António Vieira Monteiro não gostava de amadorismo e admitiu numa entrevista ao “Expresso” ser pouco condescendente com a falta de análise aos problemas. Quem o conheceu sabe que não tinha papas na língua e não hesitava em dizer o que pensava, algumas vezes recorrendo à ironia. Os banqueiros reconheciam a sua “personalidade fortíssima” com que se impunha nas decisões, tal como o descreveu António Horta-Osório.
Chegou à presidência executiva do Santander Totta em 2012, onde permaneceu até 2019. Aos 72 anos passou a chairman, deixando o lugar de CEO para Pedro Castro e Almeida. Nunca se dava por derrotado, e quando o Santander Portugal comprou os ativos do Banif e teve de incorporar a sucursal do Banco Popular, fez questão de deixar a presidência com toda a integração concluída. A sua missão era fazer do Banco Santander Totta um banco de empresas. Saiu “pela porta grande” da instituição financeira do grupo espanhol de Ana Botín, de quem foi colega e amigo. Deixou-nos esta semana, vítima da Covid-19, mas como disse Pedro Castro Almeida “o legado de Vieira Monteiro permanecerá sempre connosco”.
Entrou para a banca antes do 25 de abril, iniciando a carreira enquanto estagiário de uma agência em Almada do então Banco Português do Atlântico (BPA). Aí fez de tudo. Embora tenha estudado Direito por tradição familiar e por não ter muito jeito para Económicas, aprendeu contabilidade e a ler balanços para acompanhar a vida dos créditos que concedia. Estávamos na era antes das nacionalizações da banca, e a palavra de ordem era a dinamização das empresas portuguesas.
Em 1973 muda-se para o Crédito Predial, acompanhado por Rui Vilar, que em 1982 o levou para o Banco Espírito Santo. Por esta altura, Vieira Monteiro já era um habitué da atividade internacional da banca, reestruturando créditos das empresas que sempre acompanhou. O BES que, dizia Vieira Monteiro, “era uma mina de ouro”.
Em 1989, Rui Vilar é nomeado presidente do maior banco português, a Caixa Geral de Depósitos, e leva consigo Vieira Monteiro.
Foi vice-presidente da CGD entre 1993 e 2000. Na entrevista ao “Expresso”, Vieira Monteiro lembrou que o banco do Estado, com administradores fortes e competentes, fazia dinheiro e mantinha-se em pé de igualdade com a principal concorrência durante os anos loucos da banca portuguesa das décadas de 1990 e 2000. Defendia que “os princípios da gestão são imutáveis”. Mas era um crítico da gestão estatal das empresas, “o problema na gestão pública é que os senhores governantes podem querer lá pôr os seus acólitos”.
Entra no Santander a convite de António Horta-Osório – que o colocou na área do risco por confiar na sua habilidade e rigor, essencial para gerir em tempos complexos. “O banco sempre teve uma política conservadora, sobretudo na área da concessão de crédito”, disse, ao “Expresso”, na sua última entrevista, explicando a estabilidade financeira do banco espanhol: “Grande parte dessas operações que hoje andam aí nas bocas do mundo passaram aqui e foram todas recusadas”.
O banqueiro que foi o segundo português vítima da Covid-19 iria fazer 74 anos a 21 de março.
Artigo publicado na edição de 20-03-2020 do Jornal Económico. Para ler a edição completa, aceda aqui ao JE Leitor
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