Os mercados de acções estão em máximos históricos, ou de décadas, impulsionados pelas últimas notícias do BCE. Para 2018 ficou a promessa de mais 480 mil milhões de euros em estímulos, 360 mil milhões de euros em compras de activos, e 10 mil milhões de euros por mês, ou 120 mil milhões de euros por ano garantidos pelo reinvestimento dos juros auferidos do seu gigantesco balanço. Não contente, o BCE quis preparar mercados e governos, informando que o programa não irá terminar repentinamente e sinalizando que mais dinheiro virá depois do seu término.
Após o impulso que a impressão de biliões de euros deu aos mercados de acções e obrigações, parece ter chegado a hora do imobiliário. O dinamismo deste mercado está de regresso um pouco por todo o mundo e Portugal não é excepção. Muitos depositantes vêem as taxas de juro das suas poupanças reduzidas a pouco mais do que zero e a alternativa para muitos deles que não pretendem risco é a compra de imobiliário para rendimento. Suportada no turismo, nas autorizações de residência, nos vistos Gold, no crédito bancário e nas avaliações mais favoráveis, esta recuperação regressa lentamente aos maus vícios que antecederam a crise financeira de 2008 e esconde uma outra realidade desta recuperação económica – o aumento da desigualdade.
A subida das rendas está a reflectir-se na incapacidade de pagamento de muitas famílias, que não vêem o seu rendimento aumentar o suficiente para acompanhar o custo de vida. Estranha recuperação, em que a inflação oficial é inferior a 2%, mas os preços percepcionados sobem a um ritmo muito superior.
Nos Estados Unidos da América, mercado que deu origem à crise do subprime, há já um primeiro alerta: as rendas estão a subir há 22 meses consecutivos e um em cada cinco norte-americanos, da classe baixa, não pagou uma renda nos últimos três meses. Ainda neste país, segundo dados da Bloomberg, um imóvel fica no mercado em média três meses, o mais baixo em 30 anos, e 45% dos compradores, a percentagem mais elevada da última década, paga o preço pedido. Esta “escassez” de imóveis e a euforia novamente vivida é fruto da bolha que os bancos centrais estão a criar, com um efeito colateral imprevisível no aumento da desigualdade. Um exemplo disso é o aumento do sentimento de confiança nas classes mais altas, fruto da valorização dos mercados e agora dos activos imobiliários, e a diminuição da confiança nas classes mais baixas, estranguladas pela subida de preços e pela diminuição do seu rendimento disponível.
Não há dúvida que iremos atravessar um período inflacionista e muito perigoso, uma vez que à revolução tecnológica em curso somam-se bolhas nos mercados financeiro e imobiliário. Resta saber quem vai fechar a porta, apagar a luz e acabar com a festa, que a muitos agrada.