As organizações são entidades conservadoras, pelos procedimentos que encetam, sejam eles formais ou não, sejam geralmente aceites ou não, sejam ou não claramente estruturadas. As organizações são sempre o último reduto com que a mudança, a única constante no mundo, se depara. Este conservadorismo das organizações, ou instituições se preferirem, tantas vezes atávico, pode ser bom ou pode ser mau, dependendo sempre da perspectiva de cada um de nós: seja porque somos a “presa”, seja porque somos o “caçador”.
É por causa desta propriedade tradicionalista que as organizações sobrevivem, numa constante auto-manutenção, muitas vezes passando por uma adaptação necessária. As instituições enquanto organizações, e para este efeito são ambas o mesmo, estruturam, pela sua acção ou inacção, a vida social do ser humano. E isto acontece para o bem e para o mal. As organizações são, por esta via, as partes do que apelidamos de sistema. Sim, do sistema, esse vocábulo que é, por norma, utilizado como um mal maior para os que, inchados de teorias da conspiração, assim o denominam.
Ora, se a culpa é sempre atribuída ao sistema quando falamos do mal maior, a mesma é considerada inexistente quando falamos de coisas positivas para a maioria da população. Ou seja, é mais fácil dizer “ah e tal, a culpa do país não andar para a frente é do sistema”, do que afirmar que “o reforço dos valores democráticos em Portugal desde o 25 de Abril de 1974 se deve ao sistema”, neste último caso ao sistema democrático.
Isto de culpar o sistema do que é mau – tipo o diabo –, e depois os homens do que é bom –tipo deuses – soa, no mínimo, a um exercício falacioso de uma lógica individual que se transforma em colectiva por “dá cá aquela palha”, sendo a mesma dependente do valor que se atribui a determinada situação. Não me refiro apenas e só a condicionalismos de avaliações pouco precisas que todos subjectivamente fazemos, mas a uma espécie de justificativo de cariz religioso muito pouco cartesiano, quando não inquisitivo. Questionar o que nos rodeia, e as explicações que nos são apresentadas ou que nos convencemos que existem, não é um exercício despiciendo.
Porque não fazermos o seguinte exercício: da próxima vez que culparmos o sistema internacional pelo conflito na Síria, a sua respectiva e forçosa intervenção externa ou, pelo contrário, a necessidade de “esperar para ver”, como as regras assim o configuram, porque não pensar no nosso destino enquanto “Homem lobo do Homem”? Porque não procurar culpados, e são muitos dos dois lados, específicos, verificar os incentivos e os custos que cada um dos actores envolvidos neste assunto prevêem e daí retirar melhores conclusões? E porque não fazer este exercício, mais ou menos aprofundado, em relação a tudo o que nos rodeia e consideramos relevante?
O sistema e as organizações que o integram são conservadores, mas ainda assim são tão impunes aos desvarios dos acasos, do fado e dos interesses de outras organizações, como a vida de cada um de nós o é individualmente.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.