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“Uma recessão ainda mais profunda com divergências mais amplas”: Bruxelas vê economia da zona euro a cair 8,7% este ano

A Comissão Europeia adverte que o levantamento das medidas de restrição de forma mais gradual do que o inicialmente previsto tem um impacto na atividade económica mais severo do que o antecipado. Riscos associados às previsões são “excecionalmente elevados”.
7 Julho 2020, 09h00

“A economia da União Europeia irá enfrentar uma profunda recessão este ano devido à pandemia do coronavírus, apesar da rápida e abrangente resposta política ao nível da União Europeia e dos governos nacionais”. O vaticínio de Bruxelas não é novo, mas é ainda mais pessimista e alerta que o impacto da paralisação das economias será mais severo do que o inicialmente previsto.

Nas “Previsões de verão”, publicadas esta quarta-feira, a Comissão Europeia projecta uma contração do PIB da zona euro de 8,7% este ano e do conjunto dos países da instituição de 8,3%, um cenário mais adverso do que os 7,7% e 7,4%, respetivamente, estimados em maio e que apontavam já para uma “recessão recorde”. 

“Como o levantamento das medidas de confinamento está a ocorrer de forma mais gradual do que o previsto nas “previsões de primavera”, o impacto na atividade económica em 2020 será mais significativo do que o antecipado”, explica o executivo comunitário.

Para o próximo ano, Bruxelas vê a economia da zona euro a crescer 6,1% e 5,8% na União Europeia, o que se traduz por “um crescimento ligeiramente menos vigoroso do que o projetado na primavera”.

“O impacto económico do confinamento é mais grave do que se previa inicialmente. Continuamos a navegar em águas agitadas e enfrentamos numerosos riscos, incluindo outra grande vaga de infeções”, frisa Valdis Dombrovskis, vice-presidente executivo da Comissão. O responsável pela pasta “Uma economia ao serviço das pessoas” defende que “esta previsão ilustra claramente a necessidade de um acordo sobre o nosso ambicioso pacote de recuperação, NextGenerationUE, para ajudar a economia”.

“Para este ano e o próximo, podemos esperar uma retoma, mas teremos de estar vigilantes quanto ao ritmo diferente da recuperação”, adverte, numa posição partilhada por Paolo Gentiloni, comissário europeu responsável pela Economia, que sustente a necessidade de um acordo sobre o plano de recuperação com o objetivo “de injetar mais confiança e mais recursos financeiros nas nossas economias neste momento crítico”.

Recuperação no segundo semestre

Apesar dos efeitos devastadores para a economia no primeiro semestre e com impacto para a totalidade do ano, a Comissão Europeia espera “que a recuperação ganhe dinâmica no segundo semestre de 2020”.

Dando nota de que com um período de confinamento muito mais longo no segundo trimestre do que no primeiro, prevê-se que a produção económica se tenha contraído “muito mais”. Ainda assim, assinala que “os dados iniciais relativos a maio e junho sugerem que o pior poderá ter passado”.

“Prevê-se que a recuperação venha a ganhar dinamismo no segundo semestre do ano, embora permanecendo incompleta e desigual entre os Estados-Membros”, explica Bruxelas.

Realçando que o choque para a economia da União Europeia “é simétrico na medida em que a pandemia atingiu todos os Estados-Membros”, aponta que “tanto a quebra da produção em 2020, como a força da retoma em 2021, deverão diferir acentuadamente”.

“As diferenças entre os Estados-Membros no que respeita à magnitude do impacto da pandemia e ao vigor da recuperação deverão ser mais acentuadas do que o esperado nas previsões da primavera”, vinca.

Riscos excecionalmente elevados

Bruxelas sublinha que os riscos associados às previsões “são excecionalmente elevados e sobretudo no sentido negativo”. A Comissão Europeia aponta para a incerteza em torno da escala e duração da pandemia, assim como da eventual necessidade de medidas de confinamento e explica que as previsões “partem do princípio de que prosseguirá o levantamento das medidas de confinamento e não haverá uma ‘segunda vaga’ de infeções”.

Destaca ainda que existem “riscos consideráveis” associados ao mercado de trabalho, que poderá “vir a sofrer mais prejuízos a longo prazo do que o previsto”, assim como “as dificuldades de liquidez poderem transformar-se em problemas de solvência para muitas empresas”.

“A estabilidade dos mercados financeiros está ameaçada e existe o perigo de os Estados-Membros não conseguirem coordenar suficientemente as suas respostas estratégicas nacionais”, adianta ainda. Realça ainda o risco da União não chegar a um acordo comercial com o Reino Unido, assim como “as políticas protecionistas e um afastamento excessivo das cadeias de produção mundiais”.

Por outro lado, refere que a possibilidade de se assistir a uma evolução mais positiva, como a disponibilidade precoce de uma vacina contra a Covid-19, assim como para os efeitos positivos dum acordo para o plano de recuperação da União Europeia.

(Atualizado às 09h27)

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