No emblemático romance de Agualusa intitulado “O Vendedor de Passados” foi narrado por uma osga que contou os efeitos de Félix Ventura que realizava o desejo de fabricar um passado à medida do interesse de cada um. Já não é de um passado que os angolanos necessitam, mas, sim, de um futuro.

Este futuro não deve ser construído através de um sonho ilusório ou baseado numa fantasia irrealista, bem pelo contrário. Este exercício de construção implica encarar as dificuldades de projectar um futuro numa sociedade pluralista que está marcada pela complexidade das subjectividades individuais e colectivas dos diferentes povos que constituem Angola. Pelo que este futuro deverá ser feito em diálogo aberto para aglutinar as diferenças sociais existentes no país. Sem isto a exclusão será a marca deste futuro.

O futuro não pode ser um diagnóstico amargo e duro do presente. Nem um compêndio do nosso passado colectivo. É importante que seja um momento histórico que permita mostrar uma agenda de superação das nossas dificuldades através de um encontro dos vários diagnósticos realizados. Falamos de um processo que deve implicar vários actores sociais e académicos, evitando-se uma perspectiva de “salvador da pátria” e criador de um “milagre colectivo”.

Um futuro colectivo não pode estar alicerçado em medidas avulsas, e feitas à medida de alguns interesses instalados e até enraizados, mas, sim, em medidas-chave inseridas num projecto político estruturado que visa, acima de tudo, provocar um efeito de médio e longo prazo.

Talvez o maior desafio associado à construção de um futuro ou à venda de uma ideia de futuro ao angolano esteja relacionada com a sua descrença no plano terreno. A força motriz do angolano é a crença no divino, o que o torna mais susceptível a uma espécie de resistência psicológica que o trava sempre que é convidado a acreditar num futuro. Assim, envolver as autoridades religiosas e as autoridades tradicionais dentro deste projecto é essencial, tal como o é permitir que possam criticar o estado do processo que nos conduza este mesmo futuro.

Urge pensar num futuro que não esteja preso a um ciclo político de curto prazo e este futuro só assim poderá ser de todos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.