Há dias, uma amiga dizia-me que ia acompanhando a atitude dos britânicos face ao Brexit pela consulta, com regularidade, dos “sites” das casas de apostas no Reino Unido.

Ao contrário de que acontece por cá, por lá existem apostas a propósito de tudo e de nada, desde estes episódios da vida política às datas dos casamentos dos príncipes. E se pensarmos que cada um arrisca o seu dinheiro naquilo que acha mais plausível, talvez devamos concluir que o modo como os apostadores olham os episódios em que o Brexit se vai sucessivamente declinando não deixa de ser um barómetro interessante sobre o estado daquela opinião pública.

O caso do divórcio britânico da Europa irá, no futuro, dar origem a muitos livros. E em todos eles, estou certo, se especulará, com alguma razão, sobre como foi possível, a um país com a importância e a experiência histórica do Reino Unido, deixar-se aprisionar num tortuoso processo negocial de saída de uma estrutura institucional a que havia ligado o seu quotidiano por décadas.

É que o Brexit acabou por transformar-se, para o Reino Unido, numa verdadeira ratoeira. O referendo em que a decisão de saída foi tomada, cuja legitimidade democrática é incontestável, resultou de uma campanha muito marcada por temas emocionais, pelo potenciar de alguns medos, que uma análise serena veio a demonstrar serem completamente infundados.

A isso se somou a obsessão, que era antiga, de recuperar a “soberania” e de deixar de estar “sob as ordens de Bruxelas” (como se não fossem os ministros britânicos quem também votava a legislação que ali se produz).

Escrevi atrás “ratoeira” com plena intenção. Obrigado a seguir o resultado do referendo, o governo britânico viria a deparar-se com uma missão quase impossível. Quando a poeira assentou, Londres terá percebido a imensa dificuldade daquilo a que não iria poder fugir.

Foi assim obrigado a uma complexa negociação, tendo do outro lado da mesa a vontade, institucionalmente federada pela Comissão Europeia, de 27 Estados, surpreendentemente atuando em uníssono e que não lhe facilitaram a vida. Se o Reino Unido queria abandonar a UE, e porque desde logo informou que a alternativa de ficar não existia, então o pacote de condições iria ser severo. E foi.

Qualquer governo britânico, perante um resultado negocial obtido sob uma inescapável pressão, iria ter sempre uma grande dificuldade em garantir o voto maioritário de Westminster. Mas uma primeira-ministra que começara por ser a favor da permanência na UE, para depois fazer uma cambalhota, com uma maioria escassa e politicamente periclitante, era o pior interlocutor para um acordo que implicava grande sentido de compromisso e o “engolir” de alguns sapos.

Na vida profissional, aprendi que nada é pior do que negociar com uma parte marcada pela fraqueza, debilitada na sua capacidade de fazer vingar aquilo a que se comprometeu. Theresa May é isso tudo e, talvez por essa razão, só os videntes nos possam hoje ajudar a pôr o nosso dinheiro nas casas de apostas, acerca do resultado final desta imensa trapalhada em que se transformou o Brexit.