Na semana passada foram tornadas públicas as intenções de investimento que algumas das maiores empresas mundiais da Internet pretendem fazer em Portugal. A confirmarem-se, a vinda da Google e da Amazon contribuem para a consolidação do nosso país como destino de investimento da “economia da Internet”, abrindo a porta a outros potenciais investidores.
Nas áreas tecnológicas temos várias multinacionais que se foram instalando em Portugal nas últimas décadas, fixando por cá alguns dos seus centros de competências e de I&D (Microsoft, Siemens, Bosch ou Vodafone são alguns dos exemplos), com claros benefícios para o país.
No entanto, os investimentos da chamada “nova economia”, baseada na Internet, parecem ter maior impacto mediático junto da sociedade, dando ao país maior visibilidade internacional. É preciso não esquecer que empresas como a Google, Amazon, Uber, AirBnB, etc., nasceram com a Internet e os millennials cresceram com elas, sendo utilizadores diários dos seus serviços. São empresas globais, com utilizadores globais e impacto global.
A importância deste tipo de investimentos, que é qualificado, reflete-se a nível económico e social e podem ter impacto significativo a longo-prazo: i) contribuem para a alteração do perfil de especialização da nossa economia, ao desenvolverem serviços mais intensivos em tecnologia e conhecimento, mas também ao intensificar a dinâmica de empreendedorismo e o aparecimento de novas startups tecnológicas; ii) contribuem para a melhoria da nossa Balança de Pagamentos, em especial da sub-balança dos pagamentos tecnológicos; iii) promovem a retenção dos jovens nas nossas cidades, incluindo as do interior do país, também elas recetoras de alguns destes investimentos (como o Fundão e a Covilhã, nas TIC e serviços cloud); iv) dado o aumento crescente de competências tecnológicas, estes investimentos têm também o efeito de atrair muitos dos jovens qualificados que no “período troika” emigraram à procura de melhores oportunidades de emprego (tendo mesmo sido incentivados para tal pelos decisores políticos de então…), mas também de atrair milllennials de outros países para viver e trabalhar em Portugal.
E não é difícil de os convencer. É preciso realçar as nossas qualidades e especificidades, as mesmas que têm levado a que cada vez mais multinacionais tecnológicas escolham Portugal para localizar parte das suas atividades, incluindo nas áreas da I&D e dos serviços intensivos em conhecimento (knowledge intensive services). Desde logo, a qualidade das infraestruturas disponíveis, quer físicas (rede viária, aeroportos, centros de I&D, entidades de ensino superior, rede de incubadoras e transferência de tecnologia, etc.) quer digitais (Internet de nova geração, serviços públicos online, etc.). Depois, o ambiente de trabalho internacional e multicultural, em especial nos meios urbanos, e a abertura para adotar e utilizar novas tecnologias (early adopters).
Também importante é o custo de vida em Portugal, mais competitivo que a generalidade dos países europeus e com uma oferta mais “atrativa” para os millennials (clima, gastronomia, segurança e estabilidade, tolerância e diversidade multicultural, etc.). Além, claro, da existência de um ecossistema de empreendedorismo em crescimento, jovem e bastante qualificado, em especial nas engenharias, tecnologias e até nas indústrias criativas. Sem dúvida, fatores distintivos do nosso país que se devem valorizar e “vender” nos mercados internacionais.