As bolsas norte-americanas fecharam em terreno negativo, pressionadas pelos receios de que não haja novo pacote de estímulos à economia dos Estados Unidos – dizem os analistas, mas será de recordar que esses receios servem de explicação há semanas consecutivas. O forte aumento dos números que envolvem a pandemia também não ajudam.
O Dow Jones encerrou a recuar 0,07% para 28.494,20 pontos; o Standard & Poor’s 500 desvalorizou 0,15% para 3.483,34 pontos; e tecnológico Nasdaq Composite cedeu 0,47% para 11.713,87 pontos.
É a terceira sessão consecutiva de perdas em Wall Street. Esta quarta-feira, o secretário norte-americano do Tesouro, Steven Mnuchin, disse que os democratas e republicanos continuam a realizar progressos em algumas questões, mas que “os dois lados ainda estão muito distanciados” noutros aspetos considerados importantes para que ambos cheguem a um acordo sobre os novos estímulos.
A estes receios ‘tradicionais’ e que já pouco explicam, juntou-se esta quinta-feira o número de pedidos de subsídio de desemprego, que aumentaram para 898 mil na semana terminada a 10 de outubro, quando as estimativas médias apontavam para 825 mil.
Entretanto, as crescentes expectativas de uma vitória do partido democrata na corrida à Casa Branca e ao Capitólio parecem estar finalmente a influenciar os investidores dos mercados mobiliários norte-americanos – tal como sucede de quatro em quatro anos. E tal como sempre sucede, os investidores estão a apontar a compra de ações de empresas que lhes parecem estar mais em alra se Joe Biden acabar mesmo por vencer Donald Trump.
Embora Wall Street tenha falhado redondamente na antecipação d a vitória de Donald Trump em 2016 – isto é, não antecipou essa vitória – os analistas dizem que houve uma mudança nos padrões de investimento nas últimas semanas: a mais sensível é a debandada em termos de ações das tecnológicas (principalmente as maiores) para a compra de ações de empresas de menor dimensão.
A energia verde também está em alta: os investidores estão a ir ao encontro das energias renováveis – como por exemplo as empresas que fabricam painéis fotovoltaicos e que captam energia solar (concentradas na Califórnia).
Ambas as escolhas (dimensão e energia verde, dizem os analistas, são baseadas em sinais de sondagens que indicam que os democratas não só ganharão a presidência, como passarão também a ter maioria no Senado – sendo já maioritários na Câmara dos Representantes.
Mas também vale a pena acrescentar que existem muitas variáveis em jogo contra os ‘tradicionais’; o setor da saúde (contido pelo preços dos medicamentos); o setor petrolífero (atingido por novas iniciativas verdes); as mais que possíveis decisões antitruste contra o Facebook e a Google; e um setor bancário que tradicionalmente tem de enfrentar regulamentação mais rígida sob os democratas.
“A oscilação nas probabilidades foi acompanhada por uma recuperação dos rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano”, disse a consultora Capital Economics num ‘research’ desta semana. “Os investidores estão cada vez mais focados em como o resultado das eleições moldarão a política fiscal de curto prazo”, acrescenta.
As perspetivas de que um governo democrata possa elevar os gastos públicos com novos estímulos à economia já em janeiro fez com que os investidores “pensem mais sobre a possibilidade de uma recuperação económica de base mais ampla, e não apenas uma estreita, focada nas tecnologias”, disse Oliver Jones, gestor da Capital Economics, citado pelo jornal The Guardian.
Isto é, disse o analista, há uma reversão das tendências pandêmicas, nas quais as ações de refúgio perante a volatilidade dos mercados eram principalmente as farmacêuticas e as tecnológicas, que de facto superaram amplamente as ações tradicionais, como a banca, a indústria e a energia.
A mudança no sentimento dos investidores contrasta com duas preocupações recentes: que Trump possa tentar agarrar-se ao poder em caso de derrota; e que os democratas seriam maus para o negócio mobiliário ao tentar impor regulamentação extra, novos impostos e gastos com a saúde.
De qualquer modo, vale sempre a pena lembrar que Wall Street tem um histórico irregular em termos de previsões dos resultados das eleições e do caminho económico que os novos governos tentam estabelecer. Aliás, dizem alguns entendidos, tudo isto pode ser coisa nenhuma, uma vez que as bolsas norte-americanas têm uma espécie de ‘vida própria’ que as coloca a salvo – ou mais propriamente acima – das alterações previsíveis e mesmo das mensuráveis da economia caseira.
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