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Vindimas 2020: No Douro, ‘ano bissexto, ano travesso’

Amanhã, será dada voz aos produtores de Vinhos Verdes, no Minho. Casa de Vilacetinho, Quintas de Melgaço, Quinta do Ameal (da Herdade do Esporão) e Valados de Melgaço serão os protagonistas da região que lhe contam as peripécias desta campanha.
26 Outubro 2020, 07h33

As vindimas deste ano foram atípicas, devido à intensificação das alterações climáticas, com chuvas e calores a despropósito, e consequente ataque de pragas, a que se somou a pandemia de Covid-19. Mas as expectativas apontam para uma produção de superior qualidade, mesmo que haja quebras de produção em algumas regiões.

Leia o balanço de dezenas de produtores de norte a sul do país, incluindo os Açores e a Madeira, e de sete presidentes de Comissões Vitivinícolas Regionais. E espreite o que se está a passar em Champagne, com a Moët et Chandon.

Para os mais apaixonados pelo tema, interessados nas questões de cariz técnico, o Jornal Económico disponibiliza ainda os relatórios de vindima deste ano de duas casas com séculos de tradição na produção de vinhos no Douro, em particular de vinhos do Porto, com os testemunhos pessoais de Charles Symington, diretor de produção e vice-CEO da Symington Family Estates, que comercializa as referências Graham’s, Dow’s, Warre’s, Cockburn’s, Quinta do Vesúvio, Quinta do Ataíde, Altano, P+S e Quinta da Fonte Souto; e de David Guimaraens, diretor de enologia da The Fladgate Partnership, que comercializa as marcas Taylor’s, Fonseca e Croft, entre outras.

Em conjunto, estas duas casas já representam mais de 500 anos de produção de vinhos de mesa e do Porto no Douro (a Fladgate já celebrou o 430º aniversário, enquanto a Symington tem mais de 130 anos de história) e os relatórios da vindima de 2020 demonstram que as alterações climáticas são cada vez mais uma realidade incontornável no setor vitivinícola nacional.

Hoje, prosseguiremos esta viagem pelas vindimas de 2020 com os testemunhos dos produtores do Douro, desde a bicentenária Real Companhia Velha até à Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, pertencente à Amorim Family Estates, do Grupo Amorim, passando por casas como a Quinta do Crasto, Colinas do Douro, Parceiros na Criação, Quinta dos Murças (da Herdade do Esporão), A & D Wines, Wine & Soul e Maçanita Irmãos & Enólogos.

Amanhã, será dada voz aos produtores de Vinhos Verdes, no Minho. Casa de Vilacetinho, Quintas de Melgaço, Quinta dos Ameal (da Herdade do Esporão) e Valados de Melgaço serão os protagonistas da região que lhe contam as peripécias desta campanha.

“A fase inicial do ano vitícola de 2019-2020 caracterizou-se por um outono-inverno quente, com temperaturas acima da média e precipitação inferior ao normal para aquele período. O tempo quente continuou na Primavera, acompanhado de elevada precipitação nos meses de março e abril”, resume Rui Soares, técnico de viticultura da xxx centenária Real Companhia Velha .

Segundo este responsável, “a partir do mês de junho, a precipitação reduziu-se substancialmente sendo praticamente inexistente no período de Verão: houve apenas um dia de chuva intensa no final de agosto”.

“Fizeram sentir-se elevadas temperaturas durante um período alongado, especialmente no mês de julho, altura em que nas cotas mais baixas e nas encostas expostas a sul ou oeste se verificaram fenómenos de escaldão das uvas”, assinala Rui Soares.

De acordo com o técnico de viticultura da Real Companhia Velha, “em termos do ciclo vegetativo da videira, na fase inicial verificou-se um adiantamento de cerca de duas semanas no abrolhamento”.

