Os mercados europeus têm vivido momentos de controlada euforia, na sequência do que foi uma maior clarificação política nas eleições em França, a favor de uma agenda europeia, mas também devido a uma melhoria do agregado da economia da zona euro, onde, de facto, existem sinais mais animadores para o futuro. Adicionalmente, os riscos associados a uma súbita alteração da política de estímulos por parte do Banco Central Europeu, em virtude de uma maior pressão do lado dos preços, também parece ter ficado de lado, após a reunião do comité mensal de política monetária do mês de julho. Esta última reunião trouxe uma ligeira alteração na tonalidade do discurso e, nesta altura, apesar de continuar confiante no processo de retoma da economia do euro, Mario Draghi não quer colocar metas para o final dos estímulos, reiterando que a estratégia de saída do BCE será um processo gradual.
Estes fatores criam um cenário favorável para os mercados de risco europeus, uma vez que à melhoria das leituras económicas e dos resultados das empresas, se juntará uma perspectiva favorável em termos de subida de taxas de juro. Recorde-se que, nesta altura, quando olhamos para as valorizações das grandes empresas cotadas europeias em termos de base de múltiplos comparáveis, estas se encontram mais apetecíveis que outras empresas equivalentes, como é o caso das empresas norte-americanas. As blue chips europeias podem por isso continuar a valorizar nos próximos trimestres, o que é uma boa perspectiva para os investidores em ativos europeus, que nos últimos anos têm enfrentado riscos de natureza geopolítica mais complexa. Estes não desapareceram por completo, mas são nitidamente menores que há um ano atrás. Os fundamentais parecem ter, por fim, tomado o palco central das decisões.
Por último, este poderá ser um grande ano para Portugal, apesar das nossas fragilidades económicas estruturais. Este posicionamento do BCE, disposto a prolongar o programa de estímulos (ou euro QE) no tempo, deverá continuar a manter os custos de financiamento da república em níveis extraordinariamente reduzidos. Os mercados acionistas poderão ser muito beneficiados por este fator, e isso já se tem traduzido na valorização de setores chave, como o da banca. Na realidade, isto significa que Portugal tem mais tempo para proceder às necessárias reformas estruturais, que têm sido adiadas em nome de uma suposta agenda anti-austeridade – curiosamente 2016 foi o ano em que se pagou mais impostos per capita. Esperemos que, nesta casa portuguesa, haja bom senso sobre a mesa.