos e a vitória de Merz implicar a derrota de Merkel e das suas políticas. Mas mesmo no caso de uma vitória de AKK é pouco provável que esta aceite ficar na segunda linha até às novas eleições, o que poderá ser a primeira condição para a sua derrota. Portanto, com alta probabilidade, a saída de Merkel tem já consequências a curto prazo, e muito para além das fronteiras da Alemanha. Entre os dois esperemos que não seja o diabo a escolher.