“A pressão sanitária das doenças da videira, sobretudo míldio, obrigou a intervenções precoces para garantir a quantidade e qualidade da produção. A nascença de uvas foi inferior ao normal, com um potencial de produção menor face aos últimos anos. Posteriormente, o avanço do ciclo vegetativo diminuiu e ficou próximo da média na fase de floração, a qual decorreu em período de grande instabilidade, com temperaturas baixas e elevada precipitação. Com a subida da temperatura a partir de maio, verificou-se um novo adiantamento que se traduziu num avanço do pintor e da maturação”, explica Rui Soares.

Este responsável adianta que “a vindima começou mais cedo que o normal, quando comparada com a data média dos últimos anos”.

“A partir da terceira semana de agosto, começaram a vindimar-se castas brancas nas zonas mais altas e castas tintas mais precoces nas cotas baixas. Fruto da precocidade do ciclo vegetativo e da continuidade de elevadas temperaturas no período de maturação, a vindima foi contínua. Tornou-se assim necessário aumentar o ritmo diário de corte de uva, a fim de evitar fenómenos de desidratação excessiva e de preservar o equilíbrio entre ácidos e açúcares nos bagos”, revela o técnico de viticultura da Real Companhia Velha.

Na altura em que Rui Soares prestou estas declarações ao Jornal Económico, a colheita de 2020 não estava ainda terminada, “mas o balanço provisório do ano vitícola aponta para uma redução de produção, como resultado dos factores elencados: menor nascença de uva; dificuldades de vingamento na floração; escaldão de uvas em zonas mais quentes e expostas; desidratação dos bagos no período da vindima”.

“Os viticultores da região habitualmente não gostam de anos bissextos por considerarem serem “anos travessos” e parece que em 2020 vão ter razão!”, conclui o técnico de viticultura da Real Companhia Velha.

Por seu turno, Ana Mota, diretora de produção e viticultura da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, da Amorim Family Estates (Grupo Amorim), “o ano agrícola 2019/2020 no Douro e para a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, é caracterizado como um ano atípico e diferenciado dos restantes quando comparado aos últimos oito anos”.

“A nascença de cachos, que se define na primavera do ano anterior, já não foi muito abundante e caracterizou-se de diminuta em todas as castas, em todas as regiões.

“No Douro, tivemos um inverno chuvoso, com temperaturas médias elevadas, o que dificultou os trabalhos de viticultura e prejudicou gravemente a floração dos cachos. Contudo, a quantidade de água no solo parecia promissora para um desenvolvimento de ciclo vegetativo sem problemas de maior”, explica Ana Mota.

A diretora de produção e viticultura da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo diz que “com as questões do confinamento ligadas à Covid-19 não tivemos muitos problemas, a viticultura é desenvolvida ao ar livre, os colaboradores cumpriam os planos de contingência implementados pela empresa para a nossa realidade: o mínimo de transportes/boleias possível, sempre com uso de máscara e desinfeção das mãos obrigatória sempre que se entrava ou saia de espaços fechados”.

“Na vinha, um colaborador por bardo, sendo que nos patamares de dois bardos estavam sempre de costas um para o outro com distanciamento de 2,5 metros. No refeitório, estabeleceu-se uma mesa por colaborador, ‘em escolinha”’ só a cozinheira serve e fornece tabuleiros, talheres embalados e copos, só ela mesma tira café para todos”, garante Ana Mota.

De acordo com esta responsável, “voltando ao ano agrícola, os meses de verão, junho/julho e até dia 18 de agosto foram de clima seco, dificultando a evolução das plantas durante o ciclo comprometendo a fase de pintor”.

“Esta fase foi longa e muito heterogénea. Os registos de chuva no dia 18 de agosto foram de 2,2 mm e no dia 20 de agosto de 12,6 mm. O que parecia ‘ouro’ para as plantas e uma dádiva para a continuação da boa maturação revelou-se um rodopio de emoções”, revela a diretora de produção e viticultura da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo.

Para Ana Mota, “as plantas que tinham os estomas completamente fechados e estavam a fotossintetizar muito lentamente, com o bocadinho de água que choveu, começaram a trabalhar e todo o mecanismo se desorganizou”.

