Jorge Jesus é um treinador de muita qualidade e tem feito um bom trabalho no Sporting. Dentro do campo. Fora dele, já é mais difícil entender algumas opções no mercado durante estes três anos em Alvalade, em que sempre pareceu usufruir de uma boa dose de autonomia. Entre outros, dou o exemplo de Alan Ruiz – contratado naquele negócio que envolveu Frederico Ruiz, o irmão, logo cedido ao…Sintrense. Fica complicado compreender a insistência num futebolista que não tinha capacidade para titular, como ficou provado e já depois de alguns meses de trabalho na época anterior.
Falo nesse caso paradigmático para insistir num ponto: no Sporting, Jorge Jesus continuou a escalada ascendente começada em Leonardo Jardim e depois Marco Silva, todos eles boas escolhas e sem comparação com o que era norma em Alvalade nos anos imediatamente anteriores à chegada de Bruno de Carvalho. Desde Paulo Bento que o Sporting não tinha um técnico acima de qualquer suspeita. Neste ponto, compreenda-se que não estou a fazer a apologia do atual presidente. Estou, simplesmente, a dar uma opinião que pode ser consubstanciada em números e está à vista de uma análise desapaixonada. É só de futebol que estou a falar.
Serve isto para dizer que Jorge Jesus se encontra colocado, nesta altura, perante um momento decisivo da sua ligação ao Sporting. Depois de três anos, em que apenas conseguiu ganhar uma Supertaça (num jogo, com o Benfica, depois de Marco Silva, em 2015) e, agora, uma Taça da Liga (nas grandes penalidades, com o FC Porto, esta época), joga em três frentes com um plantel reduzido quanto a avançados fiáveis e vai ter de fazer opções sensíveis.
O momento aparentemente mais tranquilo está reservado para este descanso de duas semanas pelos compromissos das seleções. E digo aparentemente porque estes jogos, ditos ‘amigáveis’, podem sempre trazer más notícias tantos são os jogadores envolvidos – e, apesar disso, Jorge Jesus bem podia ter-se poupado no lamento às requisições dos diversos seleccionadores. O calendário internacional é conhecido. Quem não está preparado para ter uma equipa de bons futebolistas, internacionais pelos seus países, o melhor é ir treinar um clube de nível inferior. Aí, deixa de ter esses problemas que, num escalão mais acima, Zidane, Mourinho, Valverde ou Klopp conhecem ainda melhor. São escolhas da vida.
Voltemos a Alvalade.
O Sporting está em três frentes e Jesus tem de escolher uma estratégia. Qual será? Bater-se em todas elas sempre em alta voltagem, com a melhor equipa disponível, sem poupanças nem calculismo, correndo todos os riscos? Ou eleger prioridades e arcando com a responsabilidade inerente?
Não seriafácil estar no lugar do treinador do Sporting, a quem a doença comunicada por Bruno de Carvalho parece ter deixado mais desacompanhado nesta fase decisiva.
Por um lado, a luta pela Liga recomeçará em Braga, no dia 31. Esse é um momento determinante. Ganhando, Jesus tem grandes hipóteses de levar o Sporting pelo menos ao segundo lugar, que pode dar acesso à fase final da Champions (‘bastaria’ ganhar ao Benfica). Até, mais remotamente, porque isso não depende só da sua equipa, ser campeão (seria preciso que o FC Porto perdesse na Luz e ainda escorregasse noutro qualquer local). Perdendo, ou até empatando, a Liga para o Sporting começaria a ter como meta ficar à frente do Sp. Braga…
Ao mesmo tempo, na Liga Europa, o Sporting vai defrontar o Atlético de Madrid, uma das melhores equipas da zona UEFA nos últimos quatro anos, que aumentou o seu poderio contratando Diego Costa para fazer companhia a Antoine Griezmann. O Sporting pode ganhar? Poder, pode. Mas, realisticamente, a equipa de Simeone é favorita. Este sorteio, por esse lado, talvez tenha dado uma ajuda a Jesus. Retirou pressão. Contra qualquer das outras equipas a eliminação seria um fracasso. Contra o Atlético Madrid, favorito ao título, haverá mais ponderação na hora do balanço.
Resta a outra frente: a Taça de Portugal. A meia-final com o FC Porto é uma espécie de final antecipada (segue-se, para a equipa que ganhar, Aves ou Caldas…). O Sporting entra a perder (0-1, no Dragão, no primeiro jogo). E aí Jorge Jesus não pode fazer poupanças. Se conseguir eliminar o FC Porto, mesmo terminando a Liga em terceiro, o Sporting terá feito uma boa temporada, com dois títulos (ganhando depois no Jamor, claro). À distância, até por ser apenas um jogo, este parece ser o momento-chave da época.
Por muitos motivos, vai ser interessante perceber como o treinador leonino irá gerir estas sete semanas, cujo foco estará em abril: 5 (Atl. Madrid, fora); 12 (Atl. Madrid, casa) e 18 (FC Porto, em Alvalade, Taça), com o Belenenses (fora), a 15, pelo meio. O jogo com o Benfica, sempre relevante para qualquer das equipas, será apenas a 6 de maio. Haverá tempo. O problema estará em que se o jogo de Braga correr bem para o Sporting será complicado assumir poupanças. Nisso, tanto Sérgio Conceição, no FC Porto, como, especialmente, Rui Vitória, no Benfica, estão melhor, mais focados, com um calendário linear.
Pergunta: Jorge Jesus estará a pensar nestes dez jogos que faltam (onze, se houver final na Taça de Portugal, ou ainda mais se conseguir superar o Atlético de Madrid) à luz da experiência vivida naqueles poucos e, para ele, terríveis dias de maio de 2013, quando, ao comando do Benfica, perdeu Liga, Europa e Taça de seguida; ou terá feito ‘reset’ para repetir a ambição sem complexos nem fantasmas?
Seja qual for a opção, não restam dúvidas: a relação do Sporting com o seu treinador, e vice-versa, depende muito dos resultados a obter nestas sete semanas já bem definidas no calendário.