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Veja a entrevista em que Bruno de Carvalho avisou que ia recorrer à justiça: “Para ir a eleições, vai ter que ser uma decisão do tribunal”

Bruno de Carvalho diz ter uma providência cautelar que anula a assembleia geral do Sporting Clube de Portugal que o destituiu. Em entrevista ao Jornal Económico, no início do mês, já tinha avisado que recorreria à justiça e dizia que o processo eleitoral do clube seria decidido nos tribunais.
17 Agosto 2018, 13h47

Bruno de Carvalho está no estádio do Sporting Clube de Portugal para entregar uma providência cautelar que poderá anular a assembleia geral do clube onde foi destituído. A 3 de agosto, em entrevista ao Jornal Económico, o primeiro presidente destituído da história do Sporting avisava que estava a recorrer à justiça e que o processo eleitoral do clube seria decidido nos tribunais. “Para ir a eleições, vai ter que ser uma decisão do tribunal”, disse.

Logo a seguir à entrevista ser feita, a candidatura de Bruno de Carvalho foi recusada pelo presidente da mesa da assembleia geral do Sporting, Jaime Marta Soares, e Bruno de Carvalho foi suspenso de sócio do clube pelo período de um ano.

Na entrevista ao Jornal Económico, Bruno de Carvalho recorda os ordenados em atraso que encontrou quando chegou aos “leões” e considera que o Sporting é, neste momento, um projeto apetecível, o que, por si só, justifica a existência de tantos interessados em chegar à liderança dos “verde-e-brancos”. Critica os candidatos, especialmente José Maria Ricciardi. Mantém as críticas aos órgãos do clube que permitiram a assembleia que levou à sua destituição e solicita que todos possam ter o direito a concorrer às próximas eleições. Já antecipando a suspensão de sócio – que o Jornal Económico noticiou –, afirma que só conseguirá ser candidato com uma decisão do tribunal que o permita.

Acredita que ainda vai participar neste ato eleitoral?

Acredito que mais cedo ou mais tarde isto se vai resolver, não sei se será dia 8 [de agosto], mas gostava que sim. Os sportinguistas querem paz, querem participar numas eleições livres, democráticas e decidir rapidamente aquele que é o seu futuro, mas começam a existir muitos atropelos. Já se ventila a hipótese de se atrasar as eleições; não me parece a situação mais correta mas, infelizmente, acredito que toda a estratégia esteja a passar primeiro para que eu não vá a eleições e, segundo, como toda a gente já percebeu, estamos num “mar” de ilegalidades. Há decisões a ser tomadas que considero serem perigosas para o clube.

Esperava que houvesse tantos candidatos?

Estas eleições estão a ter algo que é bom e outro aspeto que considero ser mau. Como positivo, considero que, finalmente, acabou a hipocrisia dentro do Sporting. O que tem de mau é que todo este processo, muito bem pensado e estruturado, de me tentar afastar das eleições, aquilo que pretende é, num golpe, sem que os sportinguistas tenham nada a dizer, percam de facto poder e que os sócios deixem de ter interesse. Como já ouvi da parte de tantos, interessa muito mais ter acionistas do que sócios, perder a maioria da SAD, o pavilhão, o nosso ecletismo, ADN, identidade… isso é o que mais me preocupa.

Falou na SAD e em manter a maioria do capital no clube. É a sua prioridade?

Sempre. Em 2011, fui muito criticado por especialistas económicos quando disse que os clubes são para dar dinheiro, que as SAD são para dar dinheiro e que era possível ser competitivo e ter resultados positivos. E provei que esses especialistas não saem de uma coisa importante que são os livros, mas depois, ainda mais importante, é pôr essas teorias de lado e perceber que a vida nos vai dando teorias distintas. Continuo a acreditar, porque provei que se conseguia ter modalidades extremamente competitivas, que se podiam investir valores até 100 milhões no futebol e ter equipas extremamente competitivas e ter sempre resultados positivos, quer na SAD, quer no clube. As nossas medidas passam por trazer mais associados: queremos atingir os 250 mil, exatamente para trazermos ainda mais duas modalidades históricas para o clube: rugby e basquetebol masculinos seniores. Modernizar as nossas infraestruturas, nomeadamente o estádio, que necessita de uma forte intervenção. Um estádio com uma média de 43 mil pessoas não pode ter apenas quatro portas de entrada, tem de passar para 17; tornar o estádio inteligente, com ecrãs de última geração, linhas digitais, wi-fi grátis para todos, o maior outdoor digital do país de um clube para o exterior.

Considera que existe resistência à sua candidatura?

Se fosse um elemento tão fraco nestas eleições, estas pessoas, que de forma irregular estão no Sporting, já tinham resolvido esse problema. Algum motivo grave os leva a não nos querer em eleições; talvez as sondagens que estejam a fazer não lhes estejam a correr bem. Além desta comissão de gestão, que é uma ilegalidade pura – a comissão de fiscalização e o próprio Jaime Marta Soares – é a cobardia dos candidatos que mais me tem espantado. Nunca imaginei que José Maria Ricciardi fosse tão cobarde, e é cobarde a partir do momento em que diz “não vamos falar de Bruno de Carvalho, porque não faz sentido que vá a eleições”. Não o via como cobarde, via-o com muitos defeitos, mas não como cobarde, mas realmente ele, o [Frederico] Varandas, o [João] Benedito, tenho-os visto com tanta vontade que eu não vá, já para não falar dos outros candidatos. Estão cheios de medo que eu vá a eleições.

Como é que analisa o trabalho da comissão de gestão?

Neste momento, o clube não está a comprar absolutamente nada a não ser os jogadores todos que eu já tinha contratado. Nos últimos três meses, enquanto as pessoas andaram em notícias, atrás de notícias e os sportinguistas numa luta uns com os outros, nós andávamos a contratar treinador, mesmo tendo agentes a ligar para treinadores a pedir para não aceitarem. Não considerávamos na altura o regresso de nenhum destes jogadores [que rescindiram contrato] e não estou a dizer se o regresso é bom ou mau. Durante três meses estive com a minha equipa a trabalhar com uma certeza: tinha de fazer tudo como sempre fiz, ou seja, conciliar aquele que é o interesse de 3,5 milhões de sportinguistas onde me incluo. Serei feliz se formos campeões em tudo, mas também se cumprir aquela que tem de ser a nossa visão que é a sustentabilidade financeira do clube. Era claro para nós que tínhamos de diminuir o orçamento de 100 milhões [de euros] para 75 milhões. Construímos tudo de forma a podermos lutar para ser campeões e cumprir esse orçamento. Duvido que isso já não tenha sido largamente ultrapassado, para manipular estas eleições, porque esta comissão que está a gerir a SAD não tem isenção.

Se voltar a ser presidente, o que mudará na sua atuação?

Temos de olhar para os nossos rivais. Um dos presidentes está lá há mais de 30 anos. Outro está lá há cerca de 15 anos e tem enfrentado casos em que é arguido. O Sporting tem que se impor às grandes instituições, porque não era ouvido, não era tido em conta, era um clube simpático que estava lá na parede das federações e das ligas. Se me quisesse ter mantido como presidente, tinha aceite tudo: pagar os sete milhões à Gestifute, o que o agente do Bruno Fernandes pediu, o que o agente do Bas Dost requereu, assim como os representantes do Battaglia e do Rafael Leão. Percebi a necessidade de uma equipa diferente, que a minha equipa se aproveitou do projeto para ter uma muleta e que neste momento criei uma equipa que acredita no projeto e não precisa dele para ser uma muleta.

 

 

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