1. A história dos trabalhadores agrícolas em Odemira e noutros concelhos alentejanos é a vergonha nacional.

Não é do conhecimento recente a história da sobrelotação das habitações, da exploração de mão de obra frágil e da falta de ética por quem os contrata. Não vale a pena assentar a defesa nas empresas prestadoras de serviços porque quem lhes paga no final tem de ter comportamento digno e não o tem há muitos anos.

Quando muitos responsáveis políticos e técnicos falam hoje no assunto, devem, antes de mais, refletir porque não o fizeram antes, há anos.

Esta é uma situação que, localmente, todos conhecem. Como é possível ‘amontoar’ 30 pessoas num T3? Como é possível que estrangeiros andem a vaguear pelas vilas e montes alentejanos sem terem qualquer vínculo laboral? Onde estão as autoridades de trabalho e as autoridades sanitárias?

É uma vergonha dupla porque para além de se ter deixado a situação chegar a este ponto – e iremos sempre perguntar se só agora é que descobriram a situação –, a solução política para o confinamento de meia centena de trabalhadores passa pela ocupação de um complexo turístico que não é público e tem proprietários privados individuais.

Ficámos a saber que legalmente é possível ocupar qualquer habitação, independentemente de isso prejudicar o proprietário. E perante dúvidas de legalidade perguntamos se isso será ético. Hoje foi no Alentejo, amanhã pode ser num complexo turístico no Algarve. Será que não havia instalações públicas onde alojar a meia centena de pessoas na região?

2. Um outro tema, não de legalidade mas de ética, é o pagamento de prémios a administrações e a gestores por parte de empresas com prejuízos ou perdas assinaláveis.

Aconteceu no Novo Banco, mas já tinha acontecido na TAP. A conclusão simples é que o prémio é um direito adquirido equivalente ao ordenado e, independentemente dos resultados, é para receber. Qual a necessidade de o qualificar como prémio se poderia ser recebido mensalmente como ordenado? Seria transparente e não colocaria questões de ética.

3. As rescisões e despedimentos e outras formas de cessão da relação laboral na indústria da banca estão em cima da mesa há vários anos, possivelmente há duas décadas.

Na prática foi a evolução tecnológica, mas também a perda dos negócios tradicionais com margem, e também as quebras de atividade dos bancos ligadas a más decisões de investimento ou às guerras pelo controlo dos bancos. Mas temos de salientar uma exceção à regra, o Santander, que teve um comportamento no mínimo amistoso com Portugal.

Basta recordar que quando em 2000 o Santander absorveu o Totta poderia, nessa altura, ter ligado toda a operação de Portugal à de Espanha, e empurrado centenas de colaboradores para a rua por extinção de postos de trabalho. Não o fez e demorou 20 anos a baixar o número de empregados. Quando alguém se reformava a opção era deslocar gente da retaguarda, dando tempo a tratar de reformas e rescisões por mútuo acordo.

Numa altura em que se fala da extinção de 150 postos de trabalho e do programa 55+, é preciso ir contra a corrente e, em vez de criticar, fazer um elogio. Poderiam ter tratado o Totta e Portugal como a Catalunha, fechando a informática, a contabilidade, a direção de marketing, mas não o fizeram.