“Em três dias, tivemos um aumento de álcool provável de 12,5 graus álcool potencial para 13,8 álcool provável. Nos últimos 20 anos, esta foi das vindimas mais precoce de que há registo, com início a 27 de agosto, a par com o ano de 2017, que iniciou a 26 de agosto”, assinala esta responsável.

No entender de Ana Mota, “após o início, as uvas continuavam a crescer em açúcar e diminuir em peso, começando a apresentar sinais visíveis de desidratação por falta de água”.

“Da minha análise visual, associada a experiência de viticultura, verifiquei que com o reinício de um processo metabólico da planta em que toda a massa verde começou a realizar fotossíntese em pleno, não sendo a água do solo suficiente, a planta recorreu ao cacho para satisfazer as suas necessidades e colmatar o seu ‘stress’ hídrico”, confidencia a diretora de produção e viticultura da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo.

Por isso, “rapidamente, tivemos que reforçar as equipas de recolha de uva, e a nossa vindima que numa situação normal demoraria cerca de 30 dias seguidos, realizou-se em 16 dias, concentrando a entrada de uva na adega; reorganizámos os recursos humanos, alargámos o número de hora diárias trabalhadas e tudo se tronou possível!”

“O normal em cada uma das regiões é primeiro vinificarmos castas de uvas brancas e só depois as castas tintas. Este ano, houve uma coincidência no tempo, vinificámos brancos e tintos simultaneamente de início a fim de vindima”, relembra Ana Mota, para acrescentar que “a quantidade de uva foi ligeiramente inferior ao expectável, mas a qualidade é manifestamente superior ao também expectável”.

“Tenho certeza que estamos perante um ano de excecional qualidade! Fruto da instabilidade climatérica vivida durante toda a primavera, fomos obrigados a estar muito atentos às pragas e às doenças, logo as uvas chegaram à adega em ótimo estado sanitário!”, congratula-se esta responsável da Amorim Family Estates, sublinhando que, “depois, pelo processo que apresentei anteriormente, a concentração da uva, o rácio pelicula/polpa é excelente para vinhos concentrados, frescos, aromáticos e plenos de juventude!”.

Na Quinta do Crasto, produtor localizado na margem direita do rio Douro, no concelho de Sabrosa, com uma propriedade com cerca de 130 hectares, dos quais 75 são ocupados por vinhas, o enólogo Manuel Lobo salienta que “a vindima dos vinhos brancos arrancou a 17 de agosto, com duração prevista de duas semanas”.

“Ainda é muito cedo para avaliar, no entanto, as uvas têm entrado em excelentes condições sanitárias e com bom equilíbrio, o que indica um bom potencial. No primeiro dia de vindima, choveram na Quinta do Crasto 6 litros/m2 (6 mm), o que foi muito importante para ajudar o afinamento da maturação das uvas, em especial, nas vinhas de cotas mais baixas e com exposições a sul e poente que estavam mais ‘stressadas’, devido às elevadas temperaturas que se fizeram sentir durante o mês de julho e início de agosto”, sintetiza este responsável.

No entender de Manuel Lobo, “com a entrada na segunda quinzena de agosto, vieram também as noites mais frescas, com amplitudes térmicas mais significativas entre a noite e o dia”.

“Este é um enorme alento para as videiras poderem amadurecer as suas uvas em grande equilíbrio. Temos tudo reunido para ter uma excelente vindima, vamos esperar que a natureza nos ajude. No que respeita a quantidades, para 2020, prevemos uma quebra na ordem dos 15%, mas ainda é muito cedo para avaliar”, conclui o enólogo da Quinta de Crasto.

Por seu turno, José Luís Moreira da Silva, diretor de enologia da Quinta dos Murças, pertencente à Herdade do Esporão refere que “começámos as vindimas a 17 de agosto”.

“Aqui, o inverno foi quente e seco e a primavera também quente, mas com uma precipitação normal. Nasceram menos uvas, e tivemos ao longo do ciclo uma maior pressão de doenças como o míldio e o oídio. Depois, o agosto e o início de setembro foram muito quentes, o que levou à desidratação e uma evolução muito rápida dos bagos”, avança José Luís Moreira da Silva.

Segundo o diretor de enologia da Quinta dos Murças, “a produção é mais baixa que o inicialmente previsto, mas os vinhos prometem ser concentrados, de boa qualidade e uma expressão fiel da nossa origem”.

Já António Maçanita, que no Douro opera com a empresa Maçanita Irmãos & Enólogos confessa que foi das três que gere (mais uma no Alentejo e outra nos Açores) a que “teve menos quebras e que está muito perto do período homólogo do ano anterior”.

“O Douro teve um ano muito complicado do ponto de vista meteorológico, semelhante ao que aconteceu ao Alentejo, e onde, a certo momento, a uva ficou passa muito rapidamente. Estamos neste momento a terminar a vindima e, portanto, expectantes com a uva que entrou na adega antes da vinha ficar passa, que nos pareceu interessante, com um perfil de Vinho do Porto, mais do que vinho de mesa, algo que nunca fizemos, e talvez seja desta que vamos enveredar por esse campo”, admite António Maçanita.

Para este enólogo, “uma estrutura mais pequena necessita sempre de colaboradores externos, portanto, tivemos de recorrer a estagiários da região e acabou também por se juntar a nós um uruguaio e que, liderados pela Joana Maçanita, fizeram e continuam a fazer um excelente trabalho”.

Na Colinas do Douro, o enólogo Jorge Rosa Santos destaca que “o ano 2020 é provavelmente o mais desafiante para o sector vitivinícola de que há memória”.

“A par de uma primavera chuvosa, com muita pressão de doença na vinha, tivemos um julho muito quente, o que resultou em quebras de produção estimadas na RDD (Região Demarcada do Douro) de 30 a 40%. Enquanto isto acontecia, o primeiro impacto da Covid-19 nas nossas vidas e empresas obrigou-nos logo em abril à adoção de medidas excepcionais, tal como a separação de equipas e o desfasamento horário, mas sem nunca realmente pararmos de laborar, pois ‘a vinha e a natureza não fazem quarentena’”, explica este responsável da Colinas do Douro.

Nas palavras de Jorge Rosa Santos, “em julho/agosto, em consequência da nova conjuntura económico-social, o setor preparava-se para a vindima com muitas incertezas”.

“A redução de vendas, pressão dos ‘stocks’ e a previsível alteração do preço das uvas obrigaram a uma redefinição de objetivos, orçamentos e estratégia. As empresas que melhor se conseguiram adaptar a esta nova realidade ‘atacaram’ a ‘Vindima 2020’ com muito maior clarividência”, defende o enólogo da Colinas do Douro.

Jorge Rosa Santos adianta que, “fruto de uma estratégia de aposta off-trade, iniciada no final de 2018, para retirar pressão comercial nas nossas marcas exclusivas para o on-trade, as Colinas do Douro enfrentaram a atual conjuntura com o conforto de ter menor exposição ao turismo e restauração, e com a segurança de estar a crescer face a 2019”.

“Foi por isso uma vindima muito bem planeada e que começou cedo, tal como sucedeu em 2017. A 20 de agosto, começaram a entrar as primeiras uvas na adega e logo se notou que o 13.º verão mais quente dos últimos 90 anos tinha feito mossa na acidez, bem mais baixa do que o pretendido. A vindima ainda decorre, mas os sinais que nos transmite é de um ano de brancos muito aromáticos e de tintos com muito boa cor e excelente concentração”, resume Jorge Rosa Santos.

O enólogo da Colinas do Douro acentua que, “para reduzir o risco de contágios nesta altura tão importante, minimizámos o convívio tão próprio desta altura do ano e separámos as pessoas em grupos mais pequenos, aumentámos também a logística de transporte de pessoal e restringimos as visitas à quinta e adega”.

“A vindima é já de si, o momento de todas as decisões, em que as semanas são mais longas, e os dias e horas se confundem, no espaço temporal definido pela velocidade da fermentação, a previsão meteorológica, as desencubas, etc… A Covid-19 é por isso, mais um fator de ansiedade. Ninguém quer uma vindima parada ou uma adega encerrada por quarentenas forçadas, testes positivos ou falta de mão-de-obra pelo receio instalado. Por tudo isto, quanto mais cedo acabar a vindima, melhor para todos. Nunca como antes, desejei tanto a Adiafa e o ‘lavar dos cestos’”, desabafa Jorge Rosa Santos.

Já Alexandre Gomes, proprietário da A & D Wines, refere que “uma primavera e início de verão bastante húmidos e chuvosos favoreceram a propagação de doenças como o míldio e oídio, obrigando a cuidados dobrados na prevenção das mesmas”.

“Se na maior parte das castas, a quantidade produzida foi um pouco inferior ao habitual, a casta Avesso apresentou um excelente volume de produção e qualidade, que cremos se deve à sua particular boa adaptação ao terroir de Baião, região nativa da mesma. Esperamos por isso este ano excelentes Avessos!”, acredita o dono da A & D Wines.

No entender de Alexandre Gomes, “as vindimas de 2020 iniciaram-se cedo, a 31 de agosto, devido a picos de calor em Junho e Julho e a alguns dias de chuva intensa em agosto, os quais aceleraram o processo de maturação das uvas”.

Para Sandra Tavares, fundadora e enóloga da Wine & Soul, “no Douro, o verão foi bastante quente, em especial durante os meses de junho, julho e agosto pelo que encurtou o ciclo vegetativo das videiras e a vindima foi antecipada, de modo a obtermos o perfeito equilíbrio de acidez e maturação das uvas”.

“No caso das uvas brancas, iniciámos a colheita no dia 18 de agosto em perfeitas condições, com mostos equilibrados, boa acidez e teor alcoólico perfeito, o que nos permitiu obtermos vinhos brancos muito minerais e frescos. No caso das uvas tintas, iniciámos a vindima no dia 5 de setembro nas nossas vinhas velhas e até agora estamos muito contentes com o resultado. Foi um ano atípico a todos os níveis, mas os vinhos serão bons e raros!”, assegura Sandra Tavares.

Por seu turno, Joana Pratas, produtora de vinhos no Douro, com a Parceiros na Criação (Barco, Tabuaço) e consultora de comunicação especializada no setor dos vinhos, considera que “2020 está a ser um ano muito desafiante a vários níveis”.

“Começámos com o fecho dos mercados, a nível nacional e mundial, o que fez diminuir as vendas e estagnar o turismo e o enoturismo, que estavam em crescendo. No que toca à viticultura, a primavera foi incerta e isso traduziu-se numa proliferação de doenças na vinha, em especial, míldio. Nada de grave se tratado a tempo e na medida certa, mas que se repercutiu em investimentos mais alargados”, analisa esta produtora.

Para Joana Pratas, “o calor acentuado em junho e julho fez antecipar a vindima, mas não aos níveis de 2018”.

“As videiras desidrataram de tal forma que foram buscar água às uvas, estando as uvas menos desenvolvidas e com película mais grossa. As uvas desidrataram em vez de amadurecer de forma correta, ficando sem todos os seus constituintes”, explica Joana Pratas.

Para esta consultora de comunicação, “a vindima teve assim que ser antecipada, nem sempre porque as uvas estavam no ponto certo de maturação, mas porque a acidez estava a fugir”.

“Os vinhos brancos cujas uvas foram colhidas antes de agosto, com frescura e sem desidratação, estão a revelar-se bons, mas com menos acidez”, revela Joana Pratas, acrescentando que “o calor fez desidratar as vinhas e as uvas, o que teve implicação em rendimentos inferiores em cerca de 10% em casos de vindima antecipada, para brancos e rosés, por exemplo, valor que subiu para 40 a 45% quando vindimada mais tarde”.

No entender de Joana Pratas, “exemplo disso são as uvas tintas vindimadas em meados de Setembro”, embora reconheça que 2020 foi um “ano mau para Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Grossa, Roriz e Barroca”.

Em contrapartida, “é um bom ano para as zonas mais altas – vinhas de altitude –, com mais frescura e acidez”.

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