Tanto se tem falado de bitcoins, a moeda da internet, que irá substituir o dinheiro como o conhecemos hoje, mas que dinheiro é este que se pode “cultivar”?

A Bitcoin é uma criptomoeda, uma moeda digital, com base em algoritmos e elementos matemáticos altamente complexos que controlam a existência desta moeda, promovendo a sua descentralização, o anonimato nas transações e a egurança das mesmas, por assentar numa rede blockchain.

Porquê bitcoins? O facto de ser uma moeda digital permite que as suas transações sejam tão simples como enviar uma mensagem no whatsapp, no sentido de ser rápido, simples e despreocupado, sem pagar comissões, sem justificações, uma vez que, neste sistema, todos os compradores e vendedores se encontram no anonimato.

Existe ainda a vantagem de, ao ter bitcoins, nunca se saber o seu valor amanhã, ou na próxima hora. O seu valor pode simplesmente duplicar ou triplicar. Em contrapartida, pode descer drasticamente também, no entanto trata-se ainda de uma moeda em crescimento.

Assim sendo, com tantas vantagens porque não cultivamos todos e ficamos todos ricos? Simples, o primeiro obstáculo a sermos todos milionários em bitcoins é que estas moedas estão limitadas a 21 milhões de “moedas”, existindo neste momento 12 milhões já mineradas. A mineração é um pouco mais complexa na sua explicação, mas numa perspetiva simplista, cada transação (compra, venda ou transferência) é registada num documento, quando esse documento está cheio, é adicionado a uma rede de documentos, no entanto aquele tem de ser convertido/codificado para que ninguém o consiga alterar ou roubar.

Este processo de conversão é um processo matematicamente complexo, ao ponto de serem necessários computadores superpotentes para executar essa operação, enquanto fazem um grande consumo energético. Acresce que há uma enorme concorrência aos documentos para convertê-los, contudo apenas quem conseguir fazer uma conversão perfeita ganha (o primeiro), e ganhar aqui significa ganhar 12,5 bitcoins (em fevereiro de 2018 seriam cerca de 80 mil euros).

Do meu ponto de vista, a mineração e detenção de bitcoins é muito interessante e aliciante, no entanto, não nos esqueçamos que estamos, de novo, a esconder o dinheiro debaixo do colchão (num sentido figurativo). Isto é, as bitcoins passam a estar guardados numa carteira virtual, ou no próprio computador, visto não existirem bancos nesta realidade.

Com tantos ataques que temos ouvido nos últimos tempos, como o Wannacry, informações confidenciais que por vezes são roubadas e divulgadas, que segurança temos? E se investirmos muito em bitcoins e de repente formos vítimas de um “assalto informático”, e se, sem querer, apagarmos os nossos bitcoins no computador? Até quando a inteligência artificial, tão emergente nestes dias, não irá quebrar esta rede ultra segura?

A meu ver, estas moedas são como ações, em que o seu valor oscila todos os dias, ou até a todas horas, pelo que a sua queda poderia representar algo desastroso, como diversos episódios bem conhecidos o ilustram.

Adicionalmente, até quando ficarão os governos indiferentes a este tipo de dinheiro que não paga impostos, que não tem justificações a dar, que se traduz num ótimo chamariz para o branqueamento de capitais? Nesse futuro, a curto ou longo prazo, em que os governos começam a olhar com preocupação para a utilização destas moedas, que tipo de leis poderão surgir? Deixará de ser legal a sua utilização?

Já existem referências de alguns países – Brasil, Indonésia, China, Vietname, Israel, Marrocos, Bolívia, Argélia, Equador, Bangladesh e Nepal – terem feito tentativas de banir este tipo de moeda, embora sem sucesso. A própria Bitcoin afirma no seu website que a sua moeda não é oficialmente legal. “Bitcoin is not a fiat currency with legal tender status in any jurisdiction”.

Penso que esta moeda não tem um futuro promissor, pela sua instabilidade, falta de segurança e risco em possuí-la, bem como pelo seu futuro tão incerto, cheio de dúvidas e potenciais conflitos. Será que é mesmo o futuro?