Nos últimos anos, o fraco dinamismo económico na zona euro levou a taxa de inflação para valores próximos de zero, ou seja, muito aquém da meta de 2% desejada pelo Banco Central Europeu.

Para inverter esta situação, a instituição de Frankfurt tem estado a utilizar um conjunto de instrumentos para baixar os juros, estimular a procura e dar um impulso aos preços até que seja vislumbrável uma trajetória consistente com o seu objetivo.

O BCE conseguiu colocar as taxas Euribor em mínimos históricos, permitindo uma diminuição expressiva das prestações do crédito, com muitas famílias portuguesas a beneficiarem de um alívio no orçamento.

Só que como em todas as políticas, existe o reverso da medalha. Se, por um lado, aliviou os agentes económicos endividados e facilitou o acesso a quem procurava financiamento, por outro, também trouxe mais dificuldades para quem pretende rentabilizar as suas poupanças.

E enquanto a curto prazo não estão previstas quaisquer alterações na política monetária, conforme reiterado no último Conselho de Governadores do BCE, a médio prazo o panorama terá de mudar, na medida em que a inflação está a seguir a uma evolução favorável, sendo sintomático a aceleração dos preços no último mês em Portugal para os 1,5%.

Mais tarde ou mais cedo, o BCE vai ter de se ajustar, o que resultará em taxas de juro mais elevadas, com esta subida a ter impacto sobre todas as classes de ativos, com especial destaque para as ações, obrigações e produtos de aforro tradicional.

1. Aforro tradicional: as primeiras alterações terão lugar quando as taxas Euribor começarem a subir. Com o financiamento no mercado a ficar mais caro, os bancos irão preferir recolher fundos junto dos seus clientes, cativando-os com taxas mais apelativas. O mesmo raciocínio se aplica ao Estado, que terá interesse em preferir o financiamento junto dos particulares, emitindo novas séries de Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV). Como este rendimento está dependente da Euribor, cada nova série irá deter uma indexação menos vantajosa, mantendo contudo uma maior rentabilidade do que os depósitos a prazo tradicionais.

2. Obrigações: é uma das classes de ativos mais penalizadas com a subida dos juros. Como tipicamente pagam cupões fixados à partida, as novas emissões surgem com rendimentos mais favoráveis, levando os investidores a venderem os títulos antigos, baixando a sua cotação para comprar os mais recentes e beneficiar com o renovar da carteira.

3. Ações: se isolarmos o efeito da subida dos juros, os efeitos da subida da inflação também serão negativos, mas com uma menor amplitude do que no caso das obrigações.

Em primeiro lugar, quando o financiamento fica mais caro, as empresas têm mais custos, gerando menos lucros e pagando menos dividendos, levando assim a uma menor valorização.

Em segundo lugar, com os mercados obrigacionistas a gerar rendimentos mais elevados, as ações ficam comparativamente menos interessantes.

Ainda assim, e apesar do menor retorno face a 2017, as ações deverão continuar a ser o ativo preferencial, beneficiando de um ambiente de baixas taxas de juro e de uma retoma sincrónica da economia nas diferentes geografias, permitindo sustentar os resultados das empresas e um reforço dos seus fundamentais.