Apesar da sua crescente relevância internacional, o grupo Altice era visto por muitos como um ‘outsider’ que nunca teria grande margem para crescer em Portugal, por não ter as ligações políticas e familiares necessárias para singrar num país como o nosso.
Mas o mundo dá muitas voltas e o colapso do Grupo Espírito Santo e da Portugal Telecom, no verão de 2014, deu à Altice a oportunidade de trocar o “david” Cabovisão pelo “golias” PT, apanhando muita gente de surpresa. “Estás louco?”, respondeu-me, incrédulo, um colega jornalista quando lhe contei que a Altice se preparava para comprar a PT à brasileira Oi, durante esses meses turbulentos que assistiram ao colapso do maior centro de poder da economia portuguesa.
O certo é que a Altice comprou mesmo a PT e mudou a cultura que existia na operadora e no ecossistema empresarial que dela depende. Bem ou mal, as coisas mudaram muito na PT e nas suas relações com os trabalhadores, os fornecedores e o poder político. E há quem não goste disso.
Mas goste-se ou não da forma como a Altice gere a PT, não deixa de ser extraordinário que um primeiro-ministro ataque uma empresa privada da forma como se tem dirigido ao grupo francês. Todos os argumentos têm servido para António Costa atacar a PT, desde dizer alto e bom som que não é cliente da operadora, afirmar que gosta da linha editorial da TVI tal como está ou acusar o SIRESP de falhar nos incêndios. O que explica este inaudito ataque público do primeiro-ministro ao grupo Altice?
Provavelmente, será a forma que o chefe do Governo encontrou para dizer à Altice para se “portar bem”. A Altice quer comprar a TVI, a principal estação de televisão portuguesa? Fica desde já a saber que estar de más relações com o Governo acarreta dissabores. Costa estará assim a fazer em público o que eventualmente não terá conseguido fazer em privado, no recato dos bastidores e por intermédio de um qualquer emissário, como é habitual fazer-se em Portugal.
Resta saber o que ganha o País com esta forma de governar, onde a política se imiscui nos negócios em nome de um alegado interesse nacional que mais não é do que a defesa de interesses instalados.