Todas as atividade que estão ligadas ao turismo, de forma direta e indirecta, precisam de ajuda musculada. O perigo está a formar-se com a constituição de fundos de investimento abutres cujo único objetivo é comprar hotéis por “tuta e meia”. Os meses de verão não vão ser propícios a esse tipo de negócio, mas logo no outono vão dar à costa.

O turismo está numa asfixia insustentável e no Algarve, destino privilegiado do país para férias, praticamente 100% da hotelaria deverá fechar depois de setembro. Em junho, as unidades encerradas terão chegado aos 90% e a abertura para julho e agosto está cheia de incógnitas.

Portugal já foi acusado de ser o aluno honesto, ou seja, está a fazer testes intensivos, algo que não conseguiu nos primeiros meses da pandemia, e agora emerge o desastre do desconfinamento aleatório das últimas semanas. E do bom aluno que aprendeu rápido e tomou iniciativas, passou ao segundo pior exemplo da Europa. Passar de bestial a besta foi um instante e os reflexos na economia não se fizeram esperar. Como é evidente, espera-se uma repreensão do eleitorado por esta falha de objetividade.

Falando ainda do Algarve, a média de reservas na hotelaria está a cair dos 40% para os 20% e em algumas unidades está reduzida a 10% da capacidade. A expetativa reside no turismo nacional mas, a verdade, é que se o turismo nacional nunca encheu hotéis não será no período de pandemia que isso irá acontecer.

As ajudas são precisas e de forma musculada, não apenas para assegurar postos de trabalho para daqui a um ano, mas também a integridade das estruturas hoteleiras, evitando vendas em massa a fundos de investimento que estão a ser constituídos em períodos de grande aflição. Preservar as estruturas societárias de capital nacional é prioritário.

E não nos esqueçamos dos alertas da Organização Mundial de Saúde, que ainda por estes dias afirmava que a pandemia crescia “a um ritmo alarmante” com um milhão de infetados em todo o mundo em apenas uma semana. O FMI fala de uma crise sem precedentes no mercado de trabalho ligado ao turismo, da hotelaria e restauração, ao rent-a-car e agências de viagens. E adianta que serão necessários vários anos para recuperar.

Nós, em Portugal, temos 20% do PIB exposto ao turismo e regressámos ao défice no primeiro trimestre, de acordo com o INE, depois de um saldo público excedentário de 0,2% do PIB em 2019. A situação dificilmente irá melhorar quando Portugal está numa espécie de “lista negra” para determinados países devido à propagação do vírus, sobretudo em Lisboa e Vale do Tejo. O próprio Reino Unido está a estudar a atitude face a Portugal e, como sabemos, este país é o principal emissor de turistas para o Algarve.

Não menos grave é a situação de indefinição da TAP. Bruxelas impôs um plano de auxílio, recusando o recurso ao quadro temporário de ajudas no âmbito da Covid-19. A TAP é necessária para os interesses de Portugal mas o Governo, via ministro da tutela, tem tido uma atitude musculada e o presidente executivo da TAP está a responder na mesma moeda. Não se antecipada nada de bom.