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Vichai Srivaddhanaprabha: o ‘rei’ de Leicester

O multimilionário tailandês comprou o clube britânico em 2010, quando este militava na segunda liga inglesa. Em apenas seis anos, conseguiu um título inédito de campeão nacional na Premier League. No último sábado, um desastre de helicóptero vitimou-o aos 60 anos.
17 Novembro 2018, 13h00

Deu esperança a todos de que o impossível era possível”. A frase faz parte da mensagem de despedida que Kasper Schmeichel, guarda-redes do Leicester City, dedicou ao dono do clube, Vichai Srivaddahanaprabha, que no último sábado, 27 de outubro, morreu juntamente com quatro pessoas, pouco tempo depois do helicóptero que habitualmente aterrava e levantava voo do centro do relvado cair no parque de estacionamento, incendiando-se de imediato.

Vichai Raksriaksorn nasceu a 3 de abril de 1957, em Banguecoque, na Tailândia e tornou-se no quarto homem mais rico do país, com uma fortuna avaliada em mais de três mil milhões de euros, depois de se tornar dono do King Power Group, uma empresa tailandesa de lojas de duty-free, que geria com um espírito familiar.

O primeiro espaço foi aberto em 1989 e, 17 anos depois, em 2006, controlava o negócio em todos os aeroportos da Tailândia. Foi então, que quatro anos volvidos decidiu entrar no mundo do desporto e comprar a Milan Mandaric por 43 milhões de euros o Leicester City, que na altura disputava o championship (equivalente à segunda divisão portuguesa). O patrocínio nas camisolas, bem como o nome do estádio passaram a denominar-se King Power. Pagou todas as dívidas do clube e fez um investimento de 112 milhões de euros numa academia de treinos.

Em 2011, Vichai viu o seu apelido ser agraciado pelo Rei tailandês, passando a chamar-se Srivaddhanaprabha, (‘luz de glória progressiva’), mas a verdadeira glória para os adeptos do Leicester surgiria em 2016, quando o clube fez o impensável e conquistou o título de campeão inglês.

Descrito como um homem calmo e discreto, Vichai mantinha uma relação de proximidade não só com os jogadores e adeptos do clube, como com a própria cidade em si. Prova disso eram os vários almoços de beneficiência ou a doação de mais de mil milhões de euros para um hospital local, aquando da conquista do campeonato ou os 25 mil euros que deu a um adepto do Leicester, cujo filho sofria de uma doença rara. Sempre que celebrava mais um aniversário distribuía cerveja, cachorros, donuts e cachecóis pelos adeptos que passassem pelo estádio, ritual que repetia para com aqueles que acompanhavam a equipa nos jogos fora.

Quanto aos jogadores, receberam do seu presidente um BMW, como presente pela conquista do título, mas o respeito com que este os tratava era maior do que qualquer oferta. Vichai chegava mesmo a levar os monges budistas que o acompanhavam nos seus eventos de caridade ao balneário do clube para abençoar os jogadores e lhes dar força.

Casado e pai de quatro filhos, dois homens (Aiyawatt e Apichet) e duas filhas (Voramas e Aroonroong), que trabalhavam na sua empresa. O filho Aiyawatt é também vice-presidente do Leicester City . Fora dos relvados Vichai Srivaddahanaprabha era apaixonado por cavalos, com alguns deles a participarem em corridas. O pólo era outro dos seus desportos de eleição, tendo mesmo jogado contra a família real britânica.

“Ele (Vichai) era um homem de negócios com valores fortes, que era dedicado à família e que apoiava um número importante de causas solidárias”, referiu o príncipe William. Para o Leicester, levou esta temporada os portugueses Ricardo Pereira, proveniente do Futebol Clube do Porto, e Adrien Silva, vindo do Sporting Clube de Portugal.

O antigo capitão dos ‘leões’ foi um dos muitos que através das redes sociais mostrou a sua tristeza pelo desaparecimento do dono do clube. “Nunca esquecerei o grande Homem que sempre acreditou em nós e tornou o sonho realidade deste clube e desta cidade”, escreveu.

Apesar de falar mal inglês, o magnata tailandês ganhou a estima e o respeito de todos os cidadãos e adeptos do clube, que já equaciona mudar o nome do estádio em sua homenagem.

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