Conheci António Arnaut na sua casa de Coimbra, na qual gravei com ele uma entrevista para a TSF. Era um apartamento normal, sem vestígios de luxos, no qual poderia viver qualquer outro português com um ordenado médio. Percebendo as minhas reticências em relação ao papel da maçonaria no mundo de hoje, fez questão de me oferecer dois dos livros que escreveu sobre o tema. Percebi, dos poucos contactos que se seguiram, sobretudo ao telefone, que estava perante um homem frugal, guiado por um pouco habitual sentido de serviço à comunidade.
A sua vida, ligada à advocacia, à política e ao PS, partido de que foi um dos fundadores e presidente honorário, é pública. Todos podemos relembrar, ou descobrir, conforme a idade, que foi jurista e poeta. Advogado e servidor do Conselho Superior da Magistratura. Deputado e ministro. Que já estava em campo quando era preciso coragem para combater o Estado Novo – e por isso esteve, claro, na candidatura presidencial do General Humberto Delgado, morto pela PIDE, a polícia política da ditadura. Que foi agraciado pelo Estado, através do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.Mas há uma parte mais privada, aquela em que, e é nesse campo que presto o meu pequeno testemunho público, se remeteu ao anonimato e às coisas de que gostava – escrever: poesia, ensaio, ficção; e à maçonaria, na qual foi Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano.
Não era preciso estar muito tempo com António Arnaut para perceber a sua enorme dimensão humana. Fossem todos como ele e a maçonaria seria, com certeza, percebida de forma diferente pela generalidade dos cidadãos. Era um homem honesto, sempre pronto a participar em tudo que contribuísse para o bem estar dos seus compatriotas. O Serviço Nacional de Saúde, com todas as suas dificuldades actuais, é o maior dos legados. Uma utopia tornada realidade e que tornou mais justa a sociedade nacional.
Morreu um homem generoso. Um grande português.