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Web Summit. “Sociedade que tínhamos antes da pandemia não é sustentável”

O uso dos dados pessoais nas plataformas digitais e a maneira como a inteligência artificial poderá mudar a maneira como funciona a sociedade foram alguns dos temas abordados durante o painel da Web Summit ‘Technology: the key to making us more human’. As oradoras presentes no painel enfatizaram a necessidade de melhorar a transparência do setor tecnológico, sublinhando que a pandemia providenciou a oportunidade ideal para o fazer.
  • Cristina Bernardo
2 Dezembro 2020, 16h51

A discussão em torno do peso das tecnológicos na forma como vivemos juntou na Web Summit a Global Digital Officer da IKEA, Barbara Coppola, e a co-fundadora e co-diretora do ‘AI Now Institute’, Meredith Whittaker, que concordaram que a pandemia oferece um momento único para se alterar a relação entre quem produz e quem utiliza as ferramentas tecnológicas.

Sobre o uso dos dados pessoais de milhões de utilizadores, que aumentou significativamente durante a pandemia de Covid-19, Meredith Whittaker exemplificou que a inteligência artificial (IA) poderia “ idealmente ser utilizada para ajudar a melhorar a forma como os sistemas de saúde gerem os dados dos utentes”, mas sublinha que para isso acontecer “é necessário que haja uma maior transparência na maneira como os dados são obtidos”.

Neste sentido, Whittaker explica que “antes de pensarmos em como é que a IA poderá ajudar a melhorar sistemas tecnológicos, precisamos de garantir que o maior número de pessoas possível tem acesso a cuidados de saúde, independentemente do seu espectro social, e para isso acontecer, é necessário que existe uma maior transparência das entidades”.

Por sua vez, Bárbara Coppola, afirma que “a sociedade que tínhamos antes da pandemia não é sustentável. Muita desigualdade, as alterações climáticas, entre outros problemas”. Como tal, Coppola explica que devido à pandemia “temos a possibilidade de modificar e liderar a evolução do nosso sistema e da nossa sociedade e, neste aspeto, a tecnologia terá um papel ainda maior no futuro”. Para justificar a afirmação, Coppola sublinha que será preciso “assegurar que a tecnologia é usada para o bem e, para isso, precisamos de garantir que limitamos o uso da influência e que eliminamos as desigualdades inerentes”.

A transparência foi um dos grandes problemas enfatizado pelas intervenientes do painel. Coppola afirma que “a evolução da tecnologia aconteceu de forma dissimulada para a maioria dos utilizadores, no que diz respeito ao que estes estariam a abdicar sem saber”. Por sua vez, Meredith Whittaker, afirmou que existe espaço para “uma maior regulamentação do setor, em especial da inteligência artificial, com o objetivo de garantir que essa transparência é assegurada perante os utilizadores”.

Em relação ao “grande reset”, Barbara Coppola afirma que o “compromisso de honra” entre as grandes tecnológicas e os utilizadores foi “quebrado” assim que estas começaram a utilizar os dados dos pessoais dos seus utilizadores “sem nenhum tipo de transparência”. Whittaker por sua vez, enfatizou as palavras da colega de painel dizendo que “os mesmos princípios que as grandes tecnológicas utilizaram à nascença, são os mesmos que temos hoje em dia e isso não serve as pessoas, serve apenas como forma de gerar mais lucro às empresas detidas por acionistas”.

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