Vivemos num mundo rendido, por completo, ao fascínio das imagens captadas pelas câmaras dos telemóveis, com os seus múltiplos filtros, e facilmente publicadas no Facebook, Twitter ou Instagram. Na sequência desse fascínio, é inevitável observarmos o crescimento de redes sociais, indústrias e marcas com base em narrativas visuais poderosas.
O acesso massivo a ferramentas e tecnologia que permitem que cada um de nós fabrique a sua própria história visual alterou, em anos recentes, a forma como consumimos as notícias. Quando uma imagem poderosa se torna viral, capta o zeitgeist emocional de um momento social e histórico que atravessamos. Por vezes, as fortes reações que essas imagens despertam levam-nos a refletir sobre o mundo em que vivemos.
Quando influencers do Instagram começaram a publicar fotos turísticas na antiga central Chernobyl, onde se deu o acidente nuclear, um tema que voltou à ribalta após o sucesso da série “Chernobyl” da HBO, não faltaram reações de choque perante a falta de sensibilidade e noção da parte desses influencers, mas o que é a vida de um influencer senão viver para a obsessão de cavalgar as tendências do momento e assim alcançar uma maior popularidade a qualquer custo? Acabam por se gerar monstros dominados pela desconexão social, frieza e falsidade.
Nem todas as narrativas visuais são tão bizarras como esta. Uma das controvérsias mais recentes centrou-se no cartoon político de António, publicado na edição internacional do The New York Times, em que Benjamin Netanyahu é retratado como um cão a conduzir o presidente dos EUA cego e a usar um quipá, tendo sido o cartoon alvo de uma forte polémica em que foi condenado como anti-semita. O facto de cartoons políticos serem um veículo de expressão satírico capaz de denunciar com clareza e sentido de humor as grandes questões do nosso tempo causa bastante nervosismo, como se viu pela decisão desproporcional da parte do “The New York Times” de não publicar mais cartoons políticos na sua edição internacional, na sequência da polémica que envolveu o cartoon de António.
A natureza provocadora dos cartoons políticos tem levado a uma redução cada vez maior do espaço de imprensa que lhes é dedicado, havendo uma forte pressão popular para condicionar ou suavizar a sua componente humorística. O poder que as imagens atualmente exercem sobre a nossa sociedade tornou-se tal que expressar uma opinião através dessas imagens tornou-se um jogo arriscado e alvo de escrutínio e condicionamento.
Outras narrativas visuais dominaram estas últimas semanas, como o incidente que ocorreu num autocarro em Londres e que vitimizou um casal de lésbicas. O casal foi atacado por um bando de adolescentes unicamente pelo facto de estarem numa relação gay e resultou numa agressão física das mulheres. A imagem de ambas as jovens com a roupa e o rosto coberto de sangue lembra-nos, e avisa-nos, o quão estamos distantes de pôr fim à homofobia, misoginia e violência contra a comunidade LGBT e é por isso que é tão importante deixarmos que estas imagens em particular falem por si.