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Venezuela: como a corrida ao ouro financia o governo de Maduro

Cada vez há mais venezuelanos à procura de ouro nas selvas da Venezuela. Apesar da proibição, o governo de Maduro consegue encontrar compradores. A Turquia é o principal destino do metal.
11 Fevereiro 2019, 15h57

Atolada na pior crise económica na história moderna da Venezuela, o governo de Nicolás Maduro está a patrocinar uma verdadeira corrida ao ouro que se encontra algures na selva – através da aquisição do metal preciso no qual gastou, desde 2016, 650 milhões de dólares (por 17 toneladas), segundo os dados mais recentes do Banco Central da Venezuela (BCV).

O esforço dos mineiros artesanais, como são definidos pelo governo, resultou na entrada de divisas, vitais para as finanças do governo, mas os Estados Unidos estão dispostos a impedir este comércio pela força das sanções e pressões internacionais – que já chegaram ao Banco da Inglaterra, onde estão parqueados cerca de 1,2 mil milhões de dólares em barras de ouro.

Um carregamento de ouro da Venezuela para os Emirados Árabes Unidos foi cancelado há alguns dias: a Noor Capital garantiu que não tinha planos de fazer novas aquisições, depois de ter adquirido três toneladas de barras de ouro venezuelano em 21 de janeiro passado.

A agência Reuters investigou a complicada rede de prospeção, transformação e venda do ouro e concluiu que as histórias refletem o desespero do governo para obter moeda de curto prazo, numa altura em que o petróleo, a principal commoditie do país, não tem acesso livre ao mercado.

Com um setor formal da mineração quase extinto após a política de nacionalizações, Maduro confia nos milhares de mineiros «informais’ que trabalham (a maioria sem documentos) para extrair a riqueza mineral em condições desumanas e, como já disse a oposição, produzindo uma enorme catástrofe ecológica.

Os acidentes são comuns nas áreas de prospeção, com os mineiros a terem ainda de enfrentar os maus-tratos dos capatazes.

Para além dos Emirados, Maduro também conta com a ajuda do presidente turco, Tayyip Erdogan, para realizar as suas operações de venda internacional. A Venezuela vende a maior parte do ouro a empresas turcas e usa parte da receita para comprar bens de consumo básicos: pacotes de massa e leite em pó turcos fazem parte das cabazes de alimentos distribuídos por Maduro. O comércio entre as duas nações aumentou oito vezes no ano passado.

Mas a controvérsia sobre o esquema de venda de ouro está a intensificar-se à medida que a crise política na Venezuela atinge um ponto de ebulição. A oposição pediu aos compradores de ouro do exterior que parassem de fazer negócios com Maduro. ”Vamos proteger o nosso ouro”, disse Carlos Paparoni, um dos líderes da oposição e parlamentar com funções na área financeira.

As reservas de ouro do banco central Venezuela caíram para os níveis mais baixos dos últimos 75 anos, mas a rota da Turquia está a ser usada para o negócio. A Venezuela anunciou em dezembro de 2016 um voo direto de Caracas para Istambul com a Turkish Airlines, uma rota que surpreendeu os observadores dada a baixa procura de viagens entre as duas nações.

Dados alfandegários mostram que estes aviões transportam mais que passageiros. No dia de Ano Novo, o banco central despachou cerca de 36 milhões de dólares em ouro para Istambul por via aérea. Aconteceu algumas semanas depois de uma visita oficial de Maduro à Turquia.

Os embarques no ano passado totalizaram 900 milhões de dólares, o equivalente a cerca de 23 toneladas, de acordo com dados do governo turco e relatórios aduaneiros.

O banco central tem vendido a sua mineração de ouro diretamente a empresas e refinadores turcos. Os rendimentos vão para o Banco Nacional de Desenvolvimento da Venezuela, Bandes, para comprar produtos de consumo na Turquia.

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