O estado em que se encontram os nossos comboios é inadmissível e extremamente preocupante. Notícias recentes deram conta de que o risco de acidentes nas linhas de comboio aumentou 85% no espaço de cinco anos. O péssimo estado das vias, a proliferação de carris partidos, a degradação do material circulante, tudo se acumula para um estado geral de degradação que potencia o surgimento de acidentes.

De acordo com a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, dos 146 problemas “precursores de acidentes” identificados em 2012 passou-se para 271 deficiências em 2016, o que representa os 85% mencionados no parágrafo anterior. Mas não só. Uma outra notícia dá conta dos comboios suprimidos todos os dias e dos muitos outros que somam atrasos. O serviço de comboios Alfa vê-se substituído por comboios regionais e, só na passada semana, foram suprimidos no mesmo dia 11 comboios nas linhas do Algarve, no dia seguinte quatro no Algarve e três no Oeste. E mais seis no Oeste no dia a seguir a esse e assim continua, sucessivamente, afetando os passageiros e, ao prejudicar a vida pessoal e profissional dos cidadãos, afeta também a economia.

Em mais uma das habituais manobras de propaganda e de cosmética de que este Governo tanto gosta, o ministro responsável passeou de comboio elétrico. Pedro Marques é o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, mesmo que – no caso da CP – se desconheça que planeamento existe e as infraestruturas se degradem. Uma viagem de comboio elétrico não serve para mascarar a dura realidade dos factos. Como escreveu um jornal após o ministro se passear num troço de dez quilómetros de percurso eletrificado: “É pouco, mas é o que o Governo tem para mostrar”, numa empreitada que leva mais de um ano de atraso e já deveria ter sido concluída em março deste ano.

A Ordem dos Engenheiros, e bem, já considerou toda esta situação “particularmente grave”, avisando que a infraestrutura precisa de ser modernizada e o material circulante de ser substituído”, mas só uma ínfima parte dos dois mil milhões de euros de projetos ferroviários anunciados em 2016 pelo Governo de António Costa está efetivamente em execução.  Os exemplos de inação são múltiplos. O Corredor Internacional Sines Badajoz não foi sequer ainda adjudicado, quando deveriam ter arrancado as obras no início deste ano. Na Linha do Oeste, com obras prometidas pelo Governo socialista até ao final de 2017, o projeto não avançou. E, quando questionado relativamente a isso por um órgão de comunicação social, o ministro Pedro Marques não respondeu com explicações nem quanto ao atraso nem mesmo quando haverá então concurso público.

Num desesperado esforço de camuflagem da realidade, o ministro da tutela e o próprio António Costa multiplicam-se em visitas às mesmas poucas obras que efetivamente existem. Mas, todos os dias, especialistas e cidadãos denunciam publicamente, reclamam e sofrem na pele o descalabro de um serviço de transportes que já foi outrora de excelência.

Aproxima-se o Natal, altura em que portugueses recorrem aos comboios para se reunirem com as suas famílias. Mas a CP não está sequer preparada para o afluxo de passageiros em dias normais do ano, quanto mais neste período festivo. Teme-se o pior e é indispensável que se invertam esta situação de decadência e este estado calamitoso dos comboios, antes que uma qualquer tragédia – algo que infelizmente nos últimos tempos tem sido recorrente – nos surja para recordar de forma gritante tudo o que não foi feito. Não podemos continuar a ter uma CP e um Governo descarrilados.

 

O último Orçamento do Estado da legislatura foi aprovado com os votos do PS/PCP/BE. O que assistimos durante a discussão do Orçamento, e que ficou bem claro, é uma evidente desintegração do modelo que António Costa, de forma muito hábil e eficaz, sonhou e realizou com os partidos de esquerda.

Passado o OE, a “paz podre” à esquerda foi-se, e o país vai assistir ao desplante da competição demagógica e populista das esquerdas até às eleições legislativas do próximo ano.