Portugal terminou o ano a viver uma história de amor com a economia. O crescimento económico é o mais elevado do século, o défice orçamental é o mais moderado em democracia, e a queda da taxa de desemprego é significativa. No entanto, para que o encanto se mantenha, é imperativo transformar o momento numa oportunidade de crescimento sustentado, que perdure muito para além da imensidão dos dias.

E como as principais agências de rating têm vindo a salientar, são quatro os desafios a ultrapassar este ano, para que daqui a 12 meses possamos estar a comemorar mais um momento de ‘felicidade’:

1. Redução da dívida: é perfeitamente expectável que a dívida pública em Portugal desça três pontos percentuais este ano, ficando abaixo dos 127% do PIB, tratando-se assim da primeira descida do rácio da dívida desde as crises das dívidas soberanas.

Esta inversão da tendência deverá efetuar-se primordialmente com base nas medidas orçamentais estruturais efetuadas nos últimos anos, no recente ciclo de recuperação económica e numa substancial melhoria das condições de financiamento, que permitiram só no último trimestre de 2017 uma poupança de 150 milhões de euros em juros.

2. Exportações: o setor do Turismo apresenta desde há quatro anos um crescimento superior a dois dígitos, sendo previsível a continuação do forte crescimento em 2018. Dado o peso relevante que este setor já tem na economia portuguesa, com um contributo direto para o PIB de cerca de 7%, e a sua natureza intensiva em mão de obra e orientada para a procura externa, sendo a maioria das receitas de Turismo oriundas de clientes não residentes, e portanto, equivalentes a exportações, este será novamente um setor que puxará fortemente pela economia nacional.

3. Setor bancário: A recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, a alienação do Novo Banco e a entrada da Santa Casa da Misericórdia no capital do Montepio Geral, ainda que nesta última instituição seja discutível o valor da avaliação e o enviesamento do objeto social da adquirente, vieram permitir uma normalização do setor bancário nacional.

Este setor permanece ainda com um problema substancial, nomeadamente o elevado nível de crédito malparado, que continua a criar obstáculos a uma recuperação mais efetiva da economia.

4. Prolongamento dos estímulos monetários: o fim do programa de compra de ativos por parte do Banco Central Europeu será um acontecimento-chave este ano, na medida em que colocará novamente os holofotes sobre os países da periferia europeia, os quais revelam uma situação financeira mais frágil, e onde se inclui Portugal.

O facto de Mário Centeno ter sido eleito Presidente do Eurogrupo irá permitir uma maior perceção da atual situação dos países do Sul junto dos outros ministros da zona euro, podendo levar a um prolongamento das medidas de política monetária acomodatícia com a manutenção, durante mais algum tempo, das taxas de juros em níveis favoráveis à economia portuguesa.

É verdade que Portugal continua a ter uma dívida pública elevada. Mas está a demonstrar que é possível uma melhoria da posição orçamental aliada a um crescimento económico, e que a austeridade, nas suas várias formas, trava uma maior dinâmica da economia.

Os bons resultados atuais não são fruto de milagres. São o resultado do trabalho dos portugueses, do investimento do setor empresarial e da forma como os decisores políticos têm conseguido implementar um conjunto de medidas mais redistributivas, mais igualitárias e que potenciam o que o nosso país tem de bom. Haja coragem para enfrentar mais um ano para tornarmos Portugal um país melhor para todos.