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Encerramento de mercados ilegais pode prevenir surto de novas pandemias, concluem duas ONGs

Duas ONGs mundiais apresentaram os resultados de um estudo em que se pede aos governos do sudeste asiático que fechem os mercados de vida selvagem como resposta à Covid-19. Especialistas defendem ainda que existe uma ligação direta entre estes mercados e a perda da biodiversidade no mundo.
  • Getty Images
6 Abril 2020, 17h00

Depois de recolher a opinião de cinco países e territórios do sudeste asiático, a WWF e a GlobeScan, duas Organizações Não Governamentais, concluíram que quase toda a generalidade do sudeste asiático apoia o encerramento de mercados ilegais e não regulamentados de vida selvagem, fazendo a ligação entre os mesmos e a atual ou potenciais pandemias.

Na prática, 82% das cinco mil pessoas entrevistadas em Hong Kong, Japão, Mianmar, Tailândia e Vietname estão extremamente ou muito preocupados com o surto, com 93% dos entrevistados no sudeste asiático e Hong Kong a apoiar ações dos seus governos para eliminar mercados ilegais e não regulados devido às ameaças associadas à saúde pública.

Esta nova pandemia traz à memória outras doenças zoonóticas (vírus com transmissão de vida selvagem para humanos) e que também se tornaram numa pandemia, incluindo a SARS, a MERS e o Ébola. Apesar de ainda haver muitas perguntas por responder sobre as origens exatas da Covid-19, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já confirmou que o novo coronavírus é de natureza zoonótica.

Dos inquiridos, cerca de 9% afirmaram que os próprios ou alguém que conhecem compraram animais selvagens nos últimos 12 meses num mercado, mas 84% “não é provável” ou “é muito improvável” que compre produtos de animais selvagens no futuro.

Atualmente, o surto do novo coronavírus já infetou 1.288.080 no mundo, tendo matado por sua vez mais de 70 mil pessoas. Apesar de existirem 272 mil pessoas recuperadas, a propagação do vírus não mostra sinais de abrandamento. Só nos Estados Unidos, que de acordo com a OMS se tornará no novo epicentro do surto, existem mais de 336 mil infetados e nove mil vítimas mortais.

Em Itália, onde ainda existe o maior número de mortes, perto de 16 mil, a curva epidemiológica já começa a achatar. Ontem registou-se o menor número de infetados em duas semanas, 525 novos casos confirmados.

Impacto dos mercados selvagens na biodiversidade

De acordo com a nota enviada às redações, o comércio insustentável de animais selvagens é a segunda maior ameaça direta à biodiversidade em todo o mundo, depois da destruição de habitats. As populações de espécies de vertebrados no mundo caíram em média 60% desde 1970, e um relatório de 2019 da Plataforma Intergovernamental de Ciência e Políticas sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES) concluiu que atualmente, em média, 25% das espécies globais estão ameaçadas de extinção.

As atividades humanas alteraram significativamente três quartos da terra e dois terços do oceano, mudando o planeta a ponto de determinar o nascimento de uma nova era: o “Antropoceno”.

Mudanças no uso da terra que tornam mais próximas a vida selvagem, o gado e os seres humanos facilitam a propagação de doenças, incluindo novas estirpes de bactérias e vírus, explicam os especialistas.

Paralelamente, o comércio ilegal e descontrolado de animais selvagens vivos cria oportunidades perigosas de contato entre os seres humanos e as doenças que estes possam ter.

“Não é por acaso que muitos surtos recentes tiveram origem em mercados que vendem uma mistura de mamíferos domésticos e selvagens, aves e répteis, criando as condições para o desenvolvimento de novas e antigas zoonoses: doenças infeciosas que podem ser transmitidas de animais para seres humanos”, lê-se no documento da WWF e GlobeScan.

A crise de hoje cria a necessidade urgente para uma reflexão aprofundada sobre a relação entre seres humanos e a natureza, os riscos associados ao desenvolvimento económico e como podemos proteger-nos melhor no futuro, continuam os ambientalistas

 

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