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Ramalho: Novo Banco tinha mais de 6 mil milhões de crédito com imparidades nas mãos de cinco devedores

“Nós tínhamos mais de 6 mil milhões [dos créditos com imparidade] nas mãos dos cinco maiores detentores de crédito do banco. Hoje temos menos de metade disso. E os três maiores devedores do banco todos eles estavam acima de mil milhões e neste momento só temos um que está acima dos 500 milhões”, revelou António Ramalho no programa Conversa Capital.
Cristina Bernardo
8 Abril 2018, 16h12

O presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, disse na entrevista à Antena1 e ao Jornal de Negócios, que “89% das nossas imparidades são para empresas”.

“Nós tínhamos mais de 6 mil milhões [dos créditos com imparidade] nas mãos dos cinco maiores devedores do banco. Hoje temos menos de metade disso. E os três maiores devedores do banco todos eles estavam acima de mil milhões e neste momento só temos um que está acima dos 500 milhões”, revelou António Ramalho.

O CEO do Novo Banco reforça que “tudo isso está a ser reduzido”, acrescentando que “naturalmente isso é feito por pagamentos, é feito com vendas de créditos, algumas com prejuízo”. Mas na essência, diz, “o que se verificou é que as geografias mais afectadas não eram portuguesas. Foram os investimentos feitos em imobiliário no Brasil e em Angola”.

“Tivemos também alguns efeitos negativos pelo facto de estarmos muitos expostos a um sector que teve dificuldades, do ponto de vista de algumas das empresas, que é o sector da Construção Civil e Obras Públicas”, explica.

O presidente do banco que apresentou recentemente prejuízos de quase 1.400 milhões de euros fruto da constituição de imparidades de ligeiramente acima de dois mil milhões de euros, disse na entrevista ao programa Conversa Capital, que será transmitida hoje na RTP2, que o Novo Banco era hoje um banco sustentável. “Julgo que não dúvidas nenhumas sobre a sustentabilidade do Novo Banco porque 80% dos custos com imparidades, são custos que existem sobre ativos que estão protegidos [pelo mecanismo de capital contingente do Fundo de Resolução]”.

Ou seja, o mecanismo de capital contingente que chama o Fundo de Resolução a injectar dinheiro caso as perdas com determinados ativos ponham o rácio de capital a descer abaixo de determinada percentagem (12,75% de CET1), é essencial para que o Novo Banco seja sustentável. Isto é a primeira vez que é assumido. Sem o Fundo de Resolução a assumir esses ativos o banco não era viável.

António Ramalho diz também que destes 80% de imparidades, “78% dizem respeito a ativos que já tinham imparidades em 2015. Isto é, ativos que já eram considerados problemáticos em 2015. O que tem acontecido é que este conjunto de activos que faz parte do legado que a instituição possui, pelas diversas circunstâncias do mercado, não tiveram o nível de recuperabilidade que era esperado”, justifica o presidente do banco.

O presidente do Novo Banco explica a questão do Novo Banco ser ‘tão mau’ ao nível da qualidade dos ativos. “A distinção maniqueísta banco mau e banco bom engana a verdadeira distinção entre as duas instituição, que era na altura, a de ‘banco normal versus BES, banco do Grupo Espírito Santo’. O Novo Banco teve de sofrer as consequências inevitáveis que daí decorrem”, disse.

“É óbvio que o banco tinha problemas específicos ao nível dos recursos humanos, ao nível reputacional que tinham a ver com os lesados. Mas a verdade é só uma. O banco provou a sua viabilidade ao longo destes três anos. Nenhum outro banco na Europa, nas mesmas circunstâncias, consegui preservar os recursos, conseguir preservar a sua operação. As próprias contas de 2017 são um sintoma de alguns elementos muito positivos. A viabilidade está mais do que provada”, garante Ramalho.

“Este banco há três anos atrás era um banco condenado, que foi autopsiado, foi escrutinado, foi auditado, e neste momento é um banco à procura da normalização e logicamente é um banco cujo primeiro trabalho é de reestruturação”, revelou o CEO do banco na mesma entrevista. Falava da reestruturação de colaboradores, e daquilo a que chamou “a redução das partes negras da sua atividade”.

“Hoje, mais do que um banco viável, é um banco essencial à economia portuguesa. Este é um banco cuja a atividade de crédito a empresas representa 64%” reforça António Ramalho.

Portanto para o CEO do banco os prejuízos apresentados em 2017 não colocam dúvidas sobre a sustentabilidade do Novo Banco.

O banco “decresceu 162 balcões e teve uma redução de 1.823 colaboradores, dos quais 608 no último ano”, disse. “Nós neste momento, dados de fevereiro, temos 5.457 trabalhadores e o nosso objetivo é chegar a cerca de 5.000”, explicou o presidente da instituição.

