Há cerca de um ano, em entrevista à Rádio Renascença e ao Público, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, não calou o otimismo relativamente às eleições a realizar em quatro países da União: Holanda, França, Alemanha e Itália.
Santos Silva defendia que essas eleições poderiam “significar o fim dessa tendência crescente do populismo na Europa”. Como suporte argumentativo recorria à eleição de Donald Trump e ao Brexit. Dois exemplos que, na sua ótica, tinham tido o condão de tornar os cidadãos europeus mais conscientes relativamente ao perigo do populismo e do nacionalismo. Uma revisitação da “teoria da vacina” de Henry Kissinger, que, na anarquia que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, defendia que a instauração de um regime comunista em Portugal serviria de antídoto para outros países do Sul da Europa.
Terminado o mencionado ciclo eleitoral, é tempo de analisar a qualidade da avaliação diagnóstica ministerial. Uma avaliação que toma em conta os resultados conseguidos pelos principais partidos populistas e nacionalistas.
Assim, na Holanda, o partido unipessoal de Geert Wilders, o Partido para a Liberdade (PVV), embora não vencendo as legislativas, terminou na segunda posição e logrou 20 deputados, uma subida de 5 relativamente ao ato anterior.
Quanto à França, apesar do sistema não ser proporcional, mas maioritário a duas voltas, e malgrado o vendaval En Marche, Marine LePen e a sua Frente Nacional elegeu 8 deputados. O quádruplo dos que tinha na anterior legislatura.
No que concerne à Alemanha, a Alternative fur Deutschland (AfD) conseguiu entrar no Budenstag pela primeira vez e fê-lo de forma expressiva ao eleger 94 candidatos, tornando-se a terceira força parlamentar.
Finalmente, as eleições em Itália resultaram numa clara manifestação de força do populismo, pois o Movimento 5 Stelle de Beppe Grillo e Luigi di Maio foi o partido mais votado e a Liga do Norte de Matteo Salvini levou vantagem em relação à sua aliada, a Força Itália de Berlusconi e Antonio Tajani. Resultados que vão exigir ou a convocação de novas eleições ou negociações em que os populistas terão assento privilegiado à mesa.
Os dados referidos não abonam a favor da capacidade de prognóstico do ministro Santos Silva. O seu otimismo era claramente exagerado. Algo dificilmente aceitável, uma vez que se trata do condutor da política externa portuguesa. Alguém que deveria ser mais rigoroso no traçar de cenários prospetivos. A realidade não se compadece com “wishful thinkings”.
Por isso, em vez de colocar a tónica na consciencialização da ameaça populista, talvez devesse ter equacionado se as sucessivas manifestações de vitalidade populista não indiciariam que os partidos habituados à sala e aos corredores do Poder estavam a perder contacto com a realidade. Com a vida do cidadão comum.
Perspetiva desajustada, prognóstico enviesado! A principal razão para se fingir ignorar a força do populismo em Portugal.