“Em balcões neste momento temos um target, com base nos estudos que temos, de ficar com 400 balcões. O que implica eliminar cerca de 60 balcões”, revelou Ramalho. “O período que temos para fazer isto são três anos, mas estamos com pressa de ser um banco desafiante, de sermos um banco rejuvenescido”, conclui.

António Ramalho diz que lhe pesa nos ombros o dever de viabilizar o Novo Banco

Sobre a eventual concorrência desleal nas injeções de capital feitas pelo Fundo de Resolução, relativamente aos outros bancos, António Ramalho confessou que não se esquecia o que “o apoio deste banco é feito por um Fundo de Resolução, que em parte onera os bancos dos sistema, incluindo o nosso”.

“Sei que sob os meus ombros pesa esse dever de viabilizar a instituição e de assegurar que no mercado nacional, onde concorro com os meu colegas, mas também no mercado ibérico, ou sobretudo no mercado de Espanha onde preservámos a operação, devemos criar valor para que a venda dos 25% do Novo Banco seja o mais bem sucedida possível, e da melhor forma possível”, confessou, adiantando que “aliás aí há uma grande conjugação de interesses entre os dois acionistas, Lone Star e Fundo de Resolução”. Ramalho reforça que “o alinhamento dos interesses é evidente. É uma das qualidades que o mecanismo tem, que é o de alguma maneira alinhar os incentivos entre as duas partes, para obter o melhor resultado de uma transação futura”.

Sobre se foi um mau ou um bom negócio, o CEO do banco diz que “julgo que é o negócio possível. Não há negócios perfeitos. É um negócio que tem como características básicas uma partilha de responsabilidades entre accionistas em relação àquilo que era a situação de partida do banco. Não foi feita uma venda em que a Lone Star pagou ao Estado, a Lone Star investiu no Novo Banco. E o Fundo de Resolução ficou com 25% sem ter de aduzir mais fundos. Está agora a ser solicitado para o fazer, mas não deixará de ter uma participação de 25%”.

“O maior beneficio que podemos tirar de todo este investimento é a criação de valor para o 25% e para os 75%. Nisso estarão todos de acordo, quer a Lone Star, quer o Fundo de Resolução. O valor de venda dos 25% do Fundo de Resolução pode de facto ser recuperado”, disse o banqueiro.

Questionado sobre a factura que o Novo Banco tem para os contribuintes, isto porque é o Estado que empresta ao Fundo de Resolução nacional para este injectar no Novo Banco, Ramalho diz que “mais uma vez, o que é importante para os contribuintes portugueses, é a criação de valor para que os 25% dos Fundo de Resolução no Novo Banco sejam valorizado o mais depressa possível, e seguramente ao melhor preço possível. Espero que no futuro, quando for avaliado pelos contribuintes portugueses, que façam a conta entre o que pagaram e o que receberam”.

Para o valor que Fundo de Resolução é chamado a injectar, de cerca de 792 milhões de euros, de acordo com o anunciado por Ramalho na apresentação de resultados, os contribuintes portugueses, vão emprestar 450 milhões de euros. Não sem antes a Oliver Wyman, tal como anunciado pelo Económico em primeira-mão, confirmar o valor que é pedido ao Fundo de Resolução.

O Fundo de Resolução vai voltar a ser chamado no futuro para capitalizar o Novo Banco? A resposta é: depende

Esta questão é também abordada na entrevista. “O mecanismo de capital contingente depende das perdas [desvalorização dos ativos] e dos rácios [de capital]”, começa por explicar o CEO do banco. “As perdas dependem das imparidades e das vendas. Estas vendas não podem ser feitas sem o acordo do Fundo de Resolução, que é o outro acionista”, adianta.

“Isto significa basicamente que eu consigo sempre estimar perdas com alguma precisão, mas não consigo estimar rácios (de capital)”, ressalva. Face a essa circunstância “é um assunto [a possibilidade de o Fundo de Resolução ser chamado a pôr mais dinheiro no Novo Banco] que nós não devemos nem tentar antecipar, nem descartar as possibilidades de isso acontecer”, avisa. para depois dizer que “vai depender desta conjugação entre os rácios e as perdas. As perdas são maiores do que aquilo que foi solicitado”, disse Ramalho.

Sobre se o Novo Banco vai continuar a apresentar prejuízos, António Ramalho diz que “não consigo antecipar já os resultados do próximo ano. Mas faremos tudo o que pudermos para o banco rapidamente voltar aos lucros”.

Mas, acrescenta, “vou lhe dizer, não estou num sprint de lucros, estou numa maratona de sustentabilidade. Este banco precisa de sustentabilidade a prazo. Todo o sistema financeiro precisa de sustentabilidade a prazo”, concluiu